Tempos de resgatar Allan Kardec

Em seu novo livro, “Revolução espírita – A teoria esquecida de Alan Kardec”, Paulo Henrique de Figueiredo reafirma a gênese do espiritismo. Leia a entrevista.

Compreender o Espiritismo além do que se convencionou chamar de religião tornou-se o desafio em um novo milênio em que as ciências são redescobertas de forma plena, em diálogos e divulgação constantes na internet. Levar este Espiritismo ao coração de jovens ávidos por respostas racionais e atentos às ciências clássica e quântica disseminadas em blogs, artigos e vídeos ainda passa bem longe do que hoje é apresentado nos espaços espíritas.

Um dos expoentes deste “passo a mais” no aprofundamento, ou resgate, da doutrina codificada por Allan Kardec é o pesquisador Paulo Henrique de Figueiredo. Ele se absteve de ficar somente em debates corriqueiros, tais como se o espiritismo é ou não uma religião ou se possui ou não dogmas, ou ainda se o chamado movimento espírita é arrogante ou excludente. Não, o caminho do Paulo, sem exageros, foi o mesmo do professor Hippolyte Léon Denizard Rivail há 160 anos: promover um diálogo propositivo e pesquisa com profundidade. Desta vez, para resgatar a gênese do espiritismo.

Paulo arregaçou as mangas e ocupou os espaços: na internet, com artigos regulares; no meio editorial, com obras de peso; nas ondas radiofônicas, com um programa semanal na Rádio Boa Nova. A nova ordem: não deixar cair no esquecimento as profundas origens da Doutrina dos Espíritos, tal qual veio ao mundo.

Em seu novo livro, “Revolução espirita – A teoria esquecida de Alan Kardec”, Paulo traz um estudo da origem do “espiritualismo racional” proposto por Kardec. Para ambos os pesquisadores, as religiões tradicionais, e também as doutrinas materialistas, colocam as leis fora do indivíduo, submetendo-o ao castigo e à recompensa. “Vamos demonstrar em ‘Revolução Espírita’ que o Espiritismo veio consagrar essa teoria da moral autônoma, afirmando que ela está fundamentada na lei natural que rege o universo!”

Além disto, Paulo Figueiredo resgata as relações entre espiritismo e magnetismo: “O que encontrei foi surpreendente! Os conceitos divulgados por Allan Kardec, que revolucionaram a cultura da época, estavam esquecidos, não mais divulgados em nossos tempos.”

Nesta entrevista exclusiva, Paulo fala sobre o verdadeiro Espiritismo e detalhes sobre a nova obra e reafirma a responsabilidade de cada espírita em conhecer e divulgar o autêntico espiritismo de Kardec. “No alto das tribunas, em artigos, livros, nos cursos, encontros, seminários e nas variadas mídias”, motiva Paulo.

” Na época de Allan Kardec, uma filosofia extraordinária, “espiritualismo racional”, havia surgido como resgate da moral, lutando contra o fanatismo milenar dos desvios do cristianismo original, e também contra o radicalismo materialista surgindo em seguida à revolução francesa.”

Paulo Henrique de Figueiredo

Como surgiu a ideia do livro Revolução Espírita?

Pertenço a uma família espírita atuante no movimento espírita desde meus avós. Passei a infância e juventude convivendo com grupos de jovens, trabalhos mediúnicos, estudos espíritas no cotidiano de nossa residência. Por volta dos 17 anos, já havia lido as obras de Kardec, as complementares e me debruçava na Revista Espírita, preparada pessoalmente por Allan Kardec, todos os meses, durante mais de dez anos.

Logo no primeiro ano, Kardec afirmaria aos leitores que o Magnetismo Animal era uma ciência irmã do Espiritismo, e que não seria possível compreender uma sem conhecer a outra. Segundo ele, elas deveriam se “prestar um mútuo apoio, elas se completam e se explicam uma pela outra” (Revista Espírita, 1858).

Mas minha pesquisa da história e filosofia dessas ciências não parou por aí, avancei no tempo, resgatando as relações entre as duas, estudando como a comunidade de magnetizadores recebeu e estudou os fenômenos espíritas, fazendo uso dos sonâmbulos para dialogar com os espíritos, que invadiam o mundo com seus ensinamentos. O que encontrei foi surpreendente! Os conceitos divulgados por Allan Kardec, que revolucionaram a cultura da época, estavam esquecidos, não mais divulgados em nossos tempos.

O professor Rivail havia estudado o Magnetismo Animal por mais de 35 anos antes de iniciar sua pesquisa dos fenômenos espíritas. E, em seu último ano antes de sua volta ao mundo espiritual, escreveu a seguinte afirmativa:

“O Magnetismo animal e o Espiritismo são, com efeito, duas ciências gêmeas, que se completam e se explicam uma pela outra, e das quais aquela das duas que não quer se imobilizar, não pode chegar a ser completa sem se apoiar sobre a sua semelhante; isoladas uma da outra, elas se detêm num impasse; elas são reciprocamente como a física e a química, a anatomia e a fisiologia” (Revista Espírita, 1869).

