O desafio do desemprego estrutural

O desemprego estrutural é o grande desafio a ser enfrentado no capitalismo contemporâneo. As inovações tecnológicas produziram uma gigantesca massa de pessoas que sobrevivem nas franjas do sistema. Na Europa, são muitas vezes chamados de “mileuristas” – pessoas, geralmente jovens, que sobrevivem pulando de um (sub)emprego temporário para o outro, ganhando menos de mil euros por mês. Com baixas perspectivas de inserção, vivendo nos subúrbios das grandes cidades, não chegam nem mesmo a caracterizar um “exército de reserva” de mão-de-obra. Apesar de todos os programas de reinserção, a verdade é que não existem lugares disponíveis no mercado de trabalho onde eles possam se reinserir. Tornam-se subempregados crônicos, e desenvolvem uma visão de mundo ressentida e com altíssimo poder explosivo. 

No Brasil, esse problema fica em grande parte mascarado pela existência de uma enorme parcela da população ainda mergulhada na pobreza e na miséria. Um operador de telemarketing, aqui, não se sente um “perdedor”, um pária, alguém sem nenhuma perspectiva. Pelo contrário. No seu entorno imediato, ele(a) tem uma posição perfeitamente sustentável de um ponto de vista psicológico. Os programas sociais do governo, por outro lado, deram novo alento às camadas mais marginalizadas da população. Isso faz com que todos se sintam, de alguma maneira, beneficiados. Mas é preciso compreender que esse movimento tem uma limitação clara. Mais cedo ou mais tarde, o capitalismo terá que lidar com essas situações de exclusão – se conseguir encontrar algum modo de lidar com elas. 

A esquerda está paralisada diante desse cenário. Parte dela aposta silenciosamente (ou nem tanto) na ruptura. As tensões irão se tornando cada vez mais intoleráveis, até fazer o sistema capitalista implodir. No seu lugar, teremos Algo – a Coisa, o Treco, aquilo que ninguém sabe muito bem o que é, e se irrita bastante quando perguntado a respeito. Se você espiar o jogo que essas pessoas têm de fato em mãos, não irão encontrar nada além do velho modelo socialista, com propriedade coletiva dos meios de produção e planejamento centralizado. Não dá certo, eles sabem disso. Mas não se importam nem um pouco. É tudo na base do “vamo que vamo”, pois “o caminho se constroi no caminhar” e , se preciso for, endurecerão “sem perder a ternura jamais”. Os devotos de Santa Rita de Cássia têm comportamento um pouquinho mais racional.

O desafio da esquerda hoje é esse: imaginar formas de intervenção estatal dentro do capitalismo que sejam economicamente viáveis e criem uma situação social e psicologicamente sustentável para as pessoas que estão na periferia do sistema. Programas de renda mínima são interessantes, mas insuficientes. Para quem sai da miséria, o Bolsa Família é uma conquista fabulosa. Para quem saiu da classe média (como é o caso de muitos desses jovens europeus desempregados), é simplesmente um remendo vergonhoso. É nisso que a esquerda tem que começar a pensar. Não me refiro apenas à Europa. Aqui entre nós, é fundamental que esse passo adiante seja dado. Em pouco tempo, o assistencialismo (absolutamente necessário) já não será SUFICIENTE. É nesse vácuo que a direita tentará entrar. Talvez não em 2014. Quase que certamente em 2018. Se não tivermos respostas, eles terão. Estão tentando articulá-las desde agora. E nós? Vamos continuar usando botoms do Che Guevara?

Luis Nassif

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