Sobre a produção de petróleo e gás de xisto nos EUA

Por rdmaestri

Comentário do post “Algumas questões sobre a produção de petróleo e gás de xisto nos Estados Unidos”

Há pouco tempo postei um pequeno artigo que tentava alinhar o bombardeio da Síria como um dos motivos que leva os Estados Unidos tentar instabilizar a produção de petróleo para subir o preço do mesmo. Isto está ligadona viabilização da produção doméstica das grandes reservas de óleo e gás do xisto. Quando comecei a escrever este texto ainda tinha pequenas dúvidas, mas sistematizando dados que já conhecia e agrupando alguns mais novos, a minha convicção aumentou.

O interesse dos norte-americanos manterem o custo alto do petróleo está na viabilização das suas “novas” descobertas de fontes de hidrocarbonetos. Novas entre aspas se justifica à medida que estas formações já são conhecidas há quase 100 anos e já estavam sendo exploradas comercialmente há muito tempo. Em abril de 1951 na formação de Bakken, em North Dakota, se produzia óleo comercialmente, não as grandes empresas, mas pequenos operadores (em termos de petróleo). Sabia-se há muito tempo o tamanho das reservas, entretanto não se sabia o que era recuperável (extraído comercialmente), a grande discussão que havia e que persiste até hoje era o grau de recuperação das imensas camadas de folhelhos betuminosos.

Além da formação Bakkem há as formações, como Barnett e Eagle Ford no Texas, que também eram velhas conhecidas dos geólogos norte-americano (início do século XX), mas só começaram a ser operadas comercialmente (com lucros) mais recentemente em torno de 2008. Os volumes de petróleo e gás nestes tipos de formações, em termos de novas descobertas, só se comparam com o Pré-sal brasileiro.

Apesar de velhas conhecidas somente o aumento do preço do petróleo é viabilizou a operação em grande escala da operação comercial das reservas “shales”. Algo semelhante ao Pré-Sal brasileiro, com uma diferença, o Pré-sal brasileiroexige enormes investimentos iniciais para depois extraí-los com o tempo, já no caso dos depósitos nos folhelhos, a extração de hidrocarbonetos não precisam de um investimento altíssimo, mas exigem um alto investimento constante.

Para mostrar melhor o problema veja abaixo a figura 1 extraída do Departamento de Recursos Minerais do Estado de North Dakota nos Estados Unidos.

FIGURA 1.

A figura 1 mostra que a produção de óleo num condado específico em North Dakota, o condado de Billins. Este é o terceiro condado com maior produção histórica de óleo no estado e um dos mais antigos produtores de óleo, produzindo desde agosto de 1954. Com os valores mensais pode-se verificar que a produção máxima anual foi obtida em dezembro de 1981 e atinge uma média de 19,714 milhões de barris de petróleo no ano anterior. Atenção o gráfico que apresenta as médias mensais, mais variáveis e episódicas o valor máximo é de 1,744 milhões em maio de 1981.

Após este máximo a produção vem declinando mesmo com a manutenção do mesmo número de poços. Em outra tabela, que é bem mais longa, é possível mostrar que o número é composto por poços novos, que introduzidos no campo não conseguem segurar o declínio dos poços antigos.

Para ficar mais claro, e como se sabe que a produção de óleo e gás esta sendo crescente, é melhor colocar um local em que a produção. A figura 2 mostra que o crescimento da produção no condado de Monthly é obtido pelo aumento maciço do número de poços, mascarando o decaimento individual de cada poço. 

FIGURA 2.

O que acontece em North Dakota, segunda a descrição de outros especialistas, é ainda pior na formação de Barnett no Texas. A formação de Eagle Ford tem sua exploração muito recente (aproximadamente em 2010) e dados credíveis ainda não são divulgados, entretanto devido a semelhança a outras se pode inferir que o resultado será o mesmo.

Outro ponto interessante levantado há pouco tempo é grandes empresas estão amarando a sua renovação de estoques para extração de óleo em reservas como a de Bakken, que são comprovadamente de curta duração (em seis anos há um declínio de produção de 94%), ou seja, estão trocando velhos e longamente produtivos poços de petróleo e gás convencional por poços de curta duração.

 

Se for considerado nisto tudo o passivo e os custos dos estados para cobri-los já é outra questão, que coloca o “shales” (gás e óleo) em maior suspeição, mas isto já é outra história.

Com mais alguns dados, que demandariam muito espaço para demonstrá-los, pode-se concluir que para viabilizar a indústria do petróleo norte americana (com lucro real) é necessário um petróleo acima de US$120,00 o Barril e também subir o preço do gás. Por isto e por outras quanto mais confusão houver no Oriente Médio, melhor ficará para a economia norte-americana.

Luis Nassif

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  1. “Em abril de 1951 na formação

    “Em abril de 1951 na formação de Bakken, em North Dakota, se produzia óleo comercialmente, não as grandes empresas, mas pequenos operadores (em termos de petróleo). Sabia-se há muito tempo o tamanho das reservas, entretanto não se sabia o que era recuperável (extraído comercialmente), a grande discussão que havia e que persiste até hoje era o grau de recuperação das imensas camadas de folhelhos betuminosos”.

     

    O óleo extraído de Bakken não é  de folhelho, trata-se de tight oil, ‘óleo apertado’, contido em rocha de baixa porosidade, em que a viscosidade não permite extração fácil; daí o uso da técnica de fragmentar a rocha (fracking), adicionar areia, para conter as fraturas, e solventes, para baixar a viscosidade, o que acaba resultando em penetração em camadas adjacentes, contaminando águas subterrâneas com o coquetel de solventes ultravenenosos. Essas técnicas são conhecidas há décadas, somente preços elevados permitem sua efetivação, mas são muito limitadas, não permitirão a substituição plena da quantidade retirada dos petróleos convencionais, a iminência do pico do petróleo é inevitável, temos de pensar em outro modelo de civilização: a Era Industrial já era.

     

    Em tempo: o óleo de folhelho, shale oil, não é petróleo propriamente dito, trata-se de querogênios, betumens, substâncias que requerem procesamentos para serem aproveitadas como petróleo, um petróleo sintético.

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