O grande lance da Vale

Lições da compra da Inco pela Vale:

1. A CVRD mostrou ousadia extraordinária, ao dar um passo dessa magnitude. Certamente se valeu de uma oportunidade única de mercado. Com a explosão dos preços dos commodities e com a ampla liquidez internacional, o sistema financeiro internacional passou a oferecer financiamento ilimitado para aquisições de empresas.

2. Há riscos implícitos na operação, o principal dos quais é a volatilidade das cotações do níquel – que praticamente dobraram de preço nos últimos doze meses –, principal minério da INCO. Não está claro qual a cotação base que serviu de parâmetro para a fixação do preço das ações da INCO. Uma queda nas cotações certamente reduzirá os lucros da companhia, provocando descasamento entre geração de caixa e pagamento do financiamento, que poderá afetar, inclusive, as avaliações sobre a Vela pelas agências de risco. Mas é praticamente impossível dar passos desse tamanho sem incorrer em algum tipo de risco.

3. A Vale é mais do que uma mera empresa privada. Ela pensa o Brasil do ponto de vista estratégico. Seu planejamento visa trazer para o país siderúrgicas que possam trabalhar o minério de ferro e exportar produtos de valor agregado.

4. A privatização melhorou a gestão na Vale. Mas é bobagem achar que, estatal, ela não partiria para esses vôos mais largos. A Petrobrás tem controle estatal e partiu. A Vale sempre teve uma gestão blindada contra interferências políticas. E sempre teve visão estratégica, trazida por Eliezer Baptista. A própria criação da Vale, a aposta que fez nos modernos navios transportadores – que mudou a história da navegação mundial –, as parcerias estratégicas com o Japão foram lances de pura ousadia, em um período estatal. Sorte do país que ela se tornou privada sem perder a visão estratégica.

5. Chama atenção as exigências feitas pelas autoridades canadenses: a da Vale manter empregos, manter no Canadá as decisões estratégicas da INCO, não alterar os planos de investimentos da companhia. Comparem-se essas exigências com nenhuma exigência feita pelas autoridades brasileiras quando a Ambev foi vendida para a belga Interbrew.

Depois de ler alguns comentários

Pessoal,

o exemplo da Vale estatal não vale para muitas outras, como a própria CSN. A Vale conseguiu preservar-se das interferências políticas. Já a CSN era um descalabro. A discussão sobre se a privatização foi boa ou não merece mais aprofundamento.

Só para dar um exemplo: se ainda houvesse o grau de privatização do início dos anos 90, a atual crise política se abateria impiedosamente sobre a economia brasileira, por conta das barganhas que seriam feitas para assegurar governabilidade.

Por outro lado, se governos passados conseguissem implantar modelos de governança nas estatais, elas poderiam ter se tornado imensas empresas públicas, e players globais

Adendo dois

Pretender comparar, a seco, vendas e lucros da Vale de dez anos atrás com os de agora, sem levar em conta o boom da China e dos commodities, é demais. Qualquer avaliação séria tem que expurgar o efeito China das análises.

Luis Nassif

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