Alguns mitos sobre o comércio informal

Durante o mês de outubro, a Prefeitura do Recife intensificou a atuação no ordenamento do Centro da Cidade. Na verdade, a desordem se faz em duas frentes: a do capital (formado especialmente por algumas grandes construtoras) e a da informalidade individual (camelôs, flanelinhas, lavadores informais de carro, etc.).

Concentrando nossa análise apenas no comercio informal, é necessário desfazer alguns mitos em relação aos ambulantes.

O comércio informal dá vida às ruas

Isso não é verdade.

O ambulante só se instala em ruas movimentadas onde a vida já existe, normalmente onde o fluxo de pessoas é intenso. Isso ocorre em grandes avenidas, ruas com forte comércio formal e em frente a equipamentos públicos como escolas e hospitais.

Se ambulante desse vida às ruas, os camelódromos (como o da Dantas Barreto) estariam lotados, e as Prefeituras utilizariam o comércio informal quando quisesse recuperar uma localidade.

O comércio informal funciona como um parasita facultativo, que suga o máximo de energia possível de seu hospedeiro.

Temos ambulantes porque não temos empregos

Outro mito. A relação é justamente a inversa.

O comércio informal funciona em um regime de concorrência intenso, onde as leis de mercado funcionam quase em sua plenitude. E neste caso, se o mercado de emprego formal estiver aquecido, gerando mais renda, a propensão a consumir tende a ser maior, gerando mais comércio informal.

Alguns anos atrás, a taxa de desemprego era muito mais alta e o número de ambulantes no Centro do Recife era muito maior.

Os ambulantes oferecem produtos mais baratos

O argumento que uma vez um aluno me colocou para defender os ambulantes na calçada da Universidade foi o de que estes venderiam produtos mais baratos que as cantinas e que era essencial para os estudantes.

Em parte é verdade, mas por motivos tortos.

O primeiro é que as cantinas da Universidade a que ele se referiu, a UFPE, é fruto de um monopólio. Estranhamente apenas uma rede de lanchonetes consegue entrar ali. O segundo é que o produto é mais barato porque não paga impostos e/ou porque é de qualidade duvidosa, sem controle algum de vigilância sanitária.

O comércio informal pode ser organizado sem danificar a cidade

Outro mito.

O comércio informal se apropria do espaço público, seja ele onde for; não cumpre regra fiscal alguma, sonegando impostos; e joga nas costas do Poder Público a obrigação de controlar e custear (através de limpeza pública, por exemplo) o funcionamento do mercado informal.

Como o comerciante informal é um player desregulado dentro do mercado, este faz com que o formal atue clandestinamente, caso queira concorrer. Isso ocorre de duas formas: o comerciante formal coloca seus produtos em consignação com o camelô (ou ainda faz do ambulante seu empregado no meio da rua) e através da sonegação de impostos.

É possível organizar o comércio informal, organizando as pessoas em espaços

É possível, mas é preciso formalizar a relação.

Assim como acontece na economia formal, a ocupação de espaços também segue uma lógica desigual. Quem acompanha o assunto sabe que parte significativa dos espaços está ocupada por “empresários do comércio informal”.  Verdadeiros donos ocupam vários espaços. Na UFPE, onde ensinei por muitos anos, um “dono” possui mais de uma dezena de barracas. Isso também acontece no Centro da Cidade.

O modelo mais bem sucedido que conheço está no Rio de Janeiro, onde as redes de vôlei na praia são leiloadas por prazo determinado, cabendo ao “dono da rede” a manutenção do local. Simplesmente doar o espaço ao ambulante é perpetuar o favorecimento, como ocorre em mercados públicos e barracas de coco à beira-mar.

Como se vê, olhando um pouco fora da caixa, rapidamente se percebe que há várias nuances além do aspecto social em relação ao comércio informal. 

Redação

17 Comentários

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  1. “Durante o mês de outubro, a

    “Durante o mês de outubro, a Prefeitura do Recife intensificou a atuação no ordenamento do Centro da Cidade. Na verdade, a desordem se faz em duas frentes: a do capital (formado especialmente por algumas grandes construtoras) e a da informalidade individual (camelôs, flanelinhas, lavadores informais de carro, etc.)”:

    Avise a cidade inteirinha que a cidade esta sob ataque de imobiliarias e que a prefeitura esta no bolso delas.

    Ja vi isso tudo em varios lugares antes, inclusive BH.

  2. Se não existissem os produtos

    Se não existissem os produtos chineses e os informais quanto mais custaria um brinquedo, por exemplo? 100%, 200%, 300% a mais???? Quanto? A indústria fonográfica só se mexeu com a introdução da pirataria no segmento. É VERDADE OU NÃO? Talvez, a China e a pirataria, sejam um contraponto de equilibrio nos preços dos produtos pela abundante oferta! Jamais me arriscaria a banir os camelôs e os produtos chineses do mercado, pois o desequilíbrio poderia ser catastrófico!!!! É minha opinião! Viva o Brasil, o Lula e a Dilma!!!!!

