Serena Assumpção e o álbum póstumo mais emocionante que já ouvi, por Matê da Luz

Serena Assumpção e o álbum póstumo mais emocionante que já ouvi

por Matê da Luz

Procurei neste mesmo portal antes de escrever este post e encontrei inúmeras citações (aqui), mas confesso que não consigo me conter e registrar minhas impressões sobre esta beleza de álbum, Ascensão, e, também, para que quem não ouviu, ouça (e quem ouviu, re-ouça). Vale cada nota. 

Tomei contato com Serena numa festa de vinil onde tocava o DJ da Marafo Records, uma delícia de som que envolvia MPB da boa e as macumbices que tanto aprecio. A esposa do DJ foi quem me contou a história toda do disco e eu, claro, me apaixonei por tudo, pelo clima, pelas letras, melodias, pelo timing e me emocionei quando ela contou que esteve presente no lançamento do disco no Sesc, em São Paulo, ano passado. Segundo consta, foi mágico de verdade: uma perfeita gira em homenagem à artista que, onde estivesse, certeza de ter pedido agô pra chegar lá e viver tudo isso. 

Aqui o link do YouTube pra escutar o disco todo. 

Serena é filha de Itamar Assumpção e, enfim, dele herdou a sensibilidade de musicar sentimentos, como são os transmitidos pelas cantigas de candomblé interpretadas por ela neste disco. “Ah, mas fica muito restrito pra quem do axé” – olha, não fica não, desde que a pessoa tenha ouvidos aprumados pra escutar melodia, doçura e força na medida certa e, claro, que não se prenda nas (neste caso) pequenices religiosas. Não só porque eu aprecio a macumba, mas especialmente porque o disco é belíssimo, de verdade. 

Tá certo que a intenção do álbum foi registrar as cantigas de terreiro, especialmente as do Ile De Oba De Dessemi, frequentado por ela desde os seis anos. Tá certo, mas não é só isso. Considerado um acalanto pela crítica, o disco tem musicalidade impecável, excelente pra tocar em diversas ocasiões, desde sozinho naquela preguicinha até como fundo para encontrinhos deliciosos, daqueles com drinks e alguma risada. 

Serena registrou as cantigas durante quase sete anos, escolhendo especialmente cada participação instrumental, identificando a letra dos pontos com o fluir musical que, dentro dos terreiros, é pautado pelo atabaque. Quem conhece um pouco os Orixás pode perceber, que preciosidade!, a presença da personalidad de cada um deles nas faixas específicas. Sinceramente, não sai do meu player. O nome do álbum foi escolhido pelos búzios, a saber e suspirar um pouco mais. 

No mais, o santo não vai baixar nem te pegar porque você está escutando uma musiquinha ou outra – e, se pegar, corre pro terreiro! 

Mariana A. Nassif

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