Evidente é que, em situações extremas, poderíamos imaginar que há racistas e não racistas, sexistas e não sexistas, e toda sorte de preconceituosos e não preconceituosos.
Mas olhando de perto, bem de perto, podemos chegar à conclusão de que o preconceito é mais uma “questão de grau” do que de um ingênuo determinismo binário.
Uma campanha bem bolada perguntava há alguns anos: “Onde você guarda o seu racismo? ” A mesma pergunta poderia ser feita no caso do machismo, da homofobia etc.
Racismo, tanto quanto o sexismo, se guarda no coração, na mente, nos olhos, na pele, na boca – e onde menos você espera.
Certo: há os muito racistas, os racistas, os pouco racistas, os muito pouco racistas, mas que, aqui e ali, acabam sendo surpreendidos, para tamanho desgosto de sua confiante auto-consciência, pelo medo involuntário que o faz mudar de calçada, por uma risada descuidada diante de uma piada de preto.
A maior dificuldade da luta contra qualquer forma de preconceito é fazer com que cada um pense de que forma colabora para que ele exista e persista. Isto implica na necessidade de um auto-exame de consciência, em que o ponto de partida pode ser a criativa pergunta da campanha citada: “Onde eu guardo meu preconceito?”.
Quem chegar ao final do auto-exame com a certeza de que nada guarda, melhor que refaça a pergunta.
Pois que cada um de nós mortais somos sujeitos de um mundo em que discursos raciais, sexistas, marcadores de cruéis definições do que seja normal, saudável e belo, propensos a julgamentos morais por características físicas, idade e grana estão por aí com força e com vontade.
Estes discursos atravessam todos os sujeitos, em menor ou maior medida, sejam estes conscientes disso ou não.
O episódio recente envolvendo troca de farpas entre blogueiros, embora motivados por ciúmes e ressentimentos, vai bem nessa direção. Sem problemas se discordamos da cor da areia da praia de Copacabana.
Mas, de uma hora para outra, acusou-se um grupo bastante heterogêneo de jornalistas, debatedores, livre-opinadores de serem sexistas.
Evidentemente, os acusadores eximiram-se daquela pergunta criativa.
Ficou parecendo que sexistas são sempre os outros, tal como constatado naquela pesquisa da Folha em que 96% diziam-se não racistas, embora 90% acreditavam que houvesse o racismo no país.
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