Considerei essas palavras fortes e fundamentais. O professor estava afirmando que o Espiritismo ficaria imobilizado e incompleto caso não estivesse apoiado pela ciência do Magnetismo Animal! E, de fato, desde o último século, as teoria de Mesmer, criador dessa ciência, estava completamente esquecida dentre o movimento espírita!

Desde aquele dia, tomei como determinação pesquisar profundamente essa ciência gêmea do Espiritismo para retomar seus conceitos fundamentais, compreender as ideias, refazer a biografia de Mesmer, que estava sendo difamado em livros secundários e demais mídias, injustamente. O resultado foi a obra “Mesmer, a ciência negada do magnetismo animal”, que vamos reeditar ampliada e corrigida no início de 2017.

Mas minha pesquisa da história e filosofia dessas ciências não parou por aí, avancei no tempo, resgatando as relações entre as duas, estudando como a comunidade de magnetizadores recebeu e estudou os fenômenos espíritas, fazendo uso dos sonâmbulos para dialogar com os espíritos, que invadiam o mundo com seus ensinamentos. O que encontrei foi surpreendente! Os conceitos divulgados por Allan Kardec, que revolucionaram a cultura da época, estavam esquecidos, não mais divulgados em nossos tempos.
 
Até que ponto o espiritismo é compreendido dentro do movimento espirita representado pelas federativas, ou de uma forma geral?

Na época de Allan Kardec, uma filosofia extraordinária, “espiritualismo racional”, havia surgido como resgate da moral, lutando contra o fanatismo milenar dos desvios do cristianismo original, e também contra o radicalismo materialista surgindo em seguida à revolução francesa.

Professores da Universidade de Paris, pesquisaram a história da filosofia e estabeleceram um conjunto de teorias homogêneas sobre as relações da alma e o corpo, sustentados pelos métodos de pesquisa científicos. Royer-Collard, Victor Cousin, Theodore Jouffroy, depois Paul Janet, são alguns desses desbravadores. Esses estudos, levados também aos currículos dos Liceus e colégios, formaram toda uma geração interessada nas soluções dos problemas sociais da humanidade.

Nesse momento, extremamente favorável, foi que chegou o espiritismo. Kardec vai afirmar que o Espiritismo seria “o desenvolvimento do espiritualismo racional”. A base fundamental dessa filosofia espiritualista era a moral autônoma. Quando o indivíduo se desenvolve a partir das leis divinas presentes em sua consciência. Todas as religiões tradicionais e também as doutrinas materialistas colocam as leis fora do indivíduo, submetendo-o ao castigo e recompensa. Vamos demonstrar em “Revolução Espírita” que o Espiritismo veio consagrar essa teoria da moral autônoma, afirmando que ela está fundamentada na lei natural que rege o universo!

Toda essa história fundamental, resgatada pela História e Filosofia da Ciência Espírita, está esquecida. Não mais se divulga no meio espírita. Por isso o subtítulo do livro “A teoria esquecida de Allan Kardec”. Recuperá-la será resgatar a vocação revolucionária do Espiritismo, retomando sua posição de vanguarda na cultura humana, instrumento esclarecedor para a regeneração da humanidade.

O verdadeiro Espiritismo foi uma mensagem de igualdade, liberdade e fraternidade, consagração do dever como ação lúcida e voluntária em acordo com a consciência. Foi a mensagem de Sócrates, dialogada com jovens, mulheres e interessados numa pequena sapataria ao lado de uma praça na Grécia. Foi a consagração dos ensinamentos de Jesus, o carpinteiro de Nazaré, dizendo aos simples: vocês herdarão a Terra! 

Paulo Henrique de Figueiredo

 

Como resgatar esta revolucionária teoria moral espirita?

 

O meio de resgate é a educação. Allan Kardec estava fortemente entusiasmado com a possibilidade de transformação da humanidade. Na escola e na universidade se estudava a moral, a ligação entre a alma e o corpo, a moral autônoma, os atributos de Deus. Dentre esses temas, o Espiritismo era um complemento que dava legitimidade científica e filosófica a essas ideias espiritualistas. Eram os próprios espíritos que vinham do além-túmulo esclarecer aos homens. Para Kardec ocorreria, como consequência, uma nova Revolução, nos moldes da Francesa:

“Ocorrerá uma transformação da Sociedade; uma nova ordem de coisas, novos hábitos, novas necessidades; modificará as crenças, as relações sociais; fará, ao moral, o que fazem, do ponto de vista material, todas as grandes descobertas das ciências”. (RE65)

A história de uma ciência é basilar para o entendimento de seus fundamentos. Isso ocorre com a Física, Química, e também ocorre com a ciência espírita. O espírita deve compreender as diferenças entre a moral autônoma e a heterônoma, isso deve ser divulgado no alto das tribunas, em artigos, livros, nos cursos, encontros, seminários e nas variadas mídias. Essa será a grande contribuição do Espiritismo em nosso tempos de ceticismo e fé cega, últimos suspiros do velho mundo. As novas gerações já chegam mergulhadas na esperança, cientes do valor da liberdade, e prontas a agir solidariamente e de forma consciente na elaboração do mundo novo!

