A Cultura do desserviço: roda mundo, roda gigante, Gentil?

Em 04/11/2013, a TV Cultura, estatal estadual, trouxe mais um grande nome da linha retrógrada da saúde mental ao Roda Viva (morta), depois do temerário Laranjeiras, provando que o governo do estado controla também esta mídia, antes exemplar e isenta….
 
Mais uma perda! Para assistir às entrevistas acesse:
 
 
 
Sobre os quais versam os comentários dos membros do OIA abaixo:
 
 
Máquinas de se Fazer Esquizofrenias

por Rafael Muscalu Raicher, psicólogo, aompanhante terapêutico do Instituto A Casa e participante do OIA

O texto que se segue não é apenas uma resposta à entrevista do  Psiquiatra Valentim Gentil Filho no Roda Viva da TV Cultura, que foi ao ar no fim da segunda-feira dia 04/11/2013. É uma resposta ao incômodo gerado em nossos corpos quando nos deparamos com discursos e formas de viver que nos aterrorizam.

É possível gastarmos linhas e linhas sobre a entrevista. É possível destrinchar o discurso do renomado médico, contextualizar suas falas, suas agressões e digressões. É possível, por exemplo, explicar a população que este mesmo doutor já fez uma pesquisa “provando” que pessoas “normais” se beneficiariam em tomar antidepressivos e se tornariam ainda mais “normais”; e assim apontar para interesses comerciais diretos em seu modo de “pesquisar”. É possível falar de sua sutileza elefantíaca ao dizer que em seu tempo, quem fumava maconha era considerado um problema; e assim lembrar que “no tempo dele” a ditadura usou massivamente o uso de maconha para prender e torturar seus alvos políticos. É possível apontar a fala crítica dele sobre  a teoria de “duplo vínculo” como uma forma de reduzir e simplificar toda a questão das produções familiares de loucuras e sofrimentos e assim tornar sua fala um escape para aquelas famílias que não sabem o que fazer com o seu sofrimento (e assim ganhar clientes novos e apoio popular).

É possível também se perguntar o porque do não debate, num programa de debate quando se convida tal personagem. E lembrar aos leitores que recentemente foi chamado outro Psiquiatra para o mesmo programa com formas de discurso parecidas a esse. Lembrar aos leitores que houve uma troca de âncora no programa há pouco tempo para alguém com formas políticas de pensar muito parecidas ao discurso desses Psiquiatras. Poderíamos lembrar a todos que há muitos outros Psiquiatras e outros profissionais, também renomados, que agem e pensam de formas muito diferentes a esses, mas estranhamente não são chamados para a Roda.

Muitas são as possibilidades de desdobramento, e nós, do OIA – Observatório de Saúde Mental, Drogas e Direitos Humanos, podemos entrar neste debate conforme formos convocados nos meios sociais. Porém, o problema maior, não está apenas nesses discursos, esses são antigos e facilmente postos em cheque.

O problema mora no olhar sereno da fala deste homem, nas náuseas que se tem ao ouvir tal encenação, na falta de vontade de ver novamente as luzes brancas desta Roda muito pouco Viva  para poder anotar todos os descabimentos jorrados.

O texto a seguir, de Juliana Flor, nos convoca por imagens a essa morte tão bem descrita; a esse não encontro; não debate. Gentil e afins não são nada além de porta vozes de uma maneira de se lidar com o sofrimento e com o que sai do desejado como normal. São normatizadores e “apaziguadores” de toda vida que saia do eixo. Eles “solucionam” os problemas. Por isso fazem tanto sucesso e ganham tanto dinheiro.

O que “fabrica esquizofrenias” não é a Maconha, mas talvez seja ouvir belas palavras como “Gentil” e “Laranjeiras” e não poder pensar numa bela ação ou numa bela e suculenta árvore, e, ao invésdisso, sentir um embrulho no estômago e vislumbrar a morte asséptica tão sonhada por esses homens de tudo que é “diferente”.

 

Menos Gentil, mais Gentileza

Por Juliana Flor, do OIA
 
Acabo de ver a entrevista do Psiquiatra Valentim Gentil Filho no Roda Viva da TV Cultura, que foi ao ar no fim da segunda-feira dia 04/11/2013. Fica evidente ser um profissional que tem como norteador o modelo biologicista, médico-centrado, preocupado com a dicotomia normalidade-anormalidade.
 
