A presidente em seu labirinto, por Ricardo Cavalcanti-Schiel

A nomeação da nova gerência da área econômica do governo federal e a promessa de entrega da pasta da agricultura para a arquirruralista Kátia Abreu são sinais bastante evidentes de que a presidente Dilma Roussef não entendeu muita coisa dos movimentos simbólicos que ocorreram na última campanha eleitoral.

Ela já não tinha entendido nada do que se passara em junho de 2013, e parece que as suas restrições intelectuais continuam notavelmente robustas. E, pior que isso, ela parece solitária, autônoma e onipotente na sua soberana obtusidade. A não ser, é claro, que o restrito clube dos próximos, o arco dos conselheiros (se eles existirem), seja apenas uma nau que, a pretexto de alguma escassa pragmática, encontra-se na verdade à deriva, no nevoeiro de uma política definitivamente sem carta nem bússola.

No caso da economia, a nomeação de Joaquim Levy não se trata apenas de uma concessão ao mercado financeiro, uma tentativa de apagar o pequeno fogo de alguns desajustes com uma sobredose de ortodoxia neoliberal. E no caso da agricultura, não se trata apenas de entregar um setor à agenda do agronegócio, social e ambientalmente predatório.

Em ambos os casos, o que se evidencia é a renitência das pautas mais equivocadas que orientaram o primeiro mandato de Dilma Roussef; exatamente as pautas que as forças orgânicas do progressismo esperavam ver reformadas ao abraçarem generosamente a alternativa eleitoral de uma segunda chance para a atual presidente. E o que é pior é que talvez o principal sinal emitido por Dilma nas suas primeiras decisões-chave de novo governo é que ela não tem absolutamente nenhuma disposição para retribuir essa generosidade que dá lastro, substância e sentido à representação.

Desse modo, as primeiras decisões de Dilma são uma faca nas costas da parcela mais ativa e intelectualmente inquieta da sua própria militância eleitoral. Sua representatividade pode, a partir de agora, correr o risco de se reduzir, de forma sustentada, a um clientelismo passivo, que estará sempre, irremediavelmente, na iminência do imponderável.

As primeiras escolhas de Dilma poderiam ser comparadas à imagem de um governo democrata e pretensamente reformista nos Estados Unidos entregando algumas secretarias ao Tea Party. Barack Obama fez exatamente isso com alguns falcões estrategicamente posicionados, e estamos vendo aonde seu governo foi parar, como os americanos estão vendo o pato manco em que o presidente se tornou.

Mas aqui no Brasil se trata de mais do que isso. As pautas que o progressismo queria ver reformadas, se minha intuição política não se equivoca, eram: a da conciliação de tal forma exacerbada que não é outra coisa que rendição, quase que negação (senão prostituição) da própria identidade política; a transformação da governança em um clube de cricket, e sua estanqueização em nome da tecnocracia e do pragmatismo de uma sobrevivência palaciana; e, finalmente, a da covardia e mediocridade políticas, pelas quais o mundo das eminências pardas senhoriais (o mundo da mídia, o mundo das finanças, o mundo judicial…) se transforma num grande buraco onde enfiar conformadamente a cabeça e tapar os ouvidos a todo o resto.

A sensação, no entanto, mais deprimente ao receber os primeiros sinais do que pode ser o próximo governo Dilma é a de que esse governo continuará não tendo interlocução social… nem pretende ter. Esse mundo é invisível para ele; no máximo uma idealização duvidosa, alimentada por índices técnicos (como por exemplo os da famosa “nova classe média”). Até mesmo o Partido dos Trabalhadores passa a ser mera abstração, que não conta nem precisa contar. Dilma está se transformando, para o PT, no que Marina Silva já se tornou para a sua natimorta Rede.

E o governo não tem interlocução social porque os interlocutores aos quais outorga o monopólio da legitimidade são outros: as finanças, os quistos empresariais que garantem superávites imediatos, as hordas dúbias e obscuras do peemedebismo, os assessores bezerris especializados em balançar cabeças (afirmativamente) e, em larga medida ainda, uma mídia que sempre lhe foi hostil.

