Amores-perfeitos são flores lindas!, por Odonir Oliveira

Por Odonir Oliveira

Olhando a beleza dessas florezinhas, seu formato, suas cores, a delicadeza da textura de cada uma, há que se perguntar a que sentimento poderiamos nomear de amor perfeito.

Seriam aqueles amores juvenis nos quais nos envolvemos de tal modo, que se sem eles ficarmos, emagrecemos, adoecemos e queremos nos suicidar até.Seriam ainda aqueles que nos deixam com as mãos suadas, a boca seca, sem palavras, com um olhar culpado, só de nos sabermos apaixonados? Muitas vezes o ser amado nem sequer desconfia de nosso amor, seria esse? Seria aquele em que morremos de ciúme da menina mais bonita, de cabelo mais charmoso, do peito grandão e da bunda bonitinha que não temos? Ou seria aquele que provoca nos garotos uma inveja incontida , levando-os a desqualificar o dito rival e ladrão de suas amadas: não sabe nada, o Mané; não joga nada, o Mané; não toca e nem canta nada o Mané.

Seriam aqueles amores em que a  gente confia e se entrega de corpo  e alma, acreditando que corpo e alma são coisas diferentes? Seriam aqueles dos quais a gente se adona e diz: esse é meu, ninguém tasca; vi primeiro, encontrei primeiro, ninguém me toma mais; batalhei muito para conseguir, agora quer me tomar… Seriam aqueles que por uma ilusão à-toa, acreditamos estarmos vivendo um sonho, algo jamais experimentado antes, o melhor dos homens, a melhor das mulheres; esse é o meu número; ela é a mulher da minha vida; ele me completa; ela me incendeia; ele me enlouquece. Seriam esses amores de fogo em brasa os perfeitos? Seriam esses amores que dispensam palavras, imantados apenas pela libido ensandecida de nós? Seriam os amores de corpos nus atados por um suco divino, azeitados de suor, empoleirados pelo desejo os amores perfeitos? Seriam ainda os amores difíceis, quase impossíveis, pelos quais larga-se tudo, trabalho, família, filhos, em função dessa sua perfeição?

Amores perfeitos seriam talvez aqueles que nós, cada um de nós, acredita serem perfeitos naquele momento, naquela situação vivida. Não me refiro a casamento etc. Estou falando de amores perfeitos, que satisfazem num tanto, que deles sentimos falta, com eles queremos estar para deitar ou ficar de pé, tanto faz. Amores perfeitos seriam aqueles que nos alimentam de alguma forma e permitem que os alimentemos de nós também. Amores perfeitos para serem perfeitos têm que ser repletos de nossas imperfeições, nossas incapacidades e de nossa cumplicidade repartida e compartilhada.

Amores-perfeitos são flores lindas ! 

 

Odonir Oliveira

 

https://www.youtube.com/watch?v=nklFpdiBN_k

Redação

22 Comentários

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  1. Lindo texto, Odonir!

    Achei muito bom mesmo. Eu só mudaria a música…

    Dona do Castelo – Jards Macalé e Waly Salomão

    Amor Perfeito

    Amor Quase Perfeito

    Amor De Perdição Paixão Que Cobre

    Todo O Meu Pobre Peito Pela Vida Afora

    Vou-Me Embora Embramadora

    Você Pra Mim Agora

    Passa Como Jogadora

    Sem Graça Nem Surpresa

    Diga Que Perdi A Cabeça

    Se Me Levantar Da Mesa E Partir

    Antes Do Final Do Jogo

    Louco Seria Prosseguir Essa Partida

    Peça Falsa Que Se Enraíza

    E Faz Negro Todo O Meu Desejo Pela Vida Afora

    Vou-Me Embora EmbromadoraCompartilhar

    E Quando Eu Saltar De Banda

    E Quando Eu Saltar De Lado

    Vou Desabar Seu Castelo De Cartas Marcadas

    E Tramas Variadas

    Sim

    Seu Castelo De Baralho Vai Se Desmanchar

    Desmantelado

    Decifrado

    Sobre O Borralho Da Sarjeta

    Chegou O Inverno.

