Do Terra Magazine
A volta do Banco Central de uma nota só
Rui Daher
Erra a equipe econômica do governo. Erra a centralizadora presidente da República. Erram todos que usam uma psicose inflacionária para forçar a elevação da taxa básica de juros.
O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgado ontem, e que manteve a taxa Selic em 7,25% ao ano, joga um João-sem-braço de que, em futuro incerto, mas breve, poderá voltar a caminhar em penosa ladeira acima.
Cede, assim, à pressão que banqueiros, através de seus funcionários economistas-chefes e os consultados de sempre analistas financeiros, faziam diante do ineditismo de um governo que resolvera peitá-los.
Cria com isso trava ainda mais forte do que a que já existe para a nova e sempre inalcançável rodada de investimentos na infraestrutura e na produção. Mais uma vez, se quiser investimentos caberá ao governo fazê-los.
Alguém irá investir tendo como referência um governo que parece mostrar não saber se desenvolve ou sai de cima? Quais serão os temas e dilemas discutidos, hoje, nas tesourarias das principais empresas do país?
O que significará jogar essa pedra de incertezas num momento em que as expectativas para a demanda e preços dos alimentos são de baixa ou estabilidade?
O mesmo para o tão desejado “pibão”, quando sinais positivos já deram as caras. Os estoques formados desde 2010 estão se esgotando. Depois de trimestres encrencados, a formação bruta de capital fixo mostrou recuperação. Mesmo a evolução do PIB, quando anualizada, aponta ao redor de 2,4%. Bem acima do 0,9% de 2012.
Quando usou de todos os recursos, inclusive a intervenção de bancos públicos, para forçar a queda de juros, o governo deveria saber a briga que estava comprando.
Mais: deveria saber que mudar a direção de um Panamax, com 300 m de comprimento, não pode ser feita a qualquer momento da travessia. Com tanta indecisão, teria sido melhor deixar ficar como estava para ver como ficaria.
O brasileiro dá de ombros com muita facilidade para os perrengues da vida. Pela repercussão no setor produtivo, a absorção de uma taxa de juros estratosférica já estava absorvida e servia apenas para lamentos em rega-bofes na FIESP.
Esse equívoco do Copom muda radicalmente as minhas expectativas para o crescimento do PIB, aqui expostas no início do ano.
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