Um texto sobre economia para quem não gosta de economia

O Eduardo Amuri, que é o cara que salvou minhas finanças quando eu achava que a vida não ia dar certo, escreveu esse texto no Papo de Homem, que é um dos portais que eu mais gosto de ler. Ele vai sair do PdH em breve e, então, aconselho que vocês encontrem outra forma de se conectar com ele – o Amuri compensa, assim como a visão dele sobre grana e a vida. 

Neste texto aqui em baixo, apesar da temática evoluída demais pra mim – ainda estou no modo planilha única para controlar e planejar a finaça básica do dia a dia, vez ou outra caindo nas armadilhas do “semana que vem eu recomeço a usar”, ele dá dicas simples e eficazes pra quem quer investir. 

Prometo que semana que vem eu começo 🙂 

***
3 conceitos básicos para começar a investir em algum lugar melhor que a poupança

Aprenda a questionar o gerente do seu banco, sem precisar saber tudo sobre “economiquês”

Já falamos sobre planejamento financeiro, sobre a importância de uma reserva de emergência e sobre como começar a guardar algum dinheiro para algum projeto específico é mais importante do que toda a parte técnica do mundo dos investimentos.

O hábito e a postura contam mais do que o economiquês.

Mas isso não quer dizer que escolher uma boa modalidade de investimento para juntar as moedas não seja algo importante.

Antes de escolher qualquer coisa, porém, é preciso entender alguns conceitos básicos. Sem eles, todo o resto parece algo muito mais complicado do que de fato é.

Três deles serão explicados agora em poucas linhas, pra gente comum – aquelas que não ficam empolgadíssimas quando começa a seção de economia do jornal e que sentem um pouco de preguiça quando alguém usa mais de uma sigla por frase.

Serão eles: a taxa do CDI, a rentabilidade e a liquidez.

No final, vamos amarrar essas três informações e utilizá-las para interpretar uma oferta real de investimento.

Não vai nem precisar abrir o Excel pra fazer conta, prometo, e vai te ajudar bastante a recusar “oportunidade imperdível” oferecida por gerente de banco picareta.

O que é taxa do CDI?

Antes de entender a taxa do CDI, vamos entender o que é CDI.

A rotina financeira de um banco é complexa. Para honrar todas as suas operações (com o mercado e com o governo) e fazer dinheiro, os bancos emprestam e a tomam dinheiro emprestado, uns dos outros, todos os dias. E eles fazem isso em transações de curtíssimo prazo: um dia.

Em linhas gerais, para fechar a conta, o Banco Laranja pega dinheiro do Banco Vermelho (através de um certificado), que pega dinheiro do Banco Amarelo, que empresta pro Azul e pro Verde, e assim sucessivamente.

Cada uma dessas transações é firmada através de um CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e, obviamente, cada uma dessas operações tem um juros atrelado.

Finalmente o mercado, através de suas entidades reguladoras, faz uma média entre as taxas de juros de todos os CDIs emitidos no dia, e calcula a taxa do CDI.

No final de cada mês, é comum calcularmos a média da taxa do CDI de todos os dias, para chegarmos no CDI mensal. E isso é informação pública. Essas são as médias dos últimos três meses:

  • Junho/16: 1,16%
  • Julho/16: 1,10%
  • Agosto/16: 1,21%

“Ok, mas – sem querer ser grosso – pra que me importa esse monte de informações, se essas taxas só servem para os bancos trocarem dinheiro entre si?”

Calma que a gente chega lá. Vamos para os próximos conceitos, depois a gente amarra tudo.

O que é rentabilidade?

Há algum tempo, fui conversar sobre grana com a molecada do Colégio Tiradentes, em Uberaba, e o papo fluiu muito, muito bem, mesmo tendo ficado bem claro que eles não tinham conhecimento prévio nenhum.

Tenho certeza que só rolou tão bem porque eles são jovens e não se sentem culpados por não saber o básico. Acredito que temos dificuldade de falar sobre investimentos porque temos vergonha de perguntar, mesmo que seja algo simples. Então, chegou a hora.

Quando dizemos que tal investimento rende 1% ao mês, o que estamos querendo dizer, na prática?

Vamos com um exemplo.

Se tenho R$ 1500 e invisto em algum lugar que rende 1% ao mês, o que estou dizendo é que, por deixar meu dinheiro lá parado receberei 1% a mais do valor que investi.

1% de 1500 é igual a 1500 dividido por 100, ou seja, 15. Efetuando a soma (do que eu tinha e do quanto rendeu), terminarei o mês com R$ 1515.

