O debate Pondé-Nicolelis na Flip

Nassif:

Este “duelo” entre a água e o vinho deve ter sido um espetáculo, ainda por cima naquela beleza que é Parati.

Do iG

Debate na Flip contrapõe ceticismo filosófico com ciência

‘O que humaniza o ser humano é o fracasso’, disse Luiz Felipe Pondé, em conversa com o neurocientista Miguel Nicolelis

Estevão Azevedo, especial para o iG Cultura | 07/07/2011 23:22

Para o neurocientista Miguel Nicolelis, uma possibilidade. Para o filósofo Luiz Felipe Pondé, um risco. A última mesa da quinta-feira (dia 7) da Flip 2011 teve duas performances inspiradas e um público pronto a responder com palmas ou risadas às muitas frases de impacto.

Performances enriquecidas pela oposição entre o ceticismo radical de Pondé – “o que caracteriza o ser humano é o sofrimento” – e a crença no poder da ciência de Nicolelis – “estamos próximos do instante em que o cérebro primata vai se libertar dos limites físicos do corpo”. Ponto para a curadoria, que além de acertar na escolha dos nomes, reservou o horário mais nobre do dia para o encontro.

Nicolelis começou sua apresentação – cheia de recursos audiovisuais – descrevendo o cérebro como “prisioneiro desse corpo de primata que tem ações limitadas” e suas pesquisam que buscam tornar o cérebro capaz de comandar máquinas robóticas.

Proeza que pode significar a recuperação dos movimentos para pacientes com lesão medular. A meta, afirmou, é fazer a primeira demonstração pública de uma prótese de corpo inteiro, comandada por uma criança paraplégica, na Copa de 2014 – “um gol da ciência brasileira”.

A voz embargada e o conteúdo do anúncio – em tom de promessa – fizeram o público entusiasmar-se. Não à toa, a ótima mediadora, a jornalista Laura Greenhalgh, em sua próxima intervenção, questionou-o sobre o uso que faz de imagens religiosas para explicar conceitos científicos. Nicolelis defendeu o uso, por conta de sua eficácia na transmissão de conhecimentos complexos para leigos.

Ciência versus religião

O que para Nicolelis conduz a uma vida melhor, para Pondé significa um perigo. A necessidade do ser humano de ir além de si mesmo, explicou o professor de ciências da religião, casa-se com os projetos de uma engenharia político-social que, em última instância, tem muito a ver com eugenia.

Baseado no pensamento do filósofo alemão contemporâneo Peter Sloterdijk de que a eugenia – na forma da busca contínua do ser humano de se superar e diminuir seu sofrimento – está no cerne do pensamento científico e filosófico ocidental, Pondé alertou: “os cérebros podem ser enormes máquinas de produção de crenças monstruosas”.

Em algo, no entanto, o cético e o otimista concordam: a ciência nunca será capaz de criar máquinas com consciência humana.

Luis Nassif

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