     

    OBS: Alguns comentários que envio ou estão a ser censurados ( as vezes coloco FDP….. ) ou o sistema de triagem dos mesmos deixa muito a desejar, pois não aparecem na secção!!!!!!!

  3. Citando minha esposa sobre o

    Citando minha esposa sobre o que disse um ex prefeito de NY sobre flanelinhas e afins: aqui no Brasil pode até ser um fato cultural, mas por mim já os teria banido.

  4. Acredito que uma coisa muito

    Acredito que uma coisa muito mais nociva a dinâmica da cidade como um todo são as torres que estão sendo construidas por toda ela, depredando o patrimônio público, aumentando de forma vertiginosa o tráfego e alterando drasticamente a paisagem da cidade, o que causa os mais diversos tipos de poluições. 

    O comércio individual sempre existiu na cidade, desde os registros mais remotos podemos encontra-lo, é uma de suas partes, acho que a invasão ocorre por parte das empreiteiras que numa articulação com a prefeitura projetam uma cidade cada vez mais intrasitável, contra a vondade do cidadão.

    Vamos parar pra prestar atenção em coisas que realmente importam por favor, recuperemos o que nos resta e vamos construir uma cidade que pense no bem estar de seus habitantes, depois a gente pode até falar dos ambulantes.

     

    1. Qual cidade, por favor?

      É sempre útil e, pricipalmente, necessário citar o nome da cidade que está sendo “elogiada” ou “criticada”.

      Os leitores não têm condições de saber onde vive cada “postador”…

      Abraço, Raul.

  5. Comerciantes despreparados

    Já vi muitos destes comerciantes informais no maior desrespeito com quem passa na rua, até pancadaria em GLTB já vi, como se a rua fosse tão somente deles, onde aproveitam para manifestar sua ignorância, não todos, mas que há muito disso há, só observar

  6. Além das letras
    Baixa

    Além das letras

    Baixa qualificação condena jovens a desemprego e piores postos de trabalho; reversão do ciclo exige mais que ações de redistribuição de renda

    Pelo Censo de 2010, 5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos não estudam nem trabalham. Além da denominação pejorativa de geração “nem-nem”, essa condição aniquila as perspectivas de ascensão pessoal de forma que nenhum Bolsa Família poderá compensar.

    Em entrevista a esta Folha, o economista Richard Murnane, da Universidade Harvard (EUA), afirmou com propriedade que “a percepção de que os pobres sempre serão pobres é uma ameaça à democracia”.

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    O mercado de trabalho nos dias de hoje, reitera Murnane, exige profissionais bem letrados. Vale dizer, trabalhadores com vocabulário amplo o suficiente para encontrar, entender e selecionar, no vasto cabedal de conhecimento disponível nos computadores, os dados para compor a solução de problemas. Já se foi o tempo em que lhes bastava saber ler manuais.

    Aquela aptidão poderia ser perfeitamente adquirida no ensino médio ou em escolas técnicas. E é aí, com efeito, que se encontra o ponto nevrálgico do sistema educacional brasileiro, o que ajuda a explicar que a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos (14,5% em 2011) ultrapasse o triplo da observada entre os acima de 25 anos.

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    Embora o governo federal propagandeie que os secundaristas brasileiros foram os que mais avançaram entre 2000 e 2009 na prova trienal, a média de 401 pontos nos deixa muito abaixo do escore dos países desenvolvidos (OCDE), 496, e atrás de Chile (439) e México (420). Quando se excluem as escolas privadas e os colégios federais, o nível cai mais, para 387 pontos.

    A baixa qualificação desses estudantes os condena ao desemprego ou, quando encontram trabalho, aos piores postos. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com dados oficiais de 1996 a 2010 mostra que são vítimas sobretudo de muitos desligamentos –e não são substituídos por adultos, mas por outros jovens mal qualificados.

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    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/137113-alem-das-letras.shtml

     

     

  7. Boa parte de meus cliente são
    Boa parte de meus cliente são camelôs. São meus melhores clientes, os que me conhecem depositam na conta e eu depacho para todo Brasil. Muitos tem até comércio na internet, vendem em sites como o mercado livre, ou em seu próprio site e todas as mercadorias despachadas seguem com nf.

  8. Temos ambulantes porque não

    Temos ambulantes porque não temos empregos

    Outro mito. A relação é justamente a inversa.

    (…)

    Alguns anos atrás, a taxa de desemprego era muito mais alta e o número de ambulantes no Centro do Recife era muito maior.

