Para entender a consultoria de Palocci

Para entender o festival de irrelevâncias com que a velha mídia trata o caso Palocci – e sua dificuldade em entrar nos temas centrais.

Antonio Palocci cumpriu bem seu papel de fazer o meio campo do governo com o grande capital. Mas queria mais: ser aceito no clube, ser recebido na sala de visitas. Tornou-se o Pedro Malan do PT, não apenas na orientação econômica, mas nos maneirismos adquiridos nos salões, na maneira de falar baixo, como gente fina.

Sua consultoria faz lobby, sim.

Juntando as informações que saem picadas na imprensa, percebe-se que provavelmente sua maior fonte de receita decorreu da operação de capitalização da WTorre pelo banco BTG Pactual.

A WTorre sempre foi uma empresa enrolada, com algumas operações complicadas. Adquiriu o esqueleto do prédio da Eletropaulo por R$ 385 milhões graças a ligações que tinha no antigo ABN Amro, que financiou a compra.

Depois o ABN foi adquirido pelo Santander. Mantida a influência da WTorre, o Santander adquiriu o complexo por mais de R$ 1 bilhão. Mas não resolveu os pepinos da construtora. Parte das dívidas junto a bancos e fornecedores foi transformada em capital, mas os pepinos continuaram.

No segundo semestre de 2010 começou a aproximação do Pactual com a WTorre. Justo no período em que Palocci assessorava a empresa.

Segundo matéria do Valor

Depois de tentar se capitalizar via mercado e de enfrentar uma situação financeira bastante delicada em 2010, o empresário Walter Torre conseguiu o que está sendo considerada pelo mercado a melhor solução possível para o seu negócio. Uma verdadeira reviravolta, no melhor dos clichês. A aproximação entre Walter Torre e André Esteves, do BTG Pactual, foi decisiva. O empresário precisava de capital e o banqueiro, de imóveis. Juntos, criaram a maior empresa de properties (imóveis de renda) do Brasil, com ativos de R$ 5,3 bilhões. 

Provavelmente uma operação legítima, em que o maior banco de investimento brasileiro entrou no capital de uma grande empresa em dificuldade. Ganha o Pactual, ganha a WTorre e ganha o consultor que promoveu o casamento. E tudo indica que esse consultor foi Palocci.

A questão toda é a maneira como Palocci caiu nas boas graças do Pactual. Foi na época em que estava sendo negociado com o Goldman Sachs. O banco tinha pepinos de toda ordem junto à Receita. Tudo foi resolvido no Conselhinho da Fazenda, na época de Palocci Ministro.

Porque os jornalões não entram no tema central? Simples: porque alguns devem favores ao Pactual e outros querem parceria no futuro.

Leia aqui “O caso André Esteves“, na série “O caso de Veja”.

Com esses ingredientes, percebe-se um enorme jogo de hipocrisias de lado a lado. Dificilmente esses episódios serão aprofundados, porque aí se entra na seara da influência do Pactual. E nenhum jornalão vai escarafunchar onde seria necessário. 

Luis Nassif

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