Repercussões da crise do Egito

Coluna Econômica

Até que ponto a crise do Egito poderá ter repercussões sobre a economia mundial?

O PIB do Egito é pequeno, apenas US$ 200 bilhões. De 1990 para cá o país deixou de exportar 400 mil barris dia de petróleo para se tornar pequeno importador líquido.

Em relação à sua produção interna, a crise poderá trazer impactos sobre o mercado de gás liquefeito de petróleo, trigo e algodão. O país é grande exportador de gás, um produto que virou commmodity internacional depois que a tecnologia barateou a transformação em gás liquefeito.

O Brasil, mesmo, é exportador para os Estados Unidos e Ásia. O Egito é o maior importador individual de trigo e um dos grandes exportadores de algodão de fibra longa, próprio para roupas de grife.

Como efeito da crise, houve uma pequena queda de 2% nas cotações de trigo.

***

AcriA crise do Egito não é de fundo religioso. É uma reação da população contra a estagnação econômica, em grande parte alavancada pelas informações que passaram a fluir para o país através da Internet.

Enquanto parceiros comerciais se desenvolviam, o Egito se tornou o 137º país do mundo em renda per capita. Com um PIB de US$ 200 bilhões, o país depende da ajuda anual de US$ 2 bi dos Estados Unidos, US$ 5 bi em receita do canal de Suez e US$ 10- bilhões em turismo, que não cresce devido ‘a falta de investimentos em infraestrutura.

Muitos fatores inibem o desenvolvimento do Egito. Culpam o presidente Hosny Mubarak, que fechou a economia do país. Há um controle rígido da plutocracia sobre os investimentos privado. E uma corrupção disseminada, que coloca o Egito em 111º lugar dos 180 países analisados pela Transparência Internacional. A corrupção, por lá, é caracterizada como de baixo nível, pegando todas as instâncias do poder público.

***

Mas o primeiro impacto grande, indireto, é em relação ao canal de Suez. Passam por lá 8% do comércio mundial e cerca de um milhão de barris dia de petróleo e derivados. A crise ainda não se refletiu plenamente sobre o transporte no canal, embora nos últimos dias tenham sido registrados atrasos nos embarques.

***

O risco maior é da crise se alastrar pelo Oriente Médio e África, ainda mais com o rebatimento da Tunísia. O receio maior é que essa onda de revolta possa chegar até a Arábia Saudita.

Mais ainda é cedo para prognósticos. Ontem, os preços do petróleo Brent ultrapassaram a marca dos 100 dólares por barril. A última vez que chegou a essa cotação foi em outubro de 2008.

Em parte essa alta foi influenciada por dados macroeconômicos favoráveis, com crescimento da demanda acima das expectativas. Em parte, pela instabilidade política da região. Especialmente depois de problemas iniciais enfrentados pelos portos de Alexandria e Damietta.

Por enquanto, acendeu apenas luz amarela. Se houver um novo salto no preço do petróleo, a própria recuperação mundial seria abortada.

***

Os problemas do Egito não chegaram a afetar o otimismo moderado dos 2.500 empresários participantes do Fórum Global Mundial em Davos, depois da pior crise econômica dos últimos 75 anos. As empresas recompuseram seu caixa, estão com recursos para investir. Falta o componente segurança.

Nos próximos dias, o termômetro a ser acompanhado serão as cotações de petróleo. 

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador