Liberalismo Utópico, à moda da Áustria

Por Marroni

Por que ainda insistem nestas teses ingênuas e pervertidas dos economistas austríacos e assemelhados?

Dizer que o estado se alia ao grande capital para sufocar o lumpen-empresariado, dizer que o estado quer tirar os pequenos heróis empreendedores do “mercado” para gerar lucros aos monopólios, e ainda dizer que isto é marxismo ou socialismo, não é apenas desonesto e estúpido, é criminoso.

O estado é agente do capital. Chamar os bancos de para-estatais é querer dizer que os bancos estão a serviço do estado quando de fato é exatamente o contrário. O estado existe para defender a propriedade e o predomínio do capital, hoje cada vez mais monopolista. O estado moderno é causa e efeito do capitalismo. Promoveu a acumulação privada de capital mercantil nos estados absolutistas que desembocaram na revolução industrial.

A evolução do capitalismo leva a concentração de propriedades e rendas, a centralização de poder em monopólios e oligopólios, dos quais o estado é promotor e protetor, não são acidentes, “erros” ou ruídos dissonantes entre as liras harmônicas do Éden-mercado. Estado e corporações são suas pedras fundamentais.

A forma social da mercadoria capitalista – a verdadeira alienação que fratura e decompõe produtores e consumidores em peças da máquina de acumulação – é, sob a ótica liberal, neutra e a-hstórica, natural e dada. Quando de fato inversamente, a mercadoria torna-se o sujeito abstrato, o agente social despersonalizado que controla e condiciona os sujeitos humanos concretos. As relações deixam de ser entre os (tão aclamados) indivíduos que se tornaram coisas, governados por coisas que se tornaram sujeitos; As relações são entre as mercadorias que submeteram os homens e suas existências às suas leis impessoais. Todos passam a ter preço e são cambiáveis pelo dinheiro, a suprema mercadoria.

A ânsia liberal se aproxima muito mais do anarquismo em sua luta contra o estado, no desejo infantil de restaurar o paraíso perdido do “mercado puro”, que só existe como fantasia mitificada. Muito parecido mesmo com o comunismo idealizado, etapa posterior ao socialismo, onde o estado será suprimido. Utopias.

O nome que os liberais não querem pronunciar é capitalismo. Vivem pregando a “economia de mercado” como se isto significasse algo diferente do capitalismo. Vivem dizendo que estado e corporações são elementos estranhos ao mundo que idealizam porque são pessoas abstratas que se opõem, do mesmo modo que a mercadoria, aos indivíduos.

Aqui entra a indigente Ayn Rand com a sua apologia do indivíduo, mito elevado a condição de entidade sacralizada, deificado. O ateísmo de Rand é uma fraude porque ao eleger o “indivíduo” como o novo deus, egoista, carnal e senhor do universo, pretende substituir a abstração monoteísta abrâmica. Não percebem que não há indivíduos fora da sociedade e que em um nível mais fundamental ainda, o indivíduo é uma construção social. Por habitar no mundo capitalista e submetido às instituições capitalistas, é mais mercadoria do que humano.

Enfim, não percebem, nesta inversão epistemológica de seus conceitos, que o que defendem é a fonte dos problemas que denunciam e o que criticam é o caminho, não para o liberalismo, mas para a liberdade.

Mas não é Freud quem pode explicar melhor estas profundas deficiências cognitivas do Liberalismo Utópico. É Darwin.

Luis Nassif

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