O que as eleições presidenciais de 2014 deixaram razoavelmente claro para as forças progressistas é que já não é mais tempo de reeditar alguma “carta aos brasileiros”, nem de reeditar algum desenvolvimentismo, tão delirantemente milagroso quanto míope, desculpado por eventuais superpibs e pleníssimo emprego. Nenhum dos dois assegurará legitimidade a um projeto político progressista, pela razão bastante simples que um projeto político progressista não se bastaria jamais em nenhum deles. Podemos ter pleno emprego, bolsonaros e malafaias todos juntos. E os dois últimos podem gozar de mais voto e legitimidade que o primeiro. Não é o milagre duvidoso de uma “nova classe média” que tornará o Brasil uma sociedade institucionalmente mais justa, solidária e tolerante. Esse Roque Santeiro do novo milênio já deu mostras de que a tornará apenas uma sociedade mais consumista e igualmente mais predatória.

Já não é mais tempo de reeditar agendas caducas porque o que ficou bastante claro é que as forças conservadoras continuam apenas advogando pela ordem plena e absoluta da sua estreiteza senhorial, qualquer que seja o custo e qualquer que seja o método: o golpe, se necessário, ou mesmo se apenas oportuno. Como é característico da lógica senhorial, o que ela deseja e espera de quem lhe for diferente é a pura e simples capitulação; uma capitulação que começa pela renúncia à construção de uma legitimidade alternativa e uma outra hegemonia cultural. É essa capitulação que começa a ser anunciada pelo acovardamento político que se quer justificado pelo imponderável da “governabilidade”.

Se é certo que algumas vezes a história ocorre como tragédia para depois se repetir como farsa, então as similaridades de cenário, já percebidas por alguns analistas, entre o novo governo Dilma e o último mandato de Getúlio Vargas ― este último tão caracteristicamente embalado pelo mito da suficiência das concessões políticas ― podem não explicar ainda como Dilma deixará o Palácio do Planalto, mas pode, desde já, insinuar o tamanho da farsa que seu governo tem potencial para se tornar, frente às esperanças do campo progressista no Brasil.

Ricardo Cavalcanti-Schiel é antropólogo, mestre e doutor pelo Museu Nacional (UFRJ)

Redação

18 Comentários

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  1. Nassif
    Em momentos dificeis,

    Nassif

    Em momentos dificeis,  as soluções tem que ser imediatas. 

    Em momentos impossiveis,  as soluções demoram “cinco minutos”

    Este é o atual jogo de xadrez político / econômico.

  2. “A nomeação da nova gerência

    “A nomeação da nova gerência da área econômica do governo federal e a promessa de entrega da pasta da agricultura para a arquirruralista Kátia Abreu são sinais bastante evidentes de que a presidente Dilma Roussef não entendeu muita coisa dos movimentos simbólicos que ocorreram na última campanha eleitoral.”

    Política, de fato, não é um assunto fácil de entender por todo mundo. 

    A nomeação da Katia Abreu é uma questão política. Além de preencher uma vaga do PMDB, a ida dela para um ministerio, abre a vaga dela para o o suplente (um senador do PT). Nesse caso o suprente é mais um aliado do governo no congresso. Ou seja, mata dois coelhos com uma só cajadada…

    1. É preciso ler, ouvir e amar para entender a política

       

      Atenir (sexta-feira, 12/12/2014 às 12:26),

      E fica mais difícil de entender a política quando não se despe daquelas velhas roupas que já não nos cabem mais ou quando não se faz o esforço de ler senão os nossos velhos jornais. Se tivesse feito a leitura do artigo de Fernando Nogueira da Costa “Tática fiscalista e estratégia social-desenvolvimentista” e que foi transcrito aqui no blog de Luis Nassif dando origem ao post “Tática fiscalista e estratégia social-desenvolvimentista, por Fernando N. da Costa” de quarta-feira, 03/12/2014 às 17:04, teria sido mais comedido nas críticas à presidenta Dilma Rousseff pelas escolhas que ela fez da equipe econômica para o governo da reeleição. O post “Tática fiscalista e estratégia social-desenvolvimentista, por Fernando N. da Costa” pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/blog/brasil-debate/tatica-fiscalista-e-estrategia-social-desenvolvimentista-por-fernando-n-da-costa