     

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=f7buFo6PexE%5D

    1. Fechado, Vânia.

      Como escrevi, amores perfeitos já começam a ser discutíveis desde a música que escolhemos como tema. Mas tenho uma listona também. Até daquelas que foram meus temas para meus amores perfeitos durante “muitos tempos”.

      1. O verso, o reverso, o anverso…

        OFERECIMENTO

         

        Ofereço-te a água dessa lagoa

        Para beberes tuas imagens

        Ofereço-te a luz desse céu

        Para tuas telas de muitos tons

        Ofereço-te essas areias macias

        Para mergulhares teus pés

        Ofereço-te um barco quase morto

        Para o reavivares e chegares ao infinito

        Ofereço-te essa flor

        Para encantares sentimentos

        Ofereço-te um poema

        Para fazeres com ele o que quiseres.

         

        Odonir Oliveira

         

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=bl_jM0Q448A%5D

        1. Também …

          VEREDAS

          Meu corpo espera

          abraçar e ser em ti.

           

          Voe que te colho com minhas mãos

          como colho teus cenários

          e escrevo-te palavras. 

           

          Por quê, homem alado?

          Porque é de púrpura a cor do meu vestido.

           

          Odonir Oliveira

          1. Já Khalil Gibran …

            Somos a soma de nossas influências, o sabemos.

            Nos anos setenta não havia quem não tivesse lido O Profeta, de Khalil Gibran. Num momento em que Sidarta e outras leituras como A arte de amar, de Erick Fromm habitavam a cabeça dos mais jovens, O Profeta também nos trouxe muitas reflexões e sob novos pontos de vista a respeito do amor, dos filhos, da vida … depois vieram Castaneda, Rajnish , Reich …

            [video:https://www.youtube.com/watch?v=ySaw-2o-tjE%5D

            “Profeta de Deus em procura do infinito, quantas vezes sondaste as distâncias à espera de teu navio.

            E agora teu navio chegou, e tu deves partir.

            Profunda é tua nostalgia pela pátria de tuas recordações e a morada de teus maiores desejos; e nosso amor não te quererá prender, nem nossas necessidades te reterão. Uma coisa, porém, pedimos-te: antes de no a deixares, fala-nos e dá-nos algo de tua verdade. E nós a transmitiremos a nossos filhos, e eles a transmitirão aos seus filhos, e ela não perecerá.

            Na tua soledade, vigiaste por nossos dias e, na tua vigília, escutaste os gemidos e os risos de nosso sono. Agora revela-nos a nós próprios, e conta-nos o que te foi revelado, do que existe entre o nascimento e a morte.”

            E ele respondeu:

            “Povo de Orphalese, de que poderia falar-vos senão do que está agora se movendo dentro de vossas almas?”

            Então Almitra disse: “Fala-nos do Amor.”

            E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão; e um silêncio caiu sobre eles, e com uma voz forte, dirigiu-se a eles, dizendo:

            “Quando o amor vos chamar, segui-o.

            Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; E quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.

            Pois, da mesma forma por que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica.
            E, da mesma forma por que ele contribui para vosso crescimento, ele trabalha para vossa poda.
            E, da mesma forma por que ele sobe à vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol, assim também ele desce até vossas raízes e as sacode no seu apego à terra.

            Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
            Ele vos debulha para expor a vossa nudez.
            Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura.
            Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
            Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino.

            Todas essas coisas o amor operará em vós, para que conheçais os segredos de vossos corações e, com esse conhecimento, vos convertais no pão místico do banquete divino.

            Todavia, se no vosso temor procurardes somente a paz e o gozo do amor, então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor, para entrar no mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.

            O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.
            O amor não possui e não se deixa possuir.
            Pois ele basta-se a si mesmo.

            Quando um de vós ama, que não diga: “Deus está no meu coração”, mas que diga antes: “Eu estou no coração de Deus”.

            E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.

            O amor não tem outro desejo, senão o de atingir sua plenitude.
            Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes vossos desejos:
            De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite;
            De conhecerdes a dor de sentir a ternura demasiada;
            De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor;
            E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
            De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor;
            De descansardes ao meio-dia, e meditardes sobre o êxtase do amor;
            De voltardes para casa à noite com gratidão;
            E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança.”

