A generosidade de Tom Jobim, por Nicolau de Souza

Tom, Vinicius, Ronaldo Bôscoli, Menescal e Carlos Lyra

Em junho de 2013, o músico, compositor e produtor musical Roberto Menescal, a convite da cantora Camila Masiso, se apresentou no Teatro Riachuelo, aqui em Natal/RN, ao lado dos músicos potiguares Eduardo Tauffic (teclado) e Diogo Guanabara (violão).

Nesta comemoração do dia de nascimento do nosso maestro maior, Tom Jobim, relembro uma das entrevistas da série à época que fiz com Menescal. Ele falando sobre o agora eterno músico, compositor, cantor e maestro brasileiro, com quem conviveu de perto por longos anos.   

Nicolau – Recentemente a Folha de São Paulo lançou uma coleção “Tributo a Tom Jobim”, que vem somar aos dois filmes documentários de Nelson Pereira dos Santos, ao livro “Histórias de Canções: Tom Jobim” (Wagner Homem e Luiz Roberto Oliveira), à série de shows do Projeto Nívea Viva Tom Jobim e ao Instituto Tom Jobim (no Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro). Sabemos que em 2014, se completam vinte anos de sua perda. E como foi sua convivência com este grande maestro, músico e compositor?

Menescal – O Tom é “sobre nós”! Para mim foi e continua sendo a grande figura da música popular brasileira. Ele foi muito generoso com esta geração da gente que veio quase dez anos depois dele, sempre nos ajudou sem dizer que estava nos ajudando. Ele nunca nos criticou, pelo contrário, ele dizia assim: “Ouvi uma música tua, “Rio”, gostei muito. Esgarcei ela quase toda!” Aí ele fazia: “Rio, maré mansa” e botava a letra “Por isso é que o meu Rio não era assim….”. Aí eu perguntava a ele: “Como é Tom? Não é assim, mas vai ser assim.” Aí ele dizia que não queria modificar. Ele estava na verdade dando uma dica. Então, esta generosidade que ele tinha eu não conheço ninguém que a tivesse tido. O Tom foi o cara que me deixou uma marca muito grande. Eu estive semana passada no Instituto (Instituto Tom Jobim), lá no Jardim Botânico e falei com o Paulinho (Paulo Jobim, músico e filho de Tom Jobim): “Me deixa ficar um pouco andando sozinho por aqui…” Olha, fiquei muito feliz e emocionado e falei para mim mesmo que coisa bonita tudo isso, todo mundo tinha que conhecer e ver tudo aquilo. As pessoas não podem esquecer. Ali estavam os bilhetes escritos à mão: “Vinicius, você não acha bom isso aqui não? Vinicius, está coisa de “já botei o Cristo até demais. O que é isso? Nós precisamos respeitar.” E a resposta do Vinicius: “Ah, ah, ah!”

Nicolau – Os dois formaram uma dupla fantástica, não?

Menescal – Sem dúvida nenhuma.

Nicolau – Agora o Tom tinha uns parceiros interessantes. Olha o caso do Newton Mendonça, por exemplo, não é Menescal?

Menescal – É! E tem gente que fala que o Newton se escondia. Eu conheci o Newton. Ele era aquele cara que não falava. O Tom, por sua vez, era expansivo, era brilhante. Quando abria a porta era aquele: “Oh!” Ele perguntava se o Newton estava e o Newton ficava num canto. São personalidades totalmente opostas. Um brilhava, mas o outro não queria brilhar. Mas as músicas deles foram feitas a quatro mãos. Na canção “Desafinado”, eles se entenderam perfeitamente. Ele foi o grande parceiro musical de Tom Jobim. Ninguém nunca escondeu ele. Era a sua personalidade. E morreu com 32 anos, muito cedo.

Com informações de Roberto Menescal e Dicionário Cravo Albin de MPB

Redação

3 Comentários

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  1. Muito bom

    Edu Lobo, num especial de Tom Jobim (está em DVD), fala a mesma coisa. Dos acordes que Tom mudava nas canções de Edu, “errando” de propósito no piano. Tanto, e de tal maneira, que Edu Lobo uma vez tocou diante de Jobim uma canção com um acorde modificado por Tom. E o genial maestro:

     

    – Mas que coisa bonita, Edu!

     

    E Edu Lobo:

     

    – Sacanagem, o acorde é teu.

     

    Ainda ontem, eu falava com uma amiga: “Só os medíocres não têm generosidade, Esse negócio de eu brilhar sozinho, é coisa de quem não possui talento. Anula os demais para que lhe façam companhia”. 

     

    Tom Jobim é mais uma prova da generosidade do talento de gênio.

    1. Corrigindo

      Opa!  Sai uma vírgula, entra um ponto, e edepois sai uma vírgula. Fica: 

      “Só os medíocres não têm generosidade.  Esse negócio de eu brilhar sozinho é coisa de quem não possui talento…”.

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