      E também, mesmo se ele fosse como eu crítico do governo do presidente Barack Obama, ele teria maior compreensão do que Barack Obama fez se tivesse feito o esforço de ler na revista Rolling Stone o artigo de Paul Krugman “In Defense of Obama” de 08/10/2014 e que pode ser visto no seguinte endereço:

      http://www.rollingstone.com/politics/news/in-defense-of-obama-20141008

      E mesmo na nossa grande mídia há textos onde se pode aprender mais sobre a atuação do conservadorismo na realidade brasileira e como, também na nossa realidade, é possível enfrentá-lo. Para isso bastava ter lido o pequeno, mas extraordinário texto de Marcelo Meterhof publicado na Folha de S. Paulo de ontem, quinta-feira, 11/12/2014, no caderno Mercado com o título “Conservadorismo atávico” e que, redimindo-se dos delirantes textos sobre o impeachment que inundaram o blog nos últimos dias, Luis Nassif, em boa hora, deu origem ao post “Conservadorismo atávico, por Marcelo Miterhof” e que pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/conservadorismo-atavico-por-marcelo-miterhof

      Decerto ele não fez nenhuma dessas leituras. E talvez nem venha ler o seu bem escrito e polido comentário e que pequeno não demandaria muito esforço. É bem verdade que, a se avaliar pelo tamanho do texto de “A Presidente(a) em seu labirinto” não é de empenho que se trata e assim não entenderá como sendo dirigido a ele o seu comentário.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 12/12/2014

  3. Indicação de ministros

    Ricardo,

    Qualquer que seja a tual dinâmica pós-eleição e pré- exercício da reeleição, é muito difícil compreender esta indicação de Kátia Abreu para a Agricultura.

    Quanto a Joaquim Levy, não vejo o menor sentido para o rol de críticas quanto à sua indicação para a Fazenda. Indicação de ministro sempre é a mesma coisa, time do contra e time a favor, e se o resultado futuro for ótimo, ah, e daí? 

     

  4. O ministério da revolução

    Ali pelo final dos anos 70 e início dos 80 do século XX, quando se ensaiavam os primeiros movimentos em direção a uma abertura política e a possibilidade de retorno à democracia com eleições livres e diretas, era comum em rodas de boteco, e quando a quantidade de garrafas vazias era grande, alguém iniciar a nomeação do ministério, para quando “chegássemos lá”, pelo voto ou pela revolução.  Aí era uma festa, um gritava “Lula ou Jair Meneguelli para Ministro do Trabalho, outro dizia Dom Paulo Evaristo Arns para Ministro da Justiça, Brizola nas Comunicações, Darcy Ribeiro na Educação, Stédile na Reforma Agrária, a farra era grande, valia tudo. Uma combinação de sonho com muita cerveja. 

    Pelo visto, tem muita gente que ainda não superou essa fase.

  5. Politica

    Calma, o segundo tempo esta apenas começando. Eh muito facil sair dizendo que Dilma não entendeu isto, não compreendeu aquilo. Acho que Maquiavel dizia que o Principe tem que ouvir a todos, receber todos os lados, mas a decisão, ele sabe ja de antemão qual deve ser. Ou seja, nem sempre é a que ele gostaria que fosse. 

  6. “Dilma está se transformando,

    “Dilma está se transformando, para o PT, no que Marina Silva já se tornou para a sua natimorta Rede.”

    Mas afinal, o senhor não deu apoio a candidatura Marina aqui mesmo no blog? Se eu estiver errado, me desculpe, mas tenho a lembrança de ter lido uma entusiasmada defesa dessa candidatura de sua parte. E já com o Gianetti, Lara Resende, Neca Setubal, e o vice ligado ao grupo Monsanto, e tudo.

    Se a concessão para o mercado já valia antes para Marina, porque não vale agora? E olha que a candidata do PSB não acenava para concessões no intuito de construir uma ponte de diálogo com o mercado. Mas sim para a aplicação de cabo a rabo da cartilha da ortodoxia neoliberal, como pregava o Gianetti. Sinto um forte cheiro de partidarismo no ar.