Tantos números e pesquisas citadas no decorrer da entrevista me deixaram meio zonza e quase perdi o “fio da meada”.. quase me esqueci que falavam de seres humanos! Passei a entrevista toda imaginando cérebros andantes… e se não fosse por uma difícil e insistente luta diária eu teria realmente me esquecido que somos pessoas… e mais: povoadas de sentimentos, contextos históricos, geográficos, sociais, familiares, relacionais, afetivos, laborais…
 
Ao se referir à população de tal forma, desqualifica e nega a multiplicidade existente e deslegitima a atuação dos outros profissionais no cuidado e na atenção às pessoas, desqualificando a luta pela garantia de direitos dos usuários dos equipamentos de Saúde Mental. E pior: desqualifica os próprios equipamentos substitutivos de Saúde Mental. Afirma uma sociedade sem diversidade, sem cultura, sem possibilidade de encontrar-criar outras formas de resolução dos problemas. Distorce a luta! O discurso é perigoso!

Refere-se a uma noção de atendimento que fere a noção de cuidado, que as políticas de saúde pública e coletiva lutam para implantar, limitando-se ao tratamento medicalizado. Tenho uma capacidade lúdica de ir construindo imagens a partir da fala-relato das pessoas, e, a medida que o tempo passava e a entrevista ia se concluindo, via uma sala, com paredes brancas, luzes artificiais (como aquelas do estúdio da TV Cultura), profissionais de jaleco – impecavelmente brancos, estetoscópio no pescoço, pacientes-pacientes aguardando pela verdade do “saber”, tendo seus próprios saberes desqualificados!

Sem nenhuma possibilidade de discussão envolvendo outros profissionais – tudo muito artificial! Não duvido que tenha mais gente imaginando essa mesma configuração. É uma fala que não permite ver que a vida pulsa!

Voltando à entrevista – tive receio quando foi exposta a felicidade ao ver a melhora das pessoas a partir, somente do uso-aumento da dose da medicação! Valentim, tanto a violência causadora quanto a melhora dos transtornos estão também no dia-a-dia e a resposta se limita à medicalização?
 
Foi uma grosseira indelicadeza e um sério desconhecimento deslegitimar algumas das grandes lutas que vem ocorrendo no cenário atual e que precisaram de muita dedicação e esforço para estarem onde estão! De modo geral esta visão simplista e perigosa é um retrocesso geral na área das políticas públicas de saúde, que serão separadas apenas por uma questão didática. O discurso fala sobre:
 
– A questão da “liberação das drogas”;
– A questão da internação compulsória / tratamento das pessoas usuárias de
substâncias psicoativas;
– E a luta antimanicomial.
 
É bastante preocupante, como em tão pouco tempo, uma pessoa sozinha, com certa relevância social, tenha conseguido levantar críticas esvaziadas das maiores lutas que têm acontecido na conjuntura atual e que têm percursos realmente significativos.
 
Quando se critica essas três frentes, utilizando argumentos precários e mentirosos, nega-se a presença da violência indiscriminada do Estado – autorizada pela sociedade – contra a população de baixa renda, por conta das questões das drogas. Esquece-se que esse uso e abuso de substâncias psicotrópicas é sim problema de saúde pública e deve ser cuidado de forma intersetorial. Desconhece que nenhum menino ou menina / mulher ou homem que use crack ou outras substâncias continuará o tratamento em um local de cuidado, como é o caso dos Caps, por exemplo, se ele(a) for retirado(a) da rua
com violência pela Guarda Civil Metropolitana ou parceiros dela.
 
Esse tipo de crítica inviabiliza a apropriação pela população de seu saber e de seu cuidado e a torna passiva frente aos tratamentos possíveis. Essa visão esvaziada fornece a errônea sensação de que a Luta Antimanicomial é defendida por pessoas inconsequentes. Faz crer que Saúde é mercadoria. E que a vida não pulsa.
 
Ah, Gentil, duvido que você se preocupe realmente com a Maria. Mas, é compreensível caso haja alguma estranheza nesse desabafo, já que “eu falo coisas que vocês não usam, por isso vocês estranham” – palavras de Gentileza! Mais uma vez as palavras do Profeta ecoam, com todo seu percurso inventivo!
 
