Os grandes entraves para a juventude

Comentário ao post “O manifesto do novo que não pede passagem

Para mim há três grandes entraves para a juventude:

Primeiro, o desinteresse geral por política e o que é público.

É incrível como a juventude é desligada e desinteressada em política e coisas públicas, sem entender sua magnitude, seus alcances e seus caminhos para levar a algo além do que temos hoje. Desconhecem que o principal caminho para qualquer mudança é a política. Ao meu ver, uma simples agremiação escolar deve ser encarada como uma organização política: haverão dois ou três candidatos a representante de classe; haverão as chapas para compor o grêmio escolar; haverão as disputas pelos centros acedêmicos de faculdades… tudo sempre baseado em organização de propostas e grupos. Isso é política.

Segundo, a falta de objetivo.

Afinal, o que a juventude quer? Inclusive acho que essa seria a primeira pergunta a ser feita: jovem, o que você quer da vida? Ah, quero cultura, quero espaço, quero dinheiro, quero carro, quero relaxar no trabalho (e ainda se diz capitalista, para ver como não entende do que esta falando)… o jovem quer o mesmo que todos os outros querem, simples assim. Mas o que fica claro nos comentários é o que cito como primeiro entrave: a falta de conhecimento sobre política e o que público. Se reparar nos comentários, verá que são todos voltados para sí e não para o coletivo. Tem o plural, mas não o sentido coletivo amplo, o que leva ao terceiro entrave.

E terceiro, o individualismo.

Por algum motivo os conceitos de coletividade nessa atual geração de jovens chegou com um grande “desfalque”. Ninguém pensa no coletivo, no bem comum, em sociedade. Hoje, o máximo que temos em termos de coletividade, de sociedade, é Facebook e redes do gênero. E milheres de jovens postando um monte de asneiras, replicando correntes ridículas, pulverizando asneiras sem fundamento. Aliás, uma boa fonte de pesquisa é o próprio Facebook. Pesquisem os nomes desses jovens que postaram aqui e vejam os que andam dizendo no Facebook em busca de seus objetivos, em busca da tão reclamada cultura, na batalha por um bem comum que não atenda apenas a seu interesse direto… duvido que seja encontrado algo que surpreenda. Na própria afirmação de que “não precisamos de Willian Bornner nem do Mino Carta” deixa claro isso. Eu preciso do Willian sim, por pior que seja. Ele é um contraponto para eu avaliar o Mino e aí sim, tirar minhas conclusões. Sem eles, nós, velhos ou jovens, não teríamos as referências para nossos julgamentos ou conclusões. As coisas não são simplistas assim, a ponto “nós buscamos nossas informações”. 

Dos “manifestos” acima, a afirmação mais acertiva foi: “ninguém nos conhece”! Nem mesmo eles próprios.

Os joves querem carro, cultura, espaço, voz… mas eu pergunto: o que tem feito para isso meu jovem?

Se você acha que não tem acesso a cultura, de quem é a culpa? Sua? Do vereador? Do secretário de cultura da sua cidade? Do secretário do seu Estado? Da ministra? Mas o que você pode fazer para mudar isso? Com certeza, um post de uma desses dancinhas da moda no Facebook não vai ajudar em absolutamente nada.

Queremos carro. E você tem estudado bastante para ter um bom emprego e aí sim, poder pagar seu carro? Ou se tem emprego, você é disciplinado e comprometido, ativo, ou é do tipo que quer “relaxar no trabalho e trabalhar fora dele”? Antes dos 30 dias de experiência já esta na rua, afinal, somos capitalistas (infelizmente). 

O caminho é: antes de mais nada o jovem precisa compreender sobre política e público. Só a partir daí ele terá consciência de que as mudanças ocorrem pautadas em interesses coletivos, de forma organizada e na maioria das situações, com a interferência direta de “políticos” acima da pirâmide, que pode ser o representante de classe, um diretor de escola, um reitor, um sindicalista, um vereador, um secretário… um grupo de congressistas aprovando uma lei.

Não da mais para ficar sonhando que haverão mudanças sem se envolver, de alguma forma, com política. Não podem continuar achando que política e público é coisa de “político”, e como todo político é ladrão, estou fora. Não. Não podem criminalizar e generalizar a política, os políticos e o bem público de forma tão irresponsável como vem ocorrendo. Não adianta, política é a base das mudanças.

Depois, tenham objetivos em suas vidas, além dos individuais, e invista mais nos objetivos de interesse coletivo. O transporte público é ruim e todo dia chega atrasado na faculdade, organiza-se e cobre por melhoras no serviço. Postar no Facebook “o buzão atrasou de novo” ou financiar um carro próprio não são soluções.

E por fim, todos terão que abandonar o mais difícil entranhado na maioria dos seres humanos: o indivualismo. Parem de se preocupar “apenas” com o seu carro próprio, e preocupe-se também com a melhoria do transporte  público, unindo forças. Ao invés de sairem correndo da faculdade de medicina “pública” para abrir sua própria clínica particular, vão trabalhar na rede pública ao menos por cinco anos para compensar o que o Estado (público e gratuito) investiu em você. Parem de reclamar da qualidade da educação e gaste energia criando e apresentando propostas para sua escola ou secretaria de educação.

Luis Nassif

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