O baixo perfil acadêmico dos economistas brasileiros

Do blog do Bruno de Pierro

O baixo perfil acadêmico dos economistas brasileiros

O prestígio internacional de economistas junto à comunidade leiga é significativamente superior ao dos cientistas e acadêmicos de outras áreas do conhecimento. No caso dos economistas brasileiros, isso não é diferente. Os economistas de maior prestígio internacional são aqueles que aparecem frequentemente na mídia leiga e que, surpreendentemente, também gozam de grande fama no ambiente acadêmico. Essas são algumas das conclusões da pesquisa The low academic profile of Brazilian economists, de autoria de Rogério Meneghini, coordenador da Scientific Electronic Library Online (SciELO), e publicada em março nos Anais da Academia Brasileira de Ciências.

Meneghini mediu o prestígio dos economistas brasileiros junto aos leigos por meio da presença na mídia e por consultas à opinião pública. Já o prestígio acadêmico foi avaliado através de bases de dados de indicadores de publicações e citações de artigos acadêmicos, entre eles o índice-h, que mede simultaneamente publicações e citações. Para saber mais sobre o índice-h, recomendo a leitura da reportagem “Os limites do índice-h“, publicada em maio na revista Pesquisa FAPESP.

“Um achado relevante foi que, para economistas internacionais, tanto o prestígio entre os leigos como o entre os acadêmicos são elevados e, aparentemente, mutuamente dependentes. Entre os economistas nacionais o prestígio entre os leigos não é acompanhado pelo prestígio acadêmico. Este é significativamente baixo, a despeito de que seus currículos frequentemente denotam títulos de doutor por universidades internacionais de excelência. Os dados apesentados indicam uma baixa intensidade de vida acadêmica nas universidades brasileiras”, explica Meneghini no artigo.

Segundo ele, a presença de economistas na mídia não depende unicamente das credenciais que a academia pode conferir, mas também da capacidade de interagir com sagacidade e destreza com o público leigo, ainda que o economista não tenha sequer formação na área, e seja um “autodidata”. Por exemplo, para ser Ministro da Fazenda não é necessário ser economista. Dos 13 mais renomados ministros dos últimos 15 anos, apenas 6 tinham diploma de graduação em economia. Nos Estados Unidos a coisa é semelhante: das 12 pessoas que comandaram a Secretaria de Tesouro desde 1972, metade tinha formação em outras áreas (direito, engenharia, sociologia e linguística). Entre os ministros que ocuparam a Fazenda e que não tinham formação econômica estão Maílson Ferreira da Nóbrega (1988-1990), Fernando Henrique Cardoso (1993-1994) e Rubens Ricupero (1994-1994).

O trabalho de Meneghini foi distinguir os economistas que cumprem um importante papel em decisões com repercussão nacional e perguntar o quão importante eles são, ou foram, para a academia. O passo seguinte foi listar 20 nomes, todos com doutorado ou um título equivalente em economia. Do total, 11 obtiveram PhD nos EUA ou na Europa, mas embora tenham iniciado a carreira na universidade, consagraram-se mesmo na política ou nos negócios.

Na tabela abaixo, podemos ver nomes de alguns economistas conhecidos e as respectivas instituições onde obtiveram título de doutor. Podemos ver também o índice-h de cada um tanto pelo Google Scholar, quanto pelo ISI, da Thomson Reuters. O banco de dados do Google cobre um universo maior de documentos, enquanto o da Reuters é mais seletivo, por isso a diferença entre eles.

Por exemplo, em setembro de 2011, o economista Paul Krugman tinha um índice-h de 65 no Google e 38 no ISI. As publicações na mídia leiga são detectadas pelo Google, mas não pelo ISI. Podemos entender, então, que a maioria dos artigos de Krugman, e as citações não estão concentradas na mídia leiga. No caso dos brasileiros, a média de dos índices no Google e no ISI são, respectivamente, 6,85 e 0,9. Notamos, portanto, que a maioria de seus artigos estão concentrados na mídia leiga, indexada ao Google. Sua presença no núcleo das revistas de economia acadêmicas mais seletivas, indexadas pelo ISI, é bastante baixa. Esses economistas, como José Serra e Antonio Delfim Netto, estão mais distantes do ambiente acadêmico, conclui o artigo.

Depois, Meneghini se debruça sobre um outro grupo de economistas, conhecidos internacionalmente e com o atributo de serem muito influentes na mídia. Trata-se de uma lista com os 10 economistas mais influentes da última década, de acordo com uma pesquisa feita pela revista The Economist em fevereiro de 2011 (ver tabela abaixo). O autor verificou, por exemplo, o índice-h de nomes como Keynes, Adam Smith e Alan Greenspan. Podemos ver que a média dos índices-h dos nomes no Google e no ISI é, respectivamente, 42,7 e 16,5. Há, portanto, um forte contraste em relação aos economistas nacionais da tabela anterior. A explicação para isso, segundo Meneghini, é que os economistas internacionais apresentam atividade acadêmica de longa data. E muitos deles receberam Prêmio Nobel em economia. “Ao mesmo tempo, a presença e influência deles no cenário econômico e político são notáveis”. 

A conclusão final de Meneghini é: “Os fracos indicadores cienciométricos em relação aos economistas brasileiros necessariamente indicam a falta de discussões sobre economia no país? Este parece ser o caso das universidades nacionais, mas muito provavelmente outras configurações do think tank podem ser uma compensação relevante para essa falta. Isso pode possibilitar debates que levam a concepções do conhecimento avançado que não está necessariamente circulando no ambiente acadêmico. A criação do Plano Real pode ser um exemplo neste contexto. Portanto, podemos prever que discussões intelectualmente proveitosas acontecem do lado de fora das paredes das universidades, e isso gera conhecimento que não é compartilhado pelo mundo da literatura científica em economia. Se essa alternativa é significante, ela pode explicar por que as universidades dos Estados Unidos e da Europa exercem grande atração para pós-graduandos de economia do Brasil. Elas podem logo perceber que o ambiente acadêmico brasileiro nessa área não oferece os estímulos e desafios encontrados em muitas outras áreas do conhecimento nas universidades nacionais. 

O artigo completo, em inglês, pode ser acessado aqui (clique)

Luis Nassif

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