Há um paralelo possível entre a intervenção do Estado sobre as obras do Profeta e a intervenção de Gentil sobre a Saúde Mental – houve uma violência em ambos os casos: no primeiro, há uma violência cinza do Estado em cima das palavras-poesias de Gentileza; e, no segundo, Gentil pinta tudo com a luz branca da iluminação científica, violentando os diversos percursos-saberes-práticas e possibilidades.
 
No primeiro caso, graças ao esforço e trabalho de artistas e “mentaleiros antimanicomias” Gentileza teve sua obra-vida, suas tintas-cores reavivadas e devolvida sua voz e palavras, amplificando e prolongando seu canto! No segundo caso, nós do OIA não nos calaremos frente às atrocidades ditas!
 
Por uma sociedade sem manicômios, por um cotidiano poético, pela garantia e preservação dos direitos conquistados através das lutas populares, pela potência do encontro, do círculo de apoios, das alternativas ao modelo tradicional, faz-se necessário este relato!
 
Para terminar não tão triste como a política que esses caras apresentam, um pouco de poesia-música-gentileza: http://www.4shared.com/mp3/7P9idjiN/10_-_gentileza_-_marisa_monte_.html
  
Ouçam, dá esperanças!!!!
 
Em breve viremos com uma roda realmente viva sobre tudo isso!!!!
 
OIA lá vai passando a procissão!!!!! Simbora que a luta é aqui no chão!!!

 

Redação

8 Comentários

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  1. Apenas a título de

    Apenas a título de esclarecimento, gostaríamos de informar que o OIA, Observatório de Saúde Mental, Drogas e Direitos Humanos é composto por profissionais de saúde mental com múltiplas formações, inclusive psiquiatras, que atuam diretamente no serviço público em sua maioria, e tem como parceiro fundador o Instituto Sedes Sapientae, instituição de notório saber na formação de profissionais de saúde mental e na defesa dos direitos humanos.

  2. Mas que texto sem qualquer

    Mas que texto sem qualquer base objetiva. Como assim ele sua uma base biológica? Vejam: há problemas sociais e problemas biológicos. Pelo que observei ele estava colocando a questão de um ponto de vista objetivo, científico. Releiam o texto de vocês. Em que momento vocês invalidam qualquer afirmação do Dr. Gentil???? Por favor, sejam mais objetivos, racionais, e menos ideológicos. Essa linguagem emotiva e “gentil” de vocês em nada ajuda na discussão. Em suma, o texto de vocês é semanticamente sem sentido e, descupem, “bobo”. Como levar a sério frases como :”teve sua obra-vida, suas tintas-cores reavivadas e devolvida sua voz e palavras, amplificando e prolongando seu canto”. Que significa isso? Vocês querem nos confundir????? Ainda bem que as pessoas estão se apercebendo da tolice desse tipo de discurso, tão típico das perspectivas ideologizadas. 

  3. Mas que texto sem qualquer

    Mas que texto sem qualquer base objetiva. Como assim ele sua uma base biológica? Vejam: há problemas sociais e problemas biológicos. Pelo que observei ele estava colocando a questão de um ponto de vista objetivo, científico. Releiam o texto de vocês. Em que momento vocês invalidam qualquer afirmação do Dr. Gentil???? Por favor, sejam mais objetivos, racionais, e menos ideológicos. Essa linguagem emotiva e “gentil” de vocês em nada ajuda na discussão. Em suma, o texto de vocês é semanticamente sem sentido e, descupem, “bobo”. Como levar a sério frases como :”teve sua obra-vida, suas tintas-cores reavivadas e devolvida sua voz e palavras, amplificando e prolongando seu canto”. Que significa isso? Vocês querem nos confundir????? Ainda bem que as pessoas estão se apercebendo da tolice desse tipo de discurso, tão típico das perspectivas ideologizadas. 