  7. Pós rancor fantasiado, auto referenciado e horizontalizado

    Algumas respeitosas considerações a respeito do post em questão: 

     

    1) Não há entrega nenhuma do Ministério da Agricultura para o ”arquirruralismo”. Desde o primeiro minuto do governo Lula, em 2003, o Ministério da Agricultura teve um representante diretamente ligado ao setor agropecuário. Roberto Rodrigues, primeiro ministro da Agricultura de Lula, é mais conservador ainda que Kátia Abreu e fez campanha em 2014 para Aécio Neves. Qual a diferença entre Roberto Rodrigues, Luis Carlos Guedes Pinto, Reinhold Stephanes, Wagner Rossi, Mendes Ribeiro Filho, Antônio Andrade e Neri Geller, ministros de 2003 para cá, e a sra. Kátia Abreu? A rigor, não há diferença nenhuma a não ser o merecido estigma que Kátia carrega por seus discursos passados. Justamente por isto é que existe o Ministério do Desenvolvimento Agrário, responsável pela pequena e média agricultura familiar, pelo PRONAF e, entres outras atribuições, pela demarcação de terras quilombolas. E este ministério sempre esteve e continuará a ser comandado pelo Partido dos Trabalhadores.

     

    2) Junho de 2013: o grande embuste para pseudo acadêmicos se jactarem e venderem imprestáveis e pueris brochuras… O junho de 2013 foi o ponto de inflexão mais importante desde a redemocratização do Brasil. Foi a partir dali que a direita mais retrógrada, mais reacionária, mais fascista e mais golpista finalmente saiu do armário. Hordas de camisas pardas e negras, mais contingentes expressivos de militantes do tal de ”sem partido” resolveram inundar as ruas a partir de junho de 2013 (o ápice aconteceu no dia 20 de junho). Passado o idílico mês de junho, cujo saldo para a esquerda é uma soma de zero mais zero, o que se viu foram as massas refluírem e o que restou nas ruas foram grupúsculos de fantasiados queimando reacionárias lixeiras, conservadoras paradas de ônibus e depredando direitosos museus… O junho de 2013 é um nada que se pretende elevar a tudo. É um evento que não modificou o caráter microscópico das nano agremiações de ”esquerda” que se vendem como a vanguarda da vanguarda da vanguarda do não sei o que lá. Quem se beneficiou do junho de 2013? Basta ver a composição do Congresso Nacional a partir de 2015 e a resposta está ali, indesmentível. 

     

    3) Joaquim Levy foi Secretário do Tesouro Nacional no primeiro mandato de Lula. Lula, aliás, que nomeou o ex presidente mundial do BankBoston e deputado federal eleito pelo PSDB de Goiás, em 2002, Henrique Meireles, como o seu presidente do Banco Central (onde ficou por 08 anos). Logo, a figura de Joaquim Levy não é nova nos governos do PT e, como já foi dito, fez parte até do governo Lula. O governo Lula, por acaso, pode ser acusado de ”ter se rendido” ao capital financeiro ou de ter praticado uma ”ortodoxia neoliberal”? Evidente que não! E então porque acusam Dilma disso? Porque Dilma virou uma espécie de Geni. O governo Dilma, em matéria econômica, foi mais à esquerda que o governo de Lula, daí o surgimento do pleno emprego mais vigoroso que o existente nos governos de Lula, daí a manutenção de todos os programas sociais e da política nacional de valorização do salário mínimo, daí a continuação da diminuição das desigualdades sociais e regionais, daí a política de incentivo para setores estratégicos da indústria nacional, etc. Dizer que o governo Dilma se rendeu à ortodoxia e que é ou será neoliberal é uma monstruosa e rotunda falácia. Quanto ao ”agronegócio”, a falácia já foi desmontada em parágrafo anterior. Não há entrega alguma, apenas a manutenção de uma política que iniciou com Lula em 2003, tendo como contraponto as ações do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

     

    4) O ”progressismo” (sabe-se lá o que isto quer dizer…) foi generoso com Dilma. Uau! Entre Dilma e Aécio, infere-se, o ”progressismo” optou por ‘dar uma segunda chance’ para Dilma… Pretensão pouca é bobagem! Pelo jeito o ”progressismo” (sabe-se lá o que isto significa) tem uma generosidade instrumental, sem convicção alguma num projeito político de médio e longo prazo. Exaurida a generosidade do ”progressismo”, pelo jeito, serão capazes de apoiar Aécio ou Alckmin em 2018! Mas como é progressista esse ”progressismo”, não?

