O cenário das eleições no Rio

Por Marco Antonio L.

Do Direto da Redação

Eleições no Rio: jogando os dados

Rodolpho Motta Lima 

A novidade nas eleições municipais do Rio de Janeiro pode se chamar Marcelo Freixo.  Como justificativa de suas pretensões à  Prefeitura, ele apresenta  um elenco de  ações políticas com posturas  de valorização das minorias,tendo-se destacado na condição   de presidente,  na  Assembleia Legislativa, da CPI das milícias, uma tentativa de desmantelamento de um expressivo setor do crime organizado em terras cariocas.   Mas será que ele reunirá mesmo as condições mais adequadas para o Rio?  Confesso que, apesar da simpatia que a candidatura me inspira, fica difícil  qualquer certeza a respeito, dado o emaranhado em que se transformou o nosso quadro político. 

Com todos os percalços – e não são poucos – e as muitas críticas  que a ela se possam fazer, a dobradinha Sérgio Cabral / Eduardo Paes desenvolveu entre nós algumas ações positivas do poder público – as UPAs  e  UPPs,  por exemplo –  e, ao contrário de seus antecessores, os dois tiveram a sabedoria de não bater de frente com o Governo Federal , logrando recursos e apoios  daquela esfera maior, do que resultou, entre outros aspectos, uma cidade menos violenta e que vem recuperando o seu prestígio planetário como polo turístico . Agora mesmo acabou de ser nomeada pela UNESCO como Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana. E notícias dão conta que ela é a cidade mais procurada pelos turistas do mundo inteiro.

Mas o Rio de Janeiro ainda está bem longe de atingir os níveis de qualidade de vida que o operoso povo carioca merece. O  partido a que pertencem Cabral e Paes tem  bem a cara centrista dos dois, não se podendo  esperar  mais do que o que  estão fazendo:  um misto de algumas providências necessárias com outras de pouca efetividade social, amparado em vigoroso marketing promocional, expressivo apoio financeiro e vinculações que alguns consideram questionáveis , uma das quais envolvendo uma suposta ligação – até aqui não comprovada, diga-se –  entre o Governador e o pessoal da Delta.

Ainda assim, se o parâmetro de comparação para a reeleição do Eduardo Paes for a administração anterior de César Maia, não há dúvida de que evoluímos: ficamos livres dos factoides e da verborragia pouco produtiva do ex-prefeito, cada vez mais sustentando  posições direitistas, a ponto de – quem diria? – terminar no DEM . 

Rodrigo Maia, filho de Cesar, e Clarissa, filha de Garotinho – em parceria inimaginável em outros tempos, mas bem de acordo com a época em que vivemos – compõem  chapa de oposição declarada à reeleição de Paes. Vão contar certamente com a quase totalidade  de votos da direita carioca e com uma parcela ponderável do grande fisiologismo que existe entre nós (a outra parcela estará com o atual Prefeito) , além, é claro, de grande parte dos votos evangélicos.   Mas a eleição dos dois “herdeiros” seria, a meu ver, um retrocesso catastrófico para a cidade.

No sistema eleitoral brasileiro, panoramas assim provocam realmente alguma perplexidade e muitas indagações na cabeça dos eleitores.  Princípio por princípio, o chamado voto  da esquerda deveria se encaminhar para  Freixo.  Não há deslizes conhecidos em sua trajetória política, até agora. Freixo também se opõe a Eduardo Paes e tem sérias críticas à forma como   se tem tentado equacionar os problemas do Rio – alega que a Prefeitura virou um balcão de negócios e que a segurança tem problemas não revelados,  afirmando, inclusive, que as milícias continuam crescendo na cidade com uma certa complacência das autoridades. Sua posição deve carrear  significativa carga de votos, amparados pelo prestígio de um grupo de  artistas e intelectuais de notoriedade, como Vagner Montes, Marcelo Cerrado, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros , além de dissidências do PT, que apoia Eduardo .

Há, contudo,  problemas nesse processo eleitoral.  Aonde poderá chegar a candidatura Freixo, que  pertence a um partido de pouca representatividade e mínima visibilidade – o PSOL?  Considerando que, hoje, infelizmente, sistemas de alianças definem eleições e governabilidades,  que apoios adicionais terá  Freixo  em sua caminhada? E que papel acabará por jogar nas eleições? Dissidente do  PT em 2005,   não estaremos diante de um quadro muito parecido com o da candidatura presidencial de Marina Silva, que acabou propiciando sobrevida ao candidato Serra? 

É óbvio que,  se nos contentarmos em sempre optar pelo “menos pior” entre os “possíveis” ,  o processo político não será jamais enriquecido com a seiva das novas ideias. Mas sempre se corre  o risco de acabar no pior cenário.  Marcelo Freixo parece ser  um socialista de pés no chão: não pretende a revolução impossível, mas acena em mexer  nas mazelas sociais do Rio com maior efetividade, a partir da visão ideológica que possui.  Rodrigo Maia e Clarissa dispensam comentários sobre o que (não) esperar dessa  parceria.  Eduardo Paes é a continuidade de quem, a despeito de um DNA político-ideológico  muito discutível, funcionou, para muitos,  melhor  do que os antecessores, principalmente pelo apoio federal, que continua a ter. Há ainda as candidaturas de Aspásia Camargo (PV) e Otávio Leite (PSDB), mas tudo indica que os verdes e os tucanos não terão protagonismo nas eleições cariocas.

São essas as peças desse intrincado jogo político que o  eleitor carioca vai ter que encarar.

Luis Nassif

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