A importância da produção de Bonecas Barbie frente à construção de sofisticados equipamentos.

A importância da produção de Bonecas Barbie frente à construção de sofisticados equipamentos.

Infelizmente não achei o meu texto que escrevi em 2006 sobre a importância da fabricação de bonecas Barbie na ultrapassagem tecnológica que países como a China e a Índia estão próximos a conseguir em áreas de alta tecnologia.

O título do artigo parece uma mera provocação, entretanto no desenvolvimento deste artigo vou mostrar a onde os chineses e indianos acertaram e onde os acadêmicos e estrategistas do primeiro mundo erraram.

Há quinze ou vinte anos toda a inteligência internacional do mundo dito desenvolvido viam países como a China ou a Índia países como meros produtores de produtos de baixo valor agregado e longe dos produtos de tecnologia de ponta.

O raciocínio era simples para não dizer simplório, e o atual presidente eleito dos Estados Unidos corre atrás do prejuízo ou de forma instintiva ou mesmo pela teorização de algum grupo acadêmico ou estratégico que lhe dá suporte, este raciocínio simplório criou uma barreira que será dificilmente transposta se não for invertida por completo a forma de acumulação de capital dos USA e demais países desenvolvidos que abriram mão da industrialização.

Nas décadas de 60 e 70 os problemas ambientais começavam a ser uma grande dor de cabeça dos governantes dos países mais desenvolvidos, junto a este o esgotamento, ou mesmo o custo de fatores de produção como a água e a mão de obra eram um impeditivo do crescimento das indústrias, pois mais que salários fossem aviltados e diminuído os custos ambientais através de soluções tecnológicas mais avançadas, transferir indústrias poluidoras, com uso de mão de obra intensivo para países que simplesmente ignoravam estes custos pelo preço baixo pago os trabalhadores ou pelo simples desprezo a qualquer passivo ambiental que fosse criado, faziam que a produção fora da matriz fossem altamente compensadora.

Para evitar a perda do controle em relação a estes países que produziriam seus “gadgets”, isto era feito permitindo a construção de objetos com tecnologia concebida pela matriz e qualquer possibilidade de repasse de tecnologias estratégicas era impedida por rígidos controles estatais.

Logo bilhões de Barbies e outros gadgets mais úteis eram repassados para as indústrias do terceiro mundo, afinal não era nada estratégico fabricar um bilhão de liquidificadores e equipamentos eletrônicos com tecnologia dominada, registrada e controlada pela matriz não apresentavam um risco real à concepção de projetos com tecnologia de ponta.

Simples, enquanto a China produzia um bilhão de Barbies os Estados Unidos construiria aviões militares em que o custo de um só destes teria o mesmo valor do que milhões de Barbies, e o que se chama a engenharia de projeto ficariam resguardados para o primeiro mundo.

Ótimo se fosse verdade, temos que ver que grande parte destes equipamentos de alta tecnologia e altíssimo valor agregado são objetos que são construídos quase de forma ARTESANAL.

Para não se ficar na mera especulação acadêmica vamos a um fato real, o famoso, fantástico, moderníssimo caça norte-americano Lockheed Martin F-35 Lightning II que já deveria estar pronto e operacional em 2010, que talvez esteja operacional em 2019 já custou ao contribuinte norte-americano a quantia de 1,5 TRILHÃO de dólares (atualizados pela inflação norte-americana) e os fabricantes ainda esperam mais. Pois esta joia tecnológica que se alguém olhar na Internet vão ver pilotos de provas, generais graduados norte-americanos na reserva falando horrores sobre a geringonça tecnológica de ponta. Tem um sério problema que não é avaliado por ninguém, equipamentos como estes de custos astronômicos que são produzidos em toda a sua vida útil não mais do que um milhar de unidades, não geram máquinas ferramentas novas, nem equipamentos para a sua fabricação que não sejam geringonças adaptadas de equipamentos existentes.

O que é importante diferenciar é que para produzir poucas centenas de aviões, apesar de seu altíssimo custo, para fabricar uma Barbie é necessária uma sofisticadíssima engenharia de produção, moderna, eficiente e de baixo custo. Ou seja, para implantar os cabelos na Barbie é necessário um número muito maior de engenheiros para a produção e manutenção das linhas de montagem do que a construção de toda uma parte de um avião de alto desempenho.

É possível com o valor do F-35 fazer algumas contas básicas, vamos dizer que um brinquedo chinês com alguma sofisticação custe 5 dólares a unidade, com o 1,5 trilhão de dólares é possível fabricar 300 bilhões de brinquedos, e como os brinquedos não devem ser todos iguais vamos supor que se fabrique 10.000 tipos diferentes de brinquedos, o que dará 30 milhões de unidades por brinquedo, um número razoável que obriga uma industrialização avançada. Se para cada linha de montagem de cada brinquedo se tenha 100 técnicos especializados em manutenção das máquinas e equipamentos, 10 engenheiros que atuem diretamente na produção e 2 engenheiros que procurem inovar nestas linhas de produção, isto significa que teremos 100.000 técnicos, 10.000 engenheiros de produção e 2.000 engenheiros trabalhando em pesquisa e desenvolvimento. Talvez o número de engenheiros trabalhando em pesquisa e desenvolvimento no super avião F-35 chegue próximo ao número dos empregados para produzir brinquedos, porém o número de engenheiros de produção e de técnicos para o avião serão uma pequena fração dos empregados para os brinquedos.

Porém além do emprego tem ainda o aspecto que nunca é considerado, para as 10.000 linhas de produção serão necessárias no mínimo 10 máquinas ferramentas dedicadas para estas linhas, ou seja, um impressionante número de 100.000 máquinas ferramentas.

Agora vem ainda o mais interessante, tanto os técnicos, como os engenheiros e os fabricantes destas máquinas ferramentas deverão estar próximo a produção, logo por mais que os proprietários que estão no mínimo a 10.000km das unidades fabris queiram, todo este pessoal técnico deverá estar junto a elas.

E agora ainda vem o mais relevante, quem conhece a produção com os seus problemas e máquinas ferramentas empregadas para fabricar os produtos são exatamente quem está envolvido no processo, e se for necessário fabricar um produto similar ou mesmo uma evolução do mesmo serão as pessoas que acompanham a produção.

Esta fabricação de brinquedos levará a criação de cadeias completas de produção com pessoas hábeis e capazes de desenvolver novos produtos, tanto sob o ponto de vista de engenharia como setores correlatos de design de produto ou até mesmo a concepção artística dos mesmos.

Fica claro que um país que tenha milhões de pessoas com capacidade e criatividade de produzir coisas simples tem nestes milhões alguns milhares com a capacidade de desenvolver produtos mais sofisticados.

Quanto ao emprego de todos os operários envolvidos nestas linhas de montagem, nem é necessário falar, pois sobre estes há milhares de artigos, reportagens e teses publicados sobre eles, porém de toda a cadeia que se forma poucos dão interesse, pois a maior parte ignora os detalhes existentes em uma indústria, não quantificando a inteligência gerada por todo o processo.

Redação

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