Qual é o verdadeiro espiritismo nas sua opinião?

O verdadeiro Espiritismo foi uma mensagem de igualdade, liberdade e fraternidade, consagração do dever como ação lúcida e voluntária em acordo com a consciência. Foi a mensagem de Sócrates, dialogada com jovens, mulheres e interessados numa pequena sapataria ao lado de uma praça na Grécia. Foi a consagração dos ensinamentos de Jesus, o carpinteiro de Nazaré, dizendo aos simples: vocês herdarão a Terra! O Espiritismo está em agir com liberdade, escolhendo o bem de todos e não o de si próprio somente. Está em esclarecer o simples e o sábio, com argumentos que atendam a todos. Está em unir alegria e compreensão, pois seu edifício não se constrói sobre sofrimento e medo, mas sim sobre a base sólida da fé raciocinada e do entusiasmo em mudar o mundo pela adesão voluntária de cada ser humano de nosso orbe. Esse, para mim, é o verdadeiro Espiritismo!

Muitos espiritas ainda se sustentam somente na crença, deixando os estudos de lado, e o saudável exercício da dúvida. Como orientar dentro dos grupos uma mudança de atitude?

Em nossa obra “Revolução Espírita”, aliamos o estudo de conceitos fundamentais do Espiritismo a uma narrativa histórica que recupera a biografia de Allan Kardec em detalhes antes jamais revelados. Isso torna, segundo os ledores, a sua leitura instigante e ao mesmo tempo esclarecedora. Quem divulga o Espiritismo tem o dever incontornável de estudar a Doutrina Espírita profundamente, conhecer toda a extensão da obra de Kardec, conhecer o cenário cultural da época, considera os significados originais dos termos utilizados, estudar os manuais do “Espiritualismo Racional”, filosofia francesa século 19, como a obra “Tratado de Philosofia” de Paul Janet, que forma a base teórica a partir da qual, segundo Kardec, o Espiritismo se desenvolveu.

Deve conhecer profundamente as diferenças entre a moral autônoma e a heterônoma. Só então, certo do tema que irá tratar, poderá se dedicar à divulgação do Espiritismo. Mesmo assim, precisa estar consciente de que somente os espíritos superiores que elaboraram a Doutrina Espírita são professores dessa ciência. Todos nós, encarnados, somos somente educandos ou estudantes. Devemos, portanto, aprimorar nosso entendimento pelo diálogo, pela pesquisa grupal, pois ninguém tem condições sozinho de conhecer todos os ramos do conhecimento que o Espiritismo toca e esclarece. A divulgação e o estudo do Espiritismo é uma obra coletiva.
 
Tem planos de lançar seu livro para Kindle (.mobi) e outros formatos como epub?

Atualmente, a publicação em livros de papel corresponde à demanda mais ampla para sua divulgação e estudo. Os recursos dessa obra serão plenamente reinvestidos na republicação da obra “Mesmer, a ciência negada do Magnetismo Animal”, e das outras que virão. Futuramente, porém, com esse projeto estabelecido solidamente, vamos publicar esses livros nas versões digitais.

(por Manoel Fernandes Neto)


Revolução Espírita – A Teoria Esquecida de Allan Kardec.

Paulo Henrique de Figueiredo

Para adquirir ) 

Saiba mais:

http://revolucaoespirita.com.br/

 
Redação

1 Comentário

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  1. “Revolução Espírita” é velha igreja e devia ser “Racional ou Quântica ou dos Espíritos ou da Nova Era” ( do Livro do Paulo H. Figueiredo)
    https://www.linkedin.com/pulse/revolu%25C3%25A7%25C3%25A3o-esp%25C3%25ADrita-%25C3%25A9-velha-igreja-e-devia-ser-ou-dos-da-garrucino/?fbclid=IwAR0yyc5nrEzd7RJtGRJFy1Dw-WDETewi74nqDG6KGRF1ZNfq9cYdII-NPKg

    Kardecismo igrejista matou espiritismo ciência e filosofia e dos espíritos pois uma coisa anula a outra. Hora da verdade com pesquisas do PAULO H. Figueiredo, Mesmer, Kardec, Simoni Privato, Espiritualismo Racional e Revolução Francesa.

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