  4. Realmente, texto muito “sanguíneo”

    O ponto de vista de você é exaltado, sanguíneo, por pouco mais chega a ser colérico. Não acho que o Doutor tenha todas essas “mezelas” a que vocês o incubem, pelo contrário, tratou da questão abertamente, como um médico faria. O interessante é que qualquer pessoas com raciocínio lógico, percebe lendo o texto de vocês o bojo de ódio pela ciência, em favor de um ponto de vista meramente político. Geralmente é assim que funciona, a nossa crítica retorna em sua forma geral ao nosso conteúdo, e logo percebe-se que vocês falham justamente na questão política, onde a flexibilização deveria favorecer o pensamento, a orientação saudável, salutogênica. Posso dizer que como ex usuário de drogas, ouvir uma crítica pode ser tão constritivo quando criticar, mas no caso de vocês, opuseram de forma violenta e colérica suas opiniões, desqualificando completamente um trabalho científico, sem qualquer pretensão política.

  5. Bom saber que

    o senso crítico ainda exista. As pessoas só pensam dentro da caixa, não conseguer ver além daquilo que a sociedade impõe. Maconha faz menos mal que tgabaco e alcool sim, há muitos estudos que comprovam esse fato, e causa menos dependência do que outras drogas… nao que nao faça mal, mas o mal que faz nao chega a deteriorar o sistema nervoso como o alcool, nem dependencia como a cocaína. Os usuários de maconham sofrem muito preconceito de uma sociedade altamente hipocrita, confinada ao que a grande mídia impõe, ao que os religiosos impõem também… então como você disse, sofremos muito mais com essa ditadura dos medicamentos, sofremos muito mais com o preconceito e com a medicina vendida para o mercado, eliminando as diferenças sociais, a cultura etc… muito bom o texo, o instituto está de parabéns por lutar pela minoria.

  6. Lou-CURAS

    Oi tribo do “OIA(nós aqui outra vez ?sem nunca termos estado, mas, ao ler os textos de vcs e como te-los escritos)””se um murro separa uma ponte une ??””Roda moinho/mídia, roda peão, o tempo rodou de repente” (nos labirintos da minha psiqué.)

    Loukas e anárkikas/somaterapêuticas/niseanas saudações.

    Me auto denomino um indivíduo não-governamental anárkiko(redundância) e loucodidata em formação fazendo (simultaneamente) 22 ( carta do louco no Tarô-vide “Jung e o Tarô” A. Jaffete) pós doutorados em ArteCulturaLou-Cura. Me desiludi com a luta antimanicomial( cansei de esperar e não ver concretizado a mudança de paradigma na área da saúde mental), estou propondo agora a afirmação da Lou-Cura “Nós não somos DOENTES, somos DIFERENTES, à luta pelo direito a alteridade e diversidade mental. 

    Estou tentando há 11 anos realizar em fortaleza/CE a “I caminhada do Orgulho LOUCO” em agosto(mês de cahorro louko) juntamente com um evento denominado “22 dias de Arte, Cultura, Direitos Humanos e Lou_CURAS” de 1 à 22 de agosto de 2016. 

     

  7. Biológico x Social

    O texto tem um discurso fundamentalista tão exasperado que um dircurso biológico do homem do século XIX. Como separar o homem social e  psiquico do biológico? O texto discorreu sobre as supostas posições políticas do Dr. Gentil sobre as políticas e práticas de saúde mental, e definitivamente não comentou sobre o cerne da entrevista, o impacto do uso da maconha nas conexões neurais de crianças e adolescentes. Objetivamente, o que a autora do texto considera sobre os resultados destas pesquisas? 

  8. Critica à entevista de Valentil Gentil
    É lamentável que essa tal Juliana Flor tenha se esforçado para produzir um texto de repúdio a um assunto tão sério quanto a entrevista ao Roda Viva de Valentim Gentil. Estou abismado como consegue produzir um texto tão detalhado e tão caprichado mas vazio no conteúdo. É o típico texto de uma pessoa que já se encontra alienada na própria fumaça. Ela até disse que:” Tantos números e pesquisas citadas no decorrer da entrevista me deixaram meio zonza e quase perdi o “fio da meada”..”. O Dr. Valentim disse que o uso prolongado causa alienação. Vivemos uma sociedade em que se quer afrouxar ainda mais Institutos básicos achando que as pessoas já podem tomar conta sozinhas de si. E o que se está conseguindo com o tempo é a criação de mais gente alienada que desrespeitam quaisquer limites (até mesmo aqueles que nos ajudam a nos pautar com dignidade). Antes você tal Juliana ficasse calada, seria mais lucrativo para todos.

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