Trechos da sabatina de Joaquim Barbosa

Por J.Roberto Militão

Reposta do post: “O erro de entender o STF como técnico e politicamente neutro

Para os comentaristas mais indolentes, com as sérias acusações ideológicas contra o Ministro JOAQUIM, trago aqui parte de suas respostas quando sabatinado em 2003, na CCJ do Senado Federal, em que fica claro, a meu ver, não tratar-se de um inimigo ideológico do PT e do governo LULA.

Para mim ganha relevância no debate proposto por ANDRÉ, que no caso, a indicação racial do Ministro, não podia ser considerada condição de lealdade presumida, o que seria uma violência a mais na violação da sua dignidade humana. Eis as palavras do Ministro, em 2003:

“Passo, agora, a responder à pergunta do Senador Eduardo Suplicy. Na palestra que fiz, em novembro, na Universidade da Califórnia, dez dias após a eleição do Presidente Lula – havia uma curiosidade imensa sobre essa mudança importante –, falei, basicamente, sobre o significado histórico dessa mudança.

E qual seria o significado para mim? A meu ver, a eleição do Presidente Lula, a sua chegada à Presidência da República, configura, talvez, o nosso primeiro caso de real alternância de poder. Isso eu disse na palestra.

As democracias bem sedimentadas já estão absolutamente acostumadas a essas mudanças, a essas alternâncias, pois o quadro político muda com muita freqüência. A meu ver, no Brasil, até então, havia uma migração sociológica. No entanto, basicamente, a configuração sociológica do grupo dominante era a mesma. Um partido ganha a eleição, o outro perde, mas, sociologicamente, as pessoas se identificam, têm o mesmo perfil sociológico. A chegada de um Presidente com as características sociais do Presidente Lula muda completamente o quadro. Não precisaria nem explicar. E o mundo viu a mudança dessa maneira.

Falei também, na palestra, sobre a especificidade do Partido dos Trabalhadores. É um partido que, realmente, assemelha-se a outros partidos. Sobre alguns, já tive oportunidade de refletir nos longos períodos em que morei na Europa. Trata-se de um partido, a meu ver, com uma configuração social-democrata no estilo europeu. É um partido que não renega o modo de produção capitalista, mas tem a preocupação profunda de combater, de corrigir as mazelas do sistema capitalista, de implantar algum tipo de proteção de salvaguarda social.

Sobretudo, tendei espantar certos fantasmas típicos da vida política americana. Falo do pavor de que um presidente eleito por um partido de esquerda possa atear fogo neste grande País, o maior da América do Sul. Foi uma tentativa de contextualizar, de mostrar-lhes algo diferente. Não para pessoas do meio acadêmico, mas para as pessoas de fora da universidade que tinham muita curiosidade sobre o Brasil. Por último, falei sobre questões institucionais relacionadas à eleição.

Fiz uma pequena digressão sobre um dos aspectos que começa a despertar grande interesse no Exterior sobre o Brasil: a Justiça Eleitoral.”

(pag.40/41 da sabatina no Senado – Publicação do Senado Federal:

http://www.senadorpaim.com.br/uploads/downloads/arquivos/9a3b748ac4a8748f47c6f645dc5d710d.pdf

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador