O combate tenaz à intolerância

Nos debates que tenho participado sobre a blogosfera, costumo enfatizar um ponto essencial: não podemos repetir, neste espaço, a retórica da intolerância presente na velha mídia. O diferencial legitimador é a possibilidade de convivência de opiniões múltiplas, o respeito pelo argumento contrário, o aprendizado constante do debate democrático.

Até se entende a radicalização quando o tema envolve partidos. Mas há dois temas em particular que despertam baixos instintos dos debatedores: religião (em geral) e Israel. Aí sobressai uma falta de respeito ampla, uma incapacidade de não recorrer às generalizações.

Tratam-se todos os católicos como se pertencessem ao mesmo time do padre Luizinho, aquela vergonha que serviu a dom Tomaz Vaquero e foi parar em Guarulhos, como bispo. Tratam-se evangélicos e pentecostais em geral como se fossem párias, excluídos do Brasil moderno. Qual a diferença de tratamento do que chamam de “elite branca” contra os “diferenciados” dos modernos-racionais contra os que professam fé? É o mesmo olhar superior, a mesma desqualificação, a mesma distinção de classes: os céticos intelectualizados contra a massa crente.

Nas últimas semanas fui parado várias vezes na rua por evangélicos gratos a um post aqui publicado em defesa da sua religião – e não era de minha autoria. Sofrem também os espíritas e protestantes em geral.

Em relação ao aborto, a mesma coisa. O fato do aborto ser um tema maldito em alguns ambientes – e junto à classe média em geral – não nos permite transformar, neste espaço democrático, os críticos do aborto em vilões. Debata-se o tema, critiquem-se posições, mas sem criminalizar o debatedor.

Cria-se uma situação paradoxal: o fulano A é aliado, porque vota no PT; mas o mesmo fulano A é inimigo porque é contra o aborto; embora ele seja excelente por ser a favor dos temas sociais; não se esquendo que é horrível por ser católico praticante.

Outra questão é o tema Israel. Incluí-se na crítica (necessária) ao vergonhoso governo de Israel uma generalização desnecessária a todos os judeus. Se a questão é dividir o mundo entre bem e mal, entre “nós e os inimigos”, é só levantar os judeus ilustres que ajudaram a formar o arco de esquerda no país e no mundo. E saber separar os judeus conservadores respeitáveis de oportunistas que comprometem a imagem da colônia – como o cônsul honorário do Rio.

Mais que tudo, é fundamental o respeito à opinião contrária.

Nossa legitimação – como nova mídia – decorrerá acima de tudo da tolerância, da capacidade de acolher opiniões contrárias democraticamente, de praticar diariamente o exercício da democracia. O melhor debate é aquele em que, no final, os dois lados saem com um novo olhar sobre o tema debatido, é uma troca de argumentos que exige raciocínio e grandeza para acolher as boas ideias do lado contrário.

Essa é a maior arma contra a sombra tortuosa do preconceito que ameaçou o país nas últimas eleições, no último vagido animalesco do macartismo que quase sufocou a democracia brasileira.

Por Heleno Luís

(…) o da Teologia da Missão Integral, irmã protestante da Teologia da Libertação e faço coro com o Zé Eduardo. As pessoas que ele citou são de grande inspiração e admiração  para mim. Modelos vivos para qualquer cristão ou ateu. Às vezes me sinto bem desconfortável também aqui no blog. Faz três anos que o freqüento diariamente na peregrinação pelos blogs que me é necessária e vital: aqui, Azenha, PHA, Edu Guim, Rodrigo, Brizola, Carta Maior, Observatório…

      Evito ao máximo comentar, apenas leio os comentários e os uso como base de reflexão pessoal. Há uma anti-religiosidade tremenda e temerária por aqui. Além de uma incapacidade latente, ou má vontade de alguns de entender, ou ao menos respeitar questões de fé. Fico imaginado o que é que alguns fariam, se pudessem, com os que crêem. Sinceramente é de dar medo. Me vem à memória Nero, Noite de São Bartolomeu, Holocausto, Cruzada Antiislâmica do Bush, e por aí vai. Acho paradoxal falar em atitude progressista, postura de esquerda, outro mundo possível, quando se marginaliza, se exclui, se estigmatiza, às vezes de forma brutal até, todo um segmento por conta de fé e prática.

      Aqui nesse blog aprendi a respeitar mais ainda a opinião de gente que não tem muito a ver com meu modo de vida, às vezes nada a ver comigo. Mas fizeram diferença no meu modo de pensar. E os respeito ardorosamente, com admiração.  Há pessoas, comentaristas, que me fizeram sinceramente ver muitos aspectos diferentes, muitos outros ângulos, outras nuanças de temas de fato bem controversos para meu mundo, meu microcosmo cristão-protestante-progressista-hétero-paulistano-suburbano-classemédia. Mas isso não quer dizer de forma alguma que eu concorde com tudo o que eles pensam, e diga amém para a totalidade de suas intervenções. Há questões que são frontalmente contrárias à minha fé e prática, mas não interferem de forma significativa na minha relação com o outro ou com o mundo e por isso posso conviver em paz. Sem respeito à divergência minha fé é invalida, e minha militância política também

      Há os que dizem não crer em Deus ou num deus, mas agarram-se aos seus dogmas científicos, humanistas, suas crenças políticas, etc, de forma mais ardorosa que muitos fundamentalistas religiosos, e o pior é que nem se dão conta disso. Fica um tanto patético. O crente moderado e o cético capaz de esganar um por sua “fé”.

     “Dom Paulo e Zilda Arns, Dom Hélder Câmara, Dom Mauro Morelli, Dom Pedro Casaldáliga, padre Júlio Lancelloti, frei Beto, Pastoral da criança, da terra, Comunidade Eclesiais de Base, Campanha da Fraternidade e outros religiosos que enfrentaram poderosos e risco de vida são esquecidos”. Eu acrescentaria ainda: Pastor Jaime Wright (Brasil Nunca Mais), Dietrich Bonhoeffer,  Dr. Martin Luther King Jr., Visão Mundial, Pacto de Lausanne, Missão Portas Abertas….

Luis Nassif

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