Sugerido por ulderico
O jornal Cruzeiro do Sul, aqui de Sorocaba, fez ótima reportagem sobre a casa fora do eixo, dividida em duas partes:
Do Jornal Cruzeiro do Sul
Entre, a casa é sua… De verdade!
Na Casa Fora do Eixo, onde os portões nunca fecham, não existe o conceito de posse individual; até roupas são pertencentes ao grupo todo e não são propriedade privada
Viva a sociedade alternativa 2.0
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Na prática, eles fazem aquilo que muitos manifestos de cunho socialista pregaram. O diferencial é que abandonaram o discurso e a verve mais radical e trouxeram aspectos desse pensamento para a realidade econômica e tecnológica de hoje, tendo como principal intuito fomentar o fazer cultural.
E é nesse universo 2.0, que o projeto de criação de uma rede de coletivos culturais de cidades distantes geograficamente das grandes capitais, chamado “Circuito Fora do Eixo”, nasceu há cinco anos.
De lá para cá, o movimento aumentou e agregou outros coletivos. A expressão “de lá para cá” neste caso não faz apenas referência aos cinco anos corridos, mas também tem uma conotação geográfica já que a iniciativa chegou até o sudeste onde hoje está a sede do “Circuito Fora do Eixo”. A rede precisou criar uma base no “eixo” dos acontecimentos culturais, a cidade de São Paulo, para poder dar conta do projeto, que atualmente agrega mais de 2 mil pessoas de 83 coletivos do Brasil e do exterior. Entre eles, dois de Sorocaba: os coletivos Cê e o Rasgada Cultural.
Como “base”, entenda-se uma enorme casa de cerca de 600 metros quadrados de área construída, no bairro do Cambuci, em São Paulo. Todo esse espaço não é uma questão de exagero, mas sim de necessidade, já que o local abriga 17 moradores fixos que recebem, por mês, cerca de 150 pessoas. Detalhe que essas pessoas, na maioria das vezes, ficam pequenas temporadas que podem variar entre uma semana para mais. Também dormem, comem, aprendem e se divertem nessa casa no Cambuci.
Como dar conta para organizar tudo isso? É aí que entra a afirmação do início do texto, sobre a influência socialista no projeto que funciona de uma forma similar às comunidades alternativas, que se expandiram muito na década de 60 com o movimento hippie. A diferença, além de algumas bandeiras, é que todo esse modo alternativo e até desapegado de viver é sustentado com muita e boa tecnologia. “Uma espécie de sociedade alternativa 2.0”, brinca Camila Cortielha, 28, cogestora do Centro de Multimídia da “Casa Fora do Eixo”. E é ela também que explica a referência do pensamento socialista que permeia a concepção da rede. “Temos uma influência deste pensamento, mas não somos radicais e dialogamos com quem tem o capital”, entrega sobre o modo encontrado para viabilizar a proposta de gestão cultural, onde a palavra parceria ganha significado mais amplo.
Via rede
Mas para entender essa história é preciso voltar lá pelos idos de 2005/2006, quando, no auge da crise da indústria fonográfica, quatro coletivos, a princípio de bandas alternativas, começaram a repensar os modos de articulação cultural no país. Alona (Londrina), Espaço Cubo (Cuiabá), Goma Cultural (Uberlândia) e Catraia (Acre) é que deram o start no que viria a ser o Circuito Fora do Eixo. “Era necessário se juntar e se articular em rede”, sintetiza Camila sobre a ideia inicial, que era conectar essas quatro cidades.
“Pautado nos princípios da economia solidária e no trabalho colaborativo, produtores culturais de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR) uniram-se, em 2005, com o intuito de circular bandas independentes. Essa iniciativa foi batizada de Circuito Fora do Eixo”, diz o texto de apresentação da rede de coletivos, que hoje não tem apenas a música como foco, mas engloba o conceito da multilinguagem. A iniciativa trabalha no fomento cultural, no estímulo à formação de seus agentes culturais e também na circulação de eventos.
Começou pequeno, mas estruturado, com direito a carta de princípios e valores, organograma, regimento interno, frentes temáticas, mediadores, uma Universidade Livre, Partido e até um banco com moeda própria para que esse organismo todo funcione.
Parece complexa a ideia, mas somada a modernas tecnologias e “brinquedinhos” de última geração como Ipod”s, Ipad”s, e outros “I”s”, fica mais fácil. A tecnologia tem papel de destaque no sucesso do empreendimento, pois ela permite, virtualmente, a integração de produtores culturais de diversos estados do Brasil. Via rede, eles comunicam os eventos, dividem e divulgam. Não param. Nas redes sociais, a articulação acontece quase que 24h ininterruptas.
Neo hippies
Além da internet e das novidades tecnológicas, a organização é outro diferencial no sucesso da rede. Tanto no mundo virtual quando na vida real, organogramas e divisões de tarefas são levadas a sério pelos agentes. Mas se engana quem acredita que todo esse “regimento”, modo de gestão e outras ações mais saíram de algum estudo sobre gestão sustentável. Segundo Camila, é a prática que leva a excelência, nesse caso, ao bom andamento da rede, que a cada dia agrega mais coletivos e mobiliza mais ações por todo o país. “A construção é empírica, vamos fazendo e entendendo na prática”, fala ela.
Para se ter uma ideia, além da produção cultural, a rede ainda agrega outras temáticas como a economia solidária e a sustentabilidade em suas ações.
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