Por que não há intervenção militar?

O falecido coronel Jarbas Passarinho chamava aqueles que ficavam em torno dos quartéis de “vivandeiras de quarteis” aquelas pessoas que ficavam buzinando nos ouvidos do exército opiniões para o exército permanecer no controle ou aumentar a repressão. A palavra vivandeiras significava nas guerras anteriores ao século XX as mulheres que vendiam comida as tropas ou levavam aos seus parentes ou amigos, era no tempo em que o conceito de logística numa guerra era algo completamente inexistente.

Pois as vivandeiras de quartéis capitaneadas principalmente pelo deputado Bolsonaro e outros grupos ditos intervencionistas estão pedindo com urgência a chamada intervenção militar, porém parece que apesar do aparente caos que temos no Brasil atualmente não há um movimento aparente nesta direção, ou seja, não se vê manifestação de quem está no comando por esta intervenção.

Muitos atribuem a atual inação dos comandos a um espírito cívico e constitucional das forças armadas, porém com os últimos acontecimentos que ocorreram no norte e nordeste e hoje em dia no Espírito Santo, talvez esta inação deva ser interpretada de forma mais séria, a falta de vontade aliada a uma incapacidade do exército brasileiro sem apoio claro e inconteste das polícias militares de realizar uma intervenção militar eficiente e duradora no Estado Brasileiro.

Caso fosse feita esta chamada intervenção militar vários pontos de interrogação serão levantados, desde quais forças políticas que a apoiarão, e principalmente se as polícias militares que estão sofrendo no momento sinais de quebra na hierarquia as apoiariam? Não pensem que os comandantes superiores das Forças Armadas estão dispostos a seguir a um ex-capitão que quase foi expulso do exército por insubmissão!

Hoje os efetivos militares das PMs são superiores em muito que os das forças militares das FFAA brasileiras em termos de tropas treinadas e profissionalizadas. O que se vê é que o principal foco de conflito no país nos dias atuais, surpreendentemente está dentro destas Polícias Militares e provavelmente dentro das próprias Forças Armadas. Quero chamar a atenção que por mais treinados que podem ser forças especiais das três forças armadas falta o essencial para elas, o batismo de fogo real e isto as polícias militares tem de sobra, uma coisa é brincar de guerra, outra coisa é a bala indo na sua direção.

Os estados da federação totalmente falidos, mas mesmo falidos dão aumentos notáveis para o Judiciário e Ministério Público, enquanto os aumentos salariais aos efetivos das polícias militares e no limite para as Forças Armadas ou estão simplesmente congelados ou recebendo aumentos muitas vezes menores do que do judiciário e MP, um coronel ou mais ainda patentes menores das PMs ou das Forças Armadas recebem em relação a um Procurador em começo de carreira uma fração insignificante no seu ganho, principalmente os quadros como tenentes e capitães (que efetivamente comandam as tropas).

Há na realidade uma disposição muito pequena por parte das Forças Armadas e totalmente inexistente das polícias militares dos estados em apoiar o bando de golpistas que fica cada dia mais claro, que estão se comportando como um bando de saqueadores. Ou mesmo, de servir de guarda pretoriana de um judiciário e um MP totalmente a parte de toda a população.

Outra coisa que deve ser levado em conta é que em 1964 as forças armadas intervieram contra um “inimigo” que estava totalmente mapeado, as suas lideranças perfeitamente conhecidas e principalmente uma coisa, não estavam armados. Dar golpes contra civis desarmados é como tirar bala da boca de crianças, agora ir contra inimigos que não se sabe de onde veem e pior, armados é outra coisa.

Não analisei aqui como seria o resultado de confrontos entre diversos setores armados no país, que vão desde as Forças Armadas, Polícias Militares, bandos armados e uma oposição mais remota a isto tudo, ou seja, o desdobramento a médio prazo, isto sim é algo ainda mais indeterminado.

Não adianta um juiz emitir uma ordem de qualquer coisa se não tiver na ponta do cumprimento desta ordem um indivíduo armado que faça cumprir as suas ordens, as forças armadas e a polícia tem o seu poder por um simples motivo, são armadas.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador