O que ocorreu no Espirito Santo não foram saques, foram movimentos de desobediência social.

 

O termo desobediência civil é conhecido por toda a burguesia brasileira, porém para ficar mais claro coloco a definição corrente deste “ato cívico”:

“Desobediência civil, é uma forma de protesto político, feito pacificamente, que se opõe a alguma ordem que possui um comportamento de injustiça ou contra um governo visto como opressor pelos desobedientes.”

Se por acaso “feito pacificamente” é retirado da frase, entraremos noutra seara, que poderia ser definida como resistência social, que ficaria definida por:

“Desobediência social, é uma forma de protesto político, que se opõe a alguma ordem que possui um comportamento de injustiça ou contra um governo visto como opressor pelos desobedientes.”

Pois bem, a partir desta definição poderíamos simplesmente dizer que os saques que foram promovidos nas lojas no Espírito Santo, e que tem tudo para serem repetidos em todo o país, são casos de uma desobediência  social.

O que estou falando, simples, todos os dias nas TVs e demais meios de comunicação em massa, está se mostrando claramente para uma população se não se dava conta ou mesmo não teorizava sobre isto. Há no Brasil dois tipos de cidadãos, os que têm e os que não têm.

Alguém pode dizer que esta sempre foi à realidade de um país desigual como o nosso, porém havia, que já foi perdido há algumas décadas atrás, uma ética do trabalho baseada em valores morais simples e/ou valores religiosos que simplesmente transmitiam aos mais pobres a ética do ser e não o do ter.

Procurou-se transplantar para um país com enormes disparidades de renda alguns fatores que simplesmente entendidos parcialmente subverteram por completo qualquer freio moral da ética do ser. Poder-se-ia primeiro falar da ética religiosa, o conformismo da igreja católica em que os pobres herdarão o mundo foi substituído pela ética da teologia da prosperidade, onde tal ética em países em que há ou havia possibilidade de ascensão social pelo trabalho e por o sucesso de outro dogma religioso, o empreendedorismo, estes valores ainda tem uma possibilidade de sustentação. Na teologia da prosperidade não há o mínimo apreço em desenvolver como se chegar aos sinais aparentes de riqueza, o importante é ser notado, se o próprio pastor retirando ao máximo o lucro dos fiéis através dos mais diversos expedientes dá uma ideia de como estes sinais de prosperidade podem ser atingidos.

Por outro lado despiram-se por completo dois mundos que eram mais ou menos encobertos, o mundo da política e o mundo do capital. O primeiro vem sendo mostrado dia a dia para todos, mostrando que o Estado é uma máquina de dar riqueza aos que a operam. A ideia de que todos os políticos são desonestos, que parecia uma das peças chave na destruição dos partidos de esquerda, se propagou para os outros e generalizou o conceito.

O mundo empresarial, que parecia a muitos, principalmente aqueles que não participavam do festim como algo em que a riqueza era obtida pelo trabalho ou mesmo a esperteza dos empresários que aproveitavam as oportunidades, esta imagem se desfaz rapidamente no momento que se vê grandes empreiteiros e outros capitalistas presos por ligação com os “notórios” ladrões.

Realmente sobrou o que, quem é pobre, é porque simplesmente não tem quem é rico é simplesmente quem roubou! Uma lógica binária e simples que por incrível que pareça está sendo criada pelos principais beneficiários da mesma.

Estabelecida esta lógica, que esconde uma ética por trás dela, o que contém o cidadão que não tem a ter. Simplesmente a polícia! Agora se falha a polícia como meio de manutenção da ordem social, abre-se caminho para a desobediência social, ou seja, quem não têm tira de quem têm, não importando que seja de um supermercado ou simplesmente de uma loja de eletrodomésticos.

Por outro lado há o mais grave de tudo, a superestrutura partidária de esquerda que traçava um caminho distante, mas provável, de uma sociedade mais justa, foi a primeira a ser demolida.

Ou seja, a única possibilidade aos que não têm como atingir ao status de ter algo é o saque daqueles que têm.

Logo o saque não é saque, é desobediência social.

Redação

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