     

    5) As primeiras atitudes de Dilma são uma facada nas costas da sua própria militância, nos diz o douto militante do ”progressismo” (sabe-se lá o que é isto). É um discurso voluntarista, arrivista e puramente retórico. Entra no rol dos mesmos enfadonhos discursos que víamos e ouvíamos contra Lula em 2002 e 2003, quando o mesmo nomeou Henrique Meireles para o Banco Central, Joaquim Levy para a Secretaria do Tesouro Nacional, Roberto Rodrigues para a Agricultura, etc. O que diz e dirá se o governo do PT dará uma facada nas costas da militância é o conjunto das políticas públicas implementadas, não a crítica vazia e retórica de quem se apresenta como representante da militância petista. 

     

    6) Novamente a retórica vazia e descompromissada. Comparar o sistema político norte-americano com o brasileiro é uma tontería digna dos filmes de Cantinflas! Nos EUA só existem 02 partidos no Congresso; no Brasil, ao contrário, existirão a partir de 2015 uns 22 ou 23, se não me falha a memória. Comparar situações tão absurdamente distintas é como pedir a um dromedário para tocar uma guitarra elétrica. O discurso do ”pato manco” tampouco chega a ser novidade. Foi dito e comemorado pela direita e pela ”esquerda” em 2006 e 2007, quando Lula foi reeleito mesmo com a bancada do PT perdendo representação em relação ao pleito de 2002. É mais um reacionário e escondido desejo que uma constatação empírica da história recente. 

     

    7) As pautas do ”progressismo” (o que isto quer dizer?) são difusas e desconexas. Reclamam do pleno emprego, reclamam das políticas de incentivo à indústria nacional, reclamam dos problemas ambientais (mesmo sabendo que a legislação ambiental brasileira é uma das mais restritivas e rigorosas de toda a face da Terra). Reclamam da agricultura, fazendo brilhar os olhos do setor agrícola e pecuário da Austrália, dos EUA, e da Europa, etc. E a questão da conciliação é bastante simples: quantas divisões tem o PT? O PT pode ir para a guerra aberta contra os seus inimigos na mídia, no judiciário, no ministério público, na oposição, nas forças armadas, em Washington ou em Londres? Quem dará sustentação ao programa partidário do PT, as poderosas divisões das nano agremiações de ”esquerda”? Se a presidenta fosse hoje a Luciana Genro, com meia dúzia de deputados federais e senadores, ela iria partir para o confronto e implementar a pauta do ”progressismo” na marra, sem considerar a correlação de forças? Se a ideia fosse esta, ótimo, Luciana seria derrubada em menos de 06 meses de governo (isto se não caísse antes ainda em função das críticas do próprio ”progressismo”, quando visse que o governo do PSOL não teria força para aprovar sequer o nome de uma rua no Distrito Federal). 

     

    8) A Presidenta Dilma Rousseff mantém e manterá interlocução com todos os movimentos sociais, sindicais e estudantis que queiram manter uma interlocução. E é o que tem feito desde o fim da eleição. O que é certo é que existem alguns grupúsculos de ”revolucionários” e de adeptos do ”progressismo” que não pretendem manter interlocuções políticas nenhumas. Preferem o arrivismo e o mantra de considerar, a priori, o governo Dilma como sendo um governo de traição nacional (posição ridícula que só isola cada vez mais as nano agremiações das massas, proletárias ou não). O PT terá um comportamento em relação ao governo Dilma, isto é certo. Como certo também que este comportamento é o mesmo que o partido tinha em relação aos governos de Lula. Ou seja, o comportamento de reivindicar mais espaço para as pautas e políticas públicas identificadas com o posicionamento histórico do partido. E nem poderia ser diferente visto que não se trata de analisar um governo do PT, mas sim um governo de coalizão capitaneado pelo PT. 

