O setor privado e as políticas de Estado no Japão e nos EUA

Por Waldyr Kopezky

Nassif e caros, vamos por partes:

A indústria japonesa de ponta já era realidade ANTES da II Guerra – a Mitsubishi fazendo os aviões Zeros, a siderurgia Kawasaki (produção de aço e construção naval pesada), tudo isso só foi redirecionado para o setor de bens de consumo (com a adição de uma transferência “amiga” de tecnologia eletrônica ocidental, à medida em que esta se desenvolvia). Os japoneses cresceram com suas corporações tanto que engoliram Philips, Philco, Bosch-Blaupunkt, Telefunken, GE (os norte-americanos só controlam hoje a área da General Dynamics, vendendo o setor de produção de eletro-eletrônicos dessa corporação) e etc.

Mas ninguém se engane – foi um crescimento planejado para que os japoneses pudessem fazer frente ao adormecido (e já temido) “gigante chinês”. Na medida em que eles viram crescer a ameaça, também transferiram tecnologia ao setor privado da Coréia.

Pra resumir: setor privado e livre mercado (tanto quanto governos e administração pública) estão desde sempre intimamente conectados por políticas de Estado. Nos EUA sempre foi assim: o governo desenvolve tecnologia de ponta, cria e desenvolve projetos militares e depois delega sua aplicação na produção de bens de consumo a grupos empresariais alinhados com o regime (que é igual nos objetivos, não importa se no momento seja democrata ou republicano).

Querem exemplos?

– a tecnologia de relógios digitais, criada para a perfeita sincronização no lançamento múltiplo e simultâneo de mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), que só depois passou aos relógios de pulso;

– o laser, que foi pensado e desenvolvido inicialmente como arma de raios e sistema de precisão no rastreio e mira de sistemas de armas à distância (de mísseis e a rifles snipers), para só depois ter sua aplicação medica (scanners de exame e aparelhos cirúrgicos de corte-cauterização com precisão) ser produzida e difundida;

– mais recentemente o GPS, que foi primordialmente um sistema de rastreio e defesa via satélite (tanto que sua aplicação como acessório automotivo possui um “delay” de 30 segundos no serviço, para impedir que o aparelho de aplicação civil possa ser utilizado como rastreio e guia preciso para sistemas de lançamento e ataque por parte de grupos extremistas).

Mas com o colapso soviético, as políticas de Estado “grande cenário” geopolítico, a partir dos anos 90 – uma Ásia essencialmente fabril e provedora de mão-de-obra barata. Então, empresas e grupos americanos e europeus transferiram tecnologia sensível para a construção de plantas fabris e produção de bens de ponta (DVD, Blu-Ray, telas planas, microeletrõnica). E mesmo coreanos e japoneses passaram a montar fábricas em solo chinês.

Então, qual seria a diferença entre japoneses e coreanos dos chineses – e sua atual diferença de status econômico? A resposta é que estes últimos possuíam uma “política de Estado” específica e focada, voltada para interesses nacionais e soberanos (aquisição de tecnologia sensível, foco em reengenharia e transformação desta – visando desenvolver uma independência produtiva e econômica). Que os outros dois países jamais tiveram, objetivamente.

Não sejamos ingênuos: mesmo nos EUA a distinção entre políticas públicas e interesse privado é sutil, mais cinza que preto ou branco. Sabem qual foi a primeira medida do governo dos EUA com a descoberta e a pesquisa de vôo dos irmãos Wright? Estatizou a pesquisa e militarizou o projeto, junto dos cientistas (tanto que há uma base militar da USAF com o nome wright-Patterson); já Santos Dumont delegou pulbicamente a patente de sua invenção à Humanidade. Abs.

Luis Nassif

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