     

    CUMÉQUIÉ? É MITO OU NÃO É?

  9. Os impérios sempre deixam

    Os impérios sempre deixam lembranças de causar inveja:

    Capital paulista tem o desafio de eliminar a fiação aérea a exemplo de grandes cidades mundiais; 

    ……………………………………………………………………………………………….

    “… Londres tem 100% da fiação no subsolo da cidade. Paris está quase lá e Nova York tem 72% dos fios no subterrâneo -onde o vetor da mudança, feita a partir dos anos 1920, foi estético.

    Já São Paulo tem só 7% dos cabos de luz, telefone e TV debaixo da terra, caso de ruas e avenidas privilegiadas como Paulista, Rebouças, Faria Lima e Oscar Freire.

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/137206-se-fosse-sp.shtml

     

  10. Inversão de causa e efeito.O

    Inversão de causa e efeito.

    O comércio informal existe pelo elevado custo de ser legal.

    A coisa funciona assim não importa quem vc é vc é ilegal, e um criminoso no país, 

    Como as leis e regras são muitas e confusas não importa todo brasileiro esta fora da lei, desta forma o estado pode vir e te prender, multar, processar, pedir uma corjeta, um cafézinho, uma propina.

    Imagina se um policial fosse aplicar ao pé da letra a lei, imagina se um fiscal fizesse o mesmo, não tinha um brasileiro solto, não sei quem ia trabalhar.

    O povo se adaptou a este ambiente criando o “jeitinho” brasileiro para viabilizar a vida no país.

    Então o governo finge que fiscaliza, finge que combate a criminalidade eo povo finge que cumpre a lei.

    Claro que isso não é o ideal com certeza levará a uma anomia social, os BB, MSTs  são fruto deste estado de pré anomia social.

    Quem se manterá honesto por mais tempo neste ambiente, quem será o troxa que vai se manter integro num país hospicio( e se colocar lona vira circo),ninguém.

  11. Artigo inútil,

    Artigo inútil, precconceituoso, “coxinha”. O autor deve ter vindo de Marte. A informalidade é a afirmação da liberdade e as construtoras predadoras causam muito mais danos que os trabalhadores que tentam sobreviver ao polvo capitalista.

  12. Quem ganha menos, camelô ou

    Quem ganha menos, camelô ou auxiliar de limpeza???

    Não é geração de emprego com carteira assinada que vai resolver o problema do emprego por completo. Cada um se vira onde vê possibilidade de ganhar não tão pouco.

    Eu mesmo, num posto que exige superior completo, ganho menos que um dono de barraca de pastel numa feira qualquer de São Paulo. E olha que minha área é conhecida por pagar um pouco melhor do que muitas, muitas outras. Já fiz uma conta simples e é real.

    Querem acabar com o comércio ambulante? Mostrem a alternativa.

  13. Impostos arrecadados em nível confiscatório u

    Acima dos 17% de arrecadação não há como impedir a evasão fiscal.

    Em outras palavras,  com impostos em níveis confiscatórios ser camelô conpensa.

    Se todos contribuissem, os impostos poderiam ser menores, mas como poucos arrecadam e o grosso é de forma indireta, sendo a inflação o imposto mais insidioso de todos e o nível de arrecadação está em quase 40 % do PIB, não há como legalizar todos os que comerciam.

    Se se proibir da noite para o dia todos os comércios irregulares do Brasil o país iria parar na mesma hora.

    Aqui em São Paulo, só com a transferência de lugar dos comerciantes da Feira da Madrugada quase houve um revolta popular, não foi proibir, foi só mudar de lugar o camelódromo.

    Sem uma revolução no coméricio de cima a baixo não há solução para a industria e o desenvolvimento nacional.

  14. Nenhum mito desfeito

    Pierre, como pode voce propor desfazer alguns mitos sobre camelôs, e não desfez nenhum? Vejamos:

    O comércio informal dá vida às ruas: mostra a sua opinião, mais nada. Posso mostrar diversas outras opiniões, opostas, e com argumentos melhores.

    Temos ambulantes porque não temos empregos: você mesmo endossa essa afirmação. Leia o que escreveu.

    Os ambulantes oferecem produtos mais baratos: é verdade, qualquer um que tenha comprado sabe disso, e também sabe dos motivos. Se são bons ou não, é outra questão. Então, não é mito.

    O comércio informal pode ser organizado sem danificar a cidade: Ué, pode ou não pode? Cadê os argumentos?

    É possível organizar o comércio informal, organizando as pessoas em espaços: fala sério, você mesmo diz que sim, cadê o mito? 

    Pierre, o que consegui perceber é que existem diversos preconceitos conta camelôs, e você tentou justificar vários deles, sem sucesso. O problema é complexo e merece ser abordado com mais seriedade.

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