Greve geral, que medo

Pensei, pensei, pensei… Quase não venho aqui escrever, porque, confesso, sinto como se um caminhão enorme tivesse passado por cima do meu corpo. Cansada, quase deprimida (sem exagero, conheço a sensação). Conversei com alguns pelo whatsapp, me sentindo um tanto mais protegida dos ataques por conta da minha opinião – eis que resolvi, uma vez em greve, dar conta de aprofundar meu raciocínio. 

O que acabei percebendo é que não tenho repertório, de verdade, pra defender ou não a reforma da previdência – o que tenho, ainda, é um medo enorme do que este tipo de decisão faz emergir à superfície. Sem-querer-julgar-já-julgando, o tanto de postagens e comentários de gente que, tenho certeza, tem o mesmo ou menos ainda profundidade e embasamento real pra opinar no assunto, enfim, o enorme número de postagens e comentários que dão conta dos “heróis brasileiros”, estes que foram trabalhar, em detrimento aos que “mamam nas tetas do governo”, os que apóiam a greve e, claro, portanto, como toda política de exclusão, é petista; o ódio que estes heróis sentem das pessoas que questionam seus pontos; o argumento sempre presente de estarem a serviço da salvação da pátria, da lavoura, gente…, é mesmo golpe. 

Até hoje, vou ser honesta com vocês, me perturbava essa coisa do golpe. Entendo as manobras, entendo as movimentações e entendo a sede de poder, mas achava que existia um certo exagero quando alguns citavam a tal higienização como um dos pontos centrais para que o golpe ocorresse. “Eles não suportam ver as classes inferiores aparecendo”. Achava aquilo bizarro, de certa forma até fantasioso, só que pendendo pra um outro lado. 

Eis que hoje, sério mesmo, tive contato com frases como “e esses índios achando que ainda mandam em alguma coisa? se vistam ou se matem!”; “a reforma nas leis trabalhistas só não afeta quem quer trabalhar e ponto, sem mimimi de doença, gravidez, essas coisas…” (é, essas coisas que são puro mimimi, invenção petista isso de ficar grávida, de ficar doente, um saco esse povo!); “por que vocês grevistas acham que a empresa tem que pagar pelos seus sonhos? quer realizar? trabalhe!” (até agora tentando entender esse aqui!) e, enfim, de uma pessoa que um dia já foi amiga e, hoje, mais do que nunca, percebo quando minha psicóloga diz que eu realmente não fazia parte daquele grupo e, portanto, que comemore o afastamento: “Eu pretendo ser uma empresária um dia e se eu puder ser no meu país eu quero normas e regras mais justas e mais trabalhadores dispostos a trabalhar e se doar. Se não, bye bye Brazil!”.

Não pude ficar quieta, eu queria, juro, até porque tô me sentindo estranha mesmo, como se aquilo que estudei nas aulas de história e que provocou náusea e vômito ao visitar o o museu do DOI-CODI estivesse acontecendo diante dos meus olhos, com uma filha recém ingressada na faculdade, meu deus, como é que a gente vai viver daqui pra frente?, tô assim, abe, com esse tipo de medo que enjoa, dá tontura, dá uma confundida nas ideias e então não queria gastar o resto de energia que tinha pra debater. Mas não deu. 

Debati. 

Respondi que “quer dizer, desde que as mudanças só ferrassem os futuros empregados dela, quando empresária, então estava tudo bem? Então tá, né?, ufa!” Ao que ela replicou “ufa”. Greves fora, paralisei de vez. Chorei um pouquinho também, porque a coisa tá bem feia, e é verdade. Não tá feia “só” na economia não… tá feia nos cabrestos. Tá feia na falta de interesse em se informar. Tá feia na falta de (pasmém!) onde se informar. É tempo de decisões inflamadas, emocionais, o tipo de cenário propenso pra receber um golpão daqueles. 

Ou desse aqui, esse que tá sim, viu?, rolando bem debaixo dos nossos olhos. 

Mariana A. Nassif

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