Os pais do Plano Real

Coluna Econômica

O velório do ex-presidente Itamar Franco serviu para suscitar novas discussões sobre a paternidade do Plano Real. Fernando Henrique Cardoso chamou a si a autoria e, embora ressaltasse o apoio recebido de Itamar, sugeriu que em muitos momentos precisou convence-lo da importância do plano.

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PorePor etapas.

Desde o Plano Cruzado a tecnologia dos planos econômicos mágicos povoava o imaginário dos políticos brasileiros, de José Sarney a Itamar Franco, passando por Fernando Collor.

No quadro político complexo do país, em uma economia fortemente indexada, a ideia do plano mágico – ou da bala de prata, conforme dizia Collor – sempre sensibilizou governantes.

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Em 1993, o então chanceler Fernando Henrique Cardoso pensava firmemente em abandonar a política. Seu mandato de senador expiraria no ano seguinte, o PSDB não conseguira firmar uma grande bancada, eram nulas as possibilidades de ele ser reeleito senador e escassas as possibilidades de ganhar para deputado federal.

A tentativa da ala fernandista de aderir ao governo Collor havia esbarrado na resistência do governador paulista Mário Covas – que ameaçou abandonar o partido se FHC e José Serra o empurrassem para os braços de Collor. Era esse o quadro de FHC.

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O fracassado plano Cruzado havia jogado na cena política dois grupos de economistas. De um lado, os desenvolvimentistas da Unicamp, que acabaram sob a liderança do PMDB de Ulisses Guimarães, primeiro, de Orestes Quércia, depois.

De outro, os economistas de pacote – Pérsio Arida, André Lara Rezende, Chico Lopes – que se enturmaram na PUC do Rio de Janeiro.

Esse grupo esteve disponível para Sarney, Collor e ofereceria seus préstimos para o governante que solicitasse. Teriam montado o plano Real, fosse FHC, Rubens Ricúpero ou Ciro Gomes o Ministro da Fazenda.

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A ida de FHC para a Fazenda foi escolha pessoal de Itamar. O então chanceler estava em Nova York, na residência do embaixador Rubem Sardenberg, quando recebeu o convite. Vacilou, mas acabou aceitando.

Havia um pressuposto de se avançar na consolidação fiscal do Estado brasileiro, independentemente ou não de planos econômicos.

Em sua gestão, FHC foi um absoluto ausente. Não se via nele nenhum ato de vontade para resolver problemas prementes de contas públicas, apesar de, na posse, ter anunciado um suposto plano de 25 pontos de responsabilidade fiscal.

Durante toda a discussão do Real, nem ele, nem José Serra – que era seu amigo mais próximo – entenderam a lógica da URV e da desinercialização da economia.

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O grande feito de FHC, de fato, foi administrar as excentricidades de Itamar, sua impaciência no pré-Real.

O pós-Real foi inteiramente administrado por Ricúpero – até a entrevista infeliz que deu à TV Globo – e por Ciro Gomes, na época uma locomotiva destrambelhada defendendo a jogada da apreciação cambial – sem entender seus desdobramentos.

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A grande habilidade dos economistas do Real foi terem montado a maior jogada cambial da história – que enriqueceu a todos eles e também banqueiros de investimento associados – sem ser pecebida por duas pessoas sérias, o próprio Ricúpero e Ciro Gomes.

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Quando lancei meu livro “Os Cabeças de Planilha”, encerrei com uma longa entrevista com FHC sobre os desdobramentos do Real. Mostrou-se um absoluto ignorante sobre a estratégia de poder que estava por trás das formulações dos seus economistas. 

Luis Nassif

3 Comentários

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  1. Os pais do Plano Real

    Sr. Nassif,

    Pelo que entendi do seu texto, na época, só haviam alienados no governo e um grupo que inteligentemente visava seu próprio benefício e o de alguns compatriotas, quando do planejamento do plano real.

