Revisando a teoria econômica

Coluna Econômica – 14/06/2010

A maneira como o país saiu de crise, nos últimos anos, mudou ou mudará definitivamente vários dogmas da teoria econômica de ambos os lados do balcão: tanto os defensores do câmbio apreciado quanto os defensores das grandes desvalorizações cambiais.

No segundo grupo estavam os economistas Yoshiaki Nakano e Luiz Carlos Bresser Pereira. Anos atrás provocaram enorme polêmica recomendando uma híperdesvalorização cambial como saída para a estagnação que esmagava a economia.

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A iA idéia por trás do conceito é que seria quase impossível ao país ganhar dinamismo contando com um mercado interno restrito. Em um primeiro momento, a desvalorização cambial provoca redução dos salários (que são fixados em reais). Os produtos brasileiros tornam-se mais competitivos que os concorrentes externos. Aumentam as exportações, o país ganha musculatura, as empresas investem em inovação, aprimoramento, valor agregado permitindo, em um segundo momento, a recuperação consistente dos salários.

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Nakano é das melhores cabeças econômicas do país, porque dotado de um raciocínio lógico, de rigor para não desrespeitar princípios econômicos básicos e de uma abertura única para reavaliar teorias à luz dos fatos econômicos reais.

O que a crise trouxe de novidade foi a enorme pujança do mercado interno brasileiro, fruto de transferências sociais (Bolsa Família) e do aumento do salário mínimo incidindo especialmente sobre aposentadorias e pensões da Previdência Social.

A resposta vigorosa da economia, a constatação do aparecimento de uma nova classe social, consumidora, mudou a visão de Nakano. A dinâmica anterior – da grande desvalorização cambial – afetaria o dinamismo que o mercado interno voltou a dispor. A proposta valia antes de se perceber o dinamismo do mercado interno.

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Não significa que se deva descuidar do câmbio, pelo contrário. De um lado, como defesa do próprio mercado interno. Nos níveis atuais de câmbio, muitos setores estão sendo devastados pela invasão de produtos estrangeiros, especialmente chineses.

De outro, para estimular as exportações. Embora sem ocupar o papel central no centro dinâmico da economia – como nas formulações anteriores de Nakano – as exportações são fundamentais para modernizar a economia, garantir a competitividade – já que em embate direto com os competidores globais.

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Mais que isso, seja qual for o modelo, o nível atual do câmbio é insustentável. A invasão de importados significa exportações de empregos. E o rombo que está sendo aberto nas contas externas cobrará seu preço mais à frente, na forma de uma desvalorização cambial.

Hoje em dia, as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio) impedem a elevação de tarifas de importação e restringem diversas formas de defesa da produção interna.

Mais uma vez, como em 1998 – embora com consequências menos danosas – as circunstâncias eleitorais impedem os ajustes inevitáveis no câmbio. A conta virá em um ano ou dois. 

Luis Nassif

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