Um jeito mais prático de calcular é através de uma multiplicação:

  • 1500 * 1,01 = 1515,00.

Se o investimento rendesse 1,5%, poderíamos utilizar um raciocínio parecido:

  • 1500 * 1,015 = 1522,50.

Se o investimento rendesse 2,5% ao mês, também:

  • 1500 * 1,025 = 1537,50.

Indo um pouquinho mais longe com o raciocínio, se eu resolver deixar o dinheiro parado por dois meses, rendendo a 1%/mês, o que acontece?

Fácil:

  • 1500 * 1,01 * 1,01 = 1530,15.

Beleza, entendi a taxa do CDI e entendi o que é rentabilidade… E agora?

Vamos para o próximo.

O que é liquidez?

“Me disseram que imóvel pode não ser bom investimento, porque não tem liquidez. Mas que que é isso?”

No contexto dos investimentos, liquidez é, basicamente, a possibilidade de transformar seu investimento em dinheiro de verdade. Utilizável no mercado, na lanchonete, no sebo do Seu Joaquim que não tem nem maquininha de cartão.

Quando alguém diz que tal investimento tem liquidez diária, está dizendo que, a qualquer momento, de maneira imediata, você consegue se desfazer do investimento, transformando-o em dinheiro. Um imóvel tem liquidez baixa porque é bastante provável que você não consiga se desfazer dele tão rapidamente (é necessário organizar documentação, encontrar um comprador, efetivar a transação, enfim, toda a burocracia).

Quando alguém diz que tal investimento tem liquidez D+15, está querendo dizer que, após solicitar o resgate de tal investimento, você precisará esperar 15 diasaté que o dinheiro proveniente da venda desse investimento esteja disponível na sua conta bancária.

Uma das causas da popularização da poupança é a liquidez imediata: se precisar do dinheiro, dá pra sacar na hora, sem perder nenhum centavo.

CDI, rentabilidade e liquidez: juntando as peças

Agora que batemos nos três conceitos básicos, vamos um pouquinho mais fundo, tentando dar ênfase na importância de cada um deles.

A taxa do CDI é fundamental (mesmo que você não seja um banqueiro), porque ela é utilizada como taxa básica de mercado. A gente utiliza a taxa do CDI para indicar o quanto os outros investimentos rendem. Pegando um exemplo bem prático:

“O Banco Laranja oferece um CDB que rende 98% do CDI com liquidez diária.”

Pra se sentir levemente orgulhoso com o próprio cérebro, e imaginando que contratamos esse CDB no dia 1 de agosto e vendemos no dia 30 de agosto, sabemos que:

  1. A taxa do CDI em agosto foi de 1,21%;
  2. Esse CDB rende 98% do CDI;
  3. Colocamos R$ 1000;
  4. 98% do CDI de agosto seria 98% de 1,21%:
  • 1,21 * 0,98 = 1,1858
  1. 1,1858% é a rentabilidade deste CDB no mês de agosto. Para fins de cálculo, utilizaremos apenas duas casas decimais. Logo, 1,18%;
  2. Se colocamos 1000 e a rentabilidade é 1,18%, fica fácil sabermos quanto teríamos no dia 30:
  • 1000 * 1,0118 = 1011,80
  1. Como a liquidez é diária, sabemos que conseguimos sacar esse dinheiro a qualquer momento.

Pra quê tudo isso, colega?

Ter um conhecimento mínimo é fundamental para quem almeja construir uma vida financeira saudável, e o tema ganhou ainda mais importância com essa taxa indecente de inflação que assola nosso país.

Se a inflação é absurda e nós optamos por deixar o dinheiro na poupança (que rende muito menos do que a taxa da inflação), nosso dinheiro perde valor, simplesmente por ficar parado.

É como se fizéssemos um baita esforço para fazer sobrar um trocadinho todos os meses, e ao invés do nosso poder de compra aumentar, ele diminui. Frustrante, né?

Ficar na mão do gerente do banco também não é bom negócio, uma vez que na enorme maioria dos casos, as indicações de investimento oferecidas pelo gerente vão tomar como base as metas que ele precisa bater.

Temos que saber o básico, para termos condições de analisar as excelentes opções disponíveis no mercado nacional. Títulos do tesouro direto, LCI e LCA e ótimos fundos (renda fixa, multimercado).

A burocracia para abrir uma conta em uma corretora era imensa há coisa de 10 anos, agora está tudo bem mais fácil, e dá pra acompanhar tranquilamente através do celular.

Vale o esforço.

Não faz sentido batalhar tanto para ganhar dinheiro e não despender um mínimo de energia para cuidar.

 

Mariana A. Nassif

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