             

             

            O Profeta, de Khalil Gibran 

      1. Sim

        AS DRÍADES

         

        Sim, porque “eu te amo”

        Sim, porque eu te amo, dei pra gostar de músicas de amor, outra vez;

        Sim, porque eu te amo, dei pra gostar de cartas de amor, ora em nuvem;

        Sim, porque eu te amo, dei pra conversar com as flores, os pássaros, os bichos que percorrem os caminhos;

        Sim, porque eu te amo, dei pra recordar sorrisos e alegrias e piadas tolinhas outrora ouvidas;

        Sim, porque eu te amo, dei pra adorar vegetais, verduras, pratos coloridos em geral;

        Sim, porque eu te amo, voltei a ver os filmes que já vi, os que nunca vi e desejar fazer outros tantos;

        Sim, porque eu te amo, encontro gente que me sorri adivinhando meu estado de constante prenhez amorosa;

        Sim, porque eu te amo, fico a namorar a chuva pela janela, a ver escorrer enxurradas de barquinhos invisíveis …

        Sim, porque eu te amo, abro sorrisos largos, antes desconhecidos;

        Sim, porque eu te amo, dei pra dormir menos e viver mais;

        Sim, porque eu te amo, passei a fertilizar a terra, a polvilhar nela sementes de abacateiros, ameixeiras, limoeiros, passiflora ardente;

        Sim, porque eu te amo, espero o entardecer, o sol se por e o dia raiar de novo a suspirar;

        Sim, porque eu te amo, dei pra aceitar mais as diferenças entre as pessoas, o percurso de cada uma, a beleza das animas;

        Sim, porque eu te amo, encontro nas montanhas companhia solene para a reflexão, o assobiar dos bem-te-vis e a oratória das maritacas;

        Sim, porque eu te amo, abro mão da cotidiana cobrança do ser e estar, do compulsório e eterno ressarcimento de tempo e espaço;   

        Sim, porque eu te amo entrego, em pacotes, manifestações de afeto e alegria como mínima  retribuição pelos sonhos sonhados;

        Sim, porque eu te amo, entorno rios de lágrimas pela insegurança do meu amor e não do teu;

        Sim, porque eu te amo, não me permito ser mais frágil como antes o fui e não polir esse último e único brilhante;

        Sim, porque eu te amo, contraio vontades inusitadas de dirigir por estradas a esmo,  easyridermente;

        Sim, porque eu te amo, aguardo o sono e os sonhos em que símbolos e sons compartilharão sensações indefinidas, irracionais, incompreensivelmente deleitáveis;

         Sim, porque eu te amo, conheço espaços nunca antes percorridos,  sabores nunca antes encontrados, sensações nunca antes experimentadas;

        Sim, porque eu te amo, sei que estás no todo do meu caminhar e descubro que és a outra parte de mim em mim.

        Sim porque eu te amo.

        Odonir Oliveira

        maio de 2015

  2. Hoje eu tô com a macaca !

    Estar com a macaca

    Em algumas culturas, por influência da religião, acredita-se que certas palavras, como demônio, diabo, satã, são portadoras de má sorte.

    ‘Fazem parte dos tabus linguísticos e devem, portanto, ser evitadas. A simples pronúncia poderia trazer mau agouro, atrair a ira de um deus ou de entidade sobrenatural. O povo, na sua sabedoria, faz uso de outros vocábulos, uma espécie de eufemismo’, comenta o professor Ari Riboldi.

    No Nordeste brasileiro, por exemplo, o capeta é substituído pelo termo cão. Estar com o cão é ter o diabo no corpo.

    Nessa região, é comum ouvir-se a expressão ‘cão chupando manga’ como sinônimo de algo muito feio, ou seja, como se fosse ver o próprio capeta chupando manga e fazendo caretas.

    Em outras regiões, o diabo é substituído pelo macaco ou pela sua fêmea. Logo, ‘estar com a macaca’ também é estar endiabrado, ser possuído pelo coisa-ruim, enfim, estar endemoniado.

    Fonte: http://www.terra.com.br/noticias/educacao/infograficos/expressoes-animais/

        1. Comento aqui, querida

          Odonir, essa canção de Caetano percorreu minha vida.