    Bem, não duvido das supostas inteligências, pois até um rei ja foi enganado por seu servidor que inventou um jogo de xadrez segundo a história de sua invenção, onde pediu como pagamento simples porções de trigos exponenciadas segundo a quantidade de casas do tabuleiro, o que no final resultava numa quantia que superava as riquezas do reino.

    Pois bem, FHC, Ciro entre outros, e o impaciente Itamar que era tranquilizado por FHC. De baratas tontas, o governo estava cheio ha anos, e não havia uma que trouxesse uma solução para os problemas de um país com uma economia inflacionada.

    Lendo a Vida dos 12 Cesares, Cesar Augusto também esteve numa situação parecida com a de FHC, que você relata em seu texto, digamos, com a vida política findada. No entanto, a sorte esteve do lado de Cesar, e se podemos comparar, esteve ao lado de FHC também. Pessoas predestinadas ao sucesso frequentemente estão numa situação destas, onde tudo aspirava contra, quando derrepente muda-se a estrada. Muito questiona-se sobre o Plano Real, sobre a real competência de FHC, e principalmente sua oposição conspira contra o sucesso de uma mudança benéfica ao país. Mesmo que alguns “diabólicos inteligentes” tenham tirado vantagem de uma situação, pois, a mecanica foi desenvolvida por eles, e como especialistas conheciam bem os resultados, a população enfim se viu livre da super inflação, o pesadelo de muitos foi findado. Acho que não deveria julgar como esperteza os que supostamente enriqueceram com a “jogada do real”, caso o Sr. soubesse que o mundo iria acabar antes de todos, ficaria parado por acaso, ou procuraria fazer algo? Levaria vantagem sobre muitos que desconheciam a informação de que o mundo iria acabar, certo? Acredito que tirar os méritos de quem esteve a frente, não seja o correto, pois caso o plano falhasse, com certeza, assim como ocorreu com Collor, quem estivesse a frente das mudanças do Plano Real ficaria marcado negativamente para sempre pela história.

  2. Plano Real

    Fizeram um Filme? Meu Deus, quanta “forçação de barra”. 1* veio o livro (estória), agora um filme. Quando é que as Pessoas de Bem vão contar a Verdadeira História do Plano Real? Eles nunca Idealizaram o Plano Real. Em maio de 1993, eu estava trabalhando no computador com a TV ligada. Cansado (pálpebras) vi na TV, uma enquete mostrando Lula com 50 % de chance para Presidente. Eu fechei os olhos e pensei ”Que m____ de País, eu fui nascer”. Foi aí, que comecei a ter a Ideia do Plano Real (Original). Em 2 dias, eu matei a charada (URV (descarregamento de uma bateria) e os gastos do Governo). Pensei em mostrar ao pessoal da PUC (Cruzado). Desisti, porque sou engenheiro, eles iriam me enrolar. O pai do Flavio Meira Penna (eu tinha contato com ele) foi Embaixador na ONU. Essa era a ponte com o FHC (também foi da ONU). Depois de vários questionamentos (eles não tinham nada), é que chamaram o pessoal do “cruzado “ para formatar e executar. Lembram do Recúpero “ Eu não tenho escrúpulo – parabólica”, o ruim, sou eu. Itamar (FHC) , o demitiu. Ao formatar o Plano, eles  fizeram a DRU ( era pra cortar 20 % dos gastos). Isso vem causado prejuízo de Trilhões de Reais ao Brasil (Governo e Sociedade). Em dezembro de 1994, fui chamado para ir para Brasília. Eu recusei. Vou confiar em quem? Detalhe, No Plano Real (Original – maio 1993), eu disse “Dá pra fazer FHC, Presidente”. O que me espata (Livro e agora o Filme), é que o Pessoal da Globo (Marinhos), do Itaú (Setúbal) e até o PT (Lula- 2003) sabem da Verdadeira História.

  3. Só uma correção: Em 1993 o
    Só uma correção: Em 1993 o governador de São Paulo era Fleury.. Covas só viria a ser eleito em 1994.. e a assumir o governo em janeiro de 1995.

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