ACHADOS E PERDIDOS
Odonir Oliveira
É sangue isso que escorre da minha boca
Não me segurem
não me acudam
não me acalmem.
Minha boca escorre catarro vermelho
visgo
estrato de alma podre de fel
charco de ferida biliosa
amargor de pus em traqueia.
Não me afaguem
não me toquem acordes de violinos ou de acordeões
esse tango é noite
essa mordaça é fina.
Grito, grito e grito.
A boca é minha.
A purulência é minha.
O estupor é meu.
Os dentes que marcam a pele são meus.
O contrato que reproduz a ferida é mal cheiroso e meu.
É dor, é rasgo, é contágio.
Não há mais tempo para rotatórias.
Não há mais espaços para benfeitorias ou rapapés.
O osso roído, a carne exposta, o tumor revelado.
Fétido.
Ludibrioso.
Panaceico
Patético.
É escárnio, é troça, é truque, é fosso, é falso.
(Dedicado aos corruptos e corruptores da res pública nacional)
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