          E te digo, parodiando Millôr que dizia “pensar livre é só pensar”, amor perfeito é só amar. Ciao, bambina.

          1. Obrigada pela presença, Rui

            Ontem, fui comemorar meus anos.

            Dancei bastante, sabe aquelas músicas que a gente adora adorava. E gritei muuuuuuuuuuito.

            Fui com primas, maridos, amigos e amIgas.

            Já não é a primeira vez. Mas ontem tinha uma cerração que encobria tudo. Parecia cena de filme, talvez a do final de Casablanca. 

            O local é o mais alto da cidade altíssima de Barbacena, o Mirante.

            Já de outras vezes, e nessa também, ficamos nós apertadinhos dentro do carro, olhando de cima a cidade (dessa vez era só admirar aquele fog-smog todo)… o interessante é que eles têm um hábito inusitado – cada um leva uma bebida de sua preferência e, num esquenta animas, fica-se bebendo e falando, falando e rindo e rindo, dentro do carro, antes de se entrar para o tal LET’S DANCE, no Mirante.

            Por que te conto isso, Rui?

            Nesse momento, molhados de vinho, vodca, uísque e cerveja, desce ali, aos poucos o deus Baco, também conhecido como Dioniso, e roda a baiana com um toque mineiro de ser.

            E falamos de quê? De amor. De amores- antigos, furtivos, terríveis, doces, mornos… de todos os tipos.

            Como não morava aqui até 2014, peço a eles sempre que não citem nomes, que gosto é de enredos- vício de quem escreve, talvez.

            Toca, Raul !!!!!

            Assim, como de outras vezes, além de sair dali com os ossos de sexagenária a balançar literalmente. Saio repleta dos amores também.

            Entendo mais as dores humanas, seus percalços, seus medos. É quase um terapia sem terapeuta. Ficam esperando que a prima mais velha dê um palpite, uma orientação.

            Quem sou eu, primo ! – como dizia minha mãe.

             

    1. “Strip-tease”, por Martha Medeiros

       

      STRIP-TEASE

      Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender. 

      Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente. 

      Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes. 

      Primeiro tirou a máscara: “Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto”. 

      Então ela desfez-se da arrogância: “Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história.” 

      Era o pudor sendo desabotoado: “Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou”. 

      Retirava o medo: “Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei”. 

      Por fim, a última peça caía, deixando-a nua: “Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui”. 

      E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.

       

      Martha Medeiros

       

      http://pensador.uol.com.br/autor/martha_medeiros/

       

  3. Amores- perfeitos: Faltando poucos minutos

     

    Faltando poucos minutos

     

    Faltando poucos minutos para o encerramento da visita, lá estava ela assistindo àquele filme de roteiro corriqueiro, direção pífia, atuação de quinta e sem efeitos especiais. Era só mais um filme B. Sem nenhum lance ou ação inesperada, nada surpreendente ou impactante  que viesse  fazê-la guardar para sempre aquele filme como inesquecível ou incomparável.

    Era assim a vida de Tânia, a mulher de 40 anos que agora aguardava para fazer aquela visita.

    Um filme B, coitada, sempre implorando ao outro que a atendesse, que a ouvisse, que a amasse. Amasse não, que lhe desse qualquer atenção mínima para que pudesse guardá-la por horas e horas, como a emoção do dia. Assim o fizera sempre com amigos, colegas de trabalho, companheiros de escola antes. Era sempre coadjuvante. Coadjuvante não. Era figurante apenas.

    Cansada desse papel de pequena importância, resolvera fazer aquela visita e se transformar após tudo aquilo.Era de negro que estava vestida. Foi percebida na entrada. Mas ninguém lhe dirigiu palavra. Caminhou até o local, mas não entrou. Ficou ali parada, como sempre fora do enquadramento, fora da luz a buscar uma alternativa para inverter a situação.

    Faltando poucos minutos para o encerramento da visita, abriu a bolsa, sacou de uma arma branca,  cor oposta a de seu figurino, entrou sozinha no quarto. Um leito apenas. Olhou o marido com quem vivera por mais de 15 anos e desferiu-lhe alguns golpes fatais.

    Tragédia não anunciada.

    Silêncio no set.

    Fim das gravações por hoje.

    Odonir Oliveira

     

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