Internet, uma pequena cidade do interior, por Matê da Luz

Por Matê da Luz

Conversando com minha mãe e minha filha sobre os posts opiniáticos acerca de diferentes temas que temos visto no Facebook, especialmente. Apesar de fazermos uso distintos da ferramenta – eu tenho 35, a mãe tem 67 e a filha tem 16 – o resumo foi unânime: o gole de coragem que o fator online traz para a grande maioria de nós beira a imaturidade. 

Explico: apesar da enorme onda de violência política e dissipação do ódio como ingrediente comum nas conversas de bares  encontros com amigos, alguns tipos de opinião ficam bizarras tamanha a mediocridade quando expostas nas redes sociais. É claro que não estou falando que isso é um fato incontestável, tenha filtro, mas temas como a homossexualidade e as batalhas do machismoXfeminismo recebem palavras que pouco provavelmente seriam proferidas ao vivo. 

Os conteúdos políticos também, é claro, são covardemente encorajados pela proteção da nuvem – tem gente que deseja a morte, que diz que mata e que muda de País – não vi nenhum destes que prometeram desde o começo do ano saírem da pátria amada com a vitória da oposição à sua vontade, entretanto continuam postando a torto e à direito que está impossível viver aqui, estou indo pra Miami… 

A questão dos nudes acaba atingindo mais a molecada do que nós, “os mais velhos”. Embora nestas últimas semanas tenham circulado fotos do Stênio Garcia e sua bela esposa (ele também em excelente forma e, ao que consta, em plena atividade sexual – uma ofensa pros que pensam que os “velhinhos” só pensam no que comprar de presente de Natal) e, ainda assim tenha sido um choque, as chantagens de quem usa a internet pra espalhar amor se transformam em pesadelo quando o tal do amor acaba e, perigo, os adolescentes definitivamente não estão preparados para compartilhar o que não querem. São mestres em postar tudo sobre tanto nas mais diversas plataformas, desde que queiram e, talvez por inexperiência, acabem ultrapassando a linha do bom senso e esquecendo que a regra é a do que seja eterno enquanto dure. 

Imagino que se estas fotos – as do Stênio, a da colega da sala ao lado, a minha ou a sua – circulassem no mundo fora da internet, o cuidado com a disseminação deste conteúdo seria muito mais cuidadosa – ou desinteressante. Uma revista impressa jamais publicaria o casal global e quanto menos qualquer tablóide ou, quiçá, pessoa física assumiria o B.O. de disribuir cópias de fotos íntimas da ex namorada pelos corredores da escola. 

É claro que a internet tem mil maravilhas, que como todas as coisas deste mundo depende de escolhas de quem faz mas, convenhamos, pelo menos em se tratando do Facebook, sei não, mas aquilo ali tá mais pra mentalidade de cidade pequena do interior na década de 20 do que pra expansão de consciência. (eu já migrei de volta para o Twitter, onde os conteúdos de personagens verificados faz valer o dia!)

Mariana A. Nassif

4 Comentários

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  1. Deixe-me ver se entendi tudo

    Deixe-me ver se entendi tudo direito: Você tem coragem de postar um texto na internet sugerindo que a censura deve existir porque as pessoas são incapazes de se auto-censurar na internet. Portanto, você poderia ser colocado entre os que apoiam uma Ditadura como aquela que explodia bancas de jornais e matava jornalistas indesejados na década de 1970. Contudo, você não quer ser considerado autoritário ou, na por das hipóteses, não tem colhões de defender abertamente uma nova Ditadura. Sua auto-censura em favor da censura é realmente comovente. Sua hipocrisia é quase tão grande quanto a de FHC. Aplausos irônicos para você, clap, clap, clap…. 

    1. Não, você não entendeu tudo

      Não, você não entendeu tudo direito. Ainda bem que gente tão consciente a ponto de comparar respeito ao próximo com censura ditatorial pergunta logo no começo do comentário se entendeu ou não o post, ufa! (ironia pura, sem os aplausos pra você).

    2. Eu acho que ela SÓ falou que

      Eu acho que ela SÓ falou que as pessoas em geral perdem o bom senso quando estão no mundo virtual.

      Existe uma diferença enorme em afirmar isso e sugerir/apoiar censura…

  2. Ao contrário do camarada

    Ao contrário do camarada Fábio entendo que você não prega a censura. Apenas apontou o rídiculo que certas pessoas estão fazendo na internet por simples falta (essa não o do seu tempo) de simancol. Os psicólogos e psiquiatras poderiam lhe ajudar a denominar esse fenômeno do se fazer notar a qualquer preço nem que seja sacaneando a todos em volta. Personalidade frágil? Personalidade incipiente? ou simplesmente mal-caratismo mesmo? Bom, do alto dos meus montão de anos tenho apenas a dizer: Não sei o que virá no rastro disso tudo. Parece-me que vai piorar. Afinal, tem gosto para tudo.

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