     

    9) Cita o douto adepto do ”progressismo” uma suposta interlocução do governo federal, segundo ele prioritária, com os setores financeiro, midiático e empresarial. Em que mundo vive este rapaz? Em primeiro lugar qualquer governo mantém interlocução com os seus adversários (Evo Morales faz isto, Hugo Chávez fazia, etc). Em segundo lugar, e qualquer estudante do segundo semestre do curso de História deveria saber, mesmo numa guerra civil ou entre países a porta da interlocução sempre permanece entreaberta. Manter interlocução com inimigos políticos não é algo que se faça pro prazer ou capricho, mas sim é algo que a necessidade do dia a dia induz a que se faça. Isto não quer dizer que estes setores sejam os únicos e manter interlocução, ao contrário. Todos os sindicatos de trabalhadores, o MST, a Marcha Mundial de Mulheres, ongs diversas, UNE, UBES, enfim, toda uma miríade de movimentos sociais, estudantis, de mulheres, quilombolas, indígenas, de sem terra e sindicais mantém uma interlocução direta com o governo federal. São recebidos desde sempre pelos governo do PT e eles sabem muito bem disso. O que eles deveriam saber é que não basta a vontade política do PT para aprovar tais ou quais pautas, afinal de contas o PT não tem 350 deputados federais, tampouco 50 senadores que lhe permitiriam aprovar o seu programa partidário sem tais ou quais alianças. 

     

    10) Novamente se tem a irritação dos setores do ”progressismo” com a elevação da condição material das classes laborais. Isto deveria de fato ser melhor estudado. Quando se fala em ”consumismo”, nota-se alta e forte carga de preconceito contra parcelas expressivas da população brasileira. Qualquer estagiário do IBGE sabe que no Brasil ainda impera o subconsumo, não o consumo! O povo brasileiro consome menos, nem se compara com o que se consome em outros países na Europa, ou com o que se consome no Japão ou na Coréia do Sul. Porque cargas d’água o ”progressismo” trata como um crime inafiançável o fato de milhões de pessoas terem tido acesso, nos últimos 12 anos, a bens de consumo duráveis como máquinas de lavar roupa, máquinas de lavar louça, fornos de microondas, computadores, telefones celulares, automóveis, roupas diversas, calçados diversos, geladeiras mais modernas, chuveiros mais econômicos, enfim, porque se trata a melhoria nas condições de vida dos mais pobres como um crime? Porque os mais pobres não podem ter mínimos confortos que os bacanas já tem há muito tempo? Porque não podem andar de avião ou comprar um veículo melhor que o Fusca 68 ou o Corcel 73 de sempre? Porque não podem consumir mais leite, frango, ovos, iogurte, bolachas, frutas, vinhos, cervejas, leites condensados e outros alimentos e bebidas? O ”progressismo” chama a melhoria de vida do povo brasileiro de ”consumismo”! Essa é uma visão atrasada e reacionária, que pretende manter afastados grandes contingentes populacionais das melhorias materiais nas condições de vida e de conforto. Tudo em nome, obviamente, da ”preservação do meio ambiente”…

     

    11) Não há capitulação alguma no governo Dilma. Há capitulação num governo que institui a Comissão Nacional da Verdade? Hà capitulação num governo que bate o pé para incluir a Venezuela no Mercosul, de forma oficial, logo após o golpe que derrubou Lugo no Paraguai? Há capitulação num governo que fortalece a agenda multilateral no mundo, em especial através dos BRICS? Há capitulação num governo que mantém absolutamente todos os programas sociais que vieram da era Lula, criando, inclusive, vários outros? Há capitulação num governo que mantém a política nacional de valorização do salário mínimo? Essa tese da ”capitulação” não tem base nem amparo algum na realidade concreta e objetiva dos fatos. 

     

    12) O último parágrafo do missivista não merece maiores considerações, pois trata-se de um exercício de futurