Os “coxinhas” ajudam a refundação do “povo brasileiro”.

Há um aspecto que todos estão desprezando, a influência da saída para as ruas dos “coxinhas”.

Na época do início da era do poder do PT no Brasil, a imagem de Lula era forte, porém a identificação de grande parte da população brasileira com o PT era fraca, o partido era mais sustentado por uma base sindicalizada que aos poucos foi perdendo força pelas diversas manobras da direita, as falsas centrais, os falsos candidatos de centro-esquerda e outras narrativas.

Porém todas estas narrativas serviam somente para dissociar os vínculos da maioria da população com o Partido dos Trabalhadores, porém o que faltava na “recriação do povo brasileiro”, não como uma entidade neutra que somasse a todos, mas sim como uma entidade surgida de baixo para cima que de forma hegemônica ocupasse seu lugar na política brasileira. Chamo Recriação e não Criação, pois durante a era Vargas, que poucos entenderam como funcionava, o discurso “Trabalhadores do Brasil” criava uma ideia de povo separado da Oligarquia, que apesar das origens políticas e oligarcas do próprio Getúlio Vargas aos poucos se afastavam do presidente e mais a pequena classe trabalhadora urbana brasileira se identificava.

As mobilizações contra o golpe da esquerda eram fracas e tímidas, entretanto neste momento ocupam o espaço da mídia mobilizações dos famosos “coxinhas”. Totalmente minoritários em termos de composição social, os coxinhas assumiram uma posição teoricamente de maioria, que nunca foram, estas mobilizações com babás carregando os carrinhos com os filhos da Oligarquia, começou a criar um processo de nós versus eles, ou seja, o povo versus a oligarquia. A falta de pudor que as oligarquias brasileiras, movidas por princípios até certo ponto religiosos, procuravam distanciar-se da visão que eles dominavam o espaço político e econômico.

Não precisou muito tempo para o povo identificar com clareza que havia dois lados, um da Oligarquia que ficava apoiada nos esquemas políticos dos partidos de direita, mas nunca mostravam a cara, e o povo apoiado por um partido e com um líder carismático e claro.

Um gatilho para o despertar da consciência de divisão entre povo e Oligarquia são exatamente as manifestações promovidas pela direita, e para piorar tudo, a luta entre as diversas divisões da Oligarquia desnuda por completo o quadro partidário brasileiro, que começa a identificar que o eles é composto pelos oligarcas e seus políticos e partidos associados. Aos poucos fica claro na apresentação dos poderosos corruptores dos diversos partidos e diversas épocas, escancara o processo de domínio do espaço político pelas oligarquias.

A divisão entre povo e oligarquia quebra o discurso liberal de monopólio do discurso econômico, mostrando que entre o nós e o eles há uma diferença. O discurso nós (povo) e eles (oligarcas) é de assimilação mais fácil do que os antigos discursos da esquerda de proletariado versus burguesia, pois nele pode se enquadrar além do operário fabril (que seria o objeto principal da esquerda tradicional) até os micro e pequenos empresários que se veem como joguetes do grande capital.

Além de todo o descaso e descaramento do desnudamento do esquema de poder, que na verdade deixa milhões atônitos, a direita segue na sua caminhada em aprofundar cada vez mais o fosso entre a oligarquia e o povo, o fim da CLT que durante décadas serviu como uma espécie de amortecedor entre o povo e a oligarquia. A mudança na legislação trabalhista vai gerar um verdadeiro esgarçamento entre o capital e trabalho, as propostas de terceirização nas relações trabalhistas, que em países como a França e outros do primeiro mundo ainda encontram numa parte da população que pretende se lançar voluntariamente no mercado de trabalho como autônomo, apesar de ter um voo equivalente a de uma galinha, serve por algum tempo para aceitarem-se as modificações nos direitos trabalhistas. Porém em países como o Brasil, onde terceirizados são escandalosamente roubados por empresas que somem após várias fraudes é visto de maneira negativa e não é uma novidade para a massa dos trabalhadores, logo em pouco tempo ou quase que imediatamente o sentimento de revolta se intensificará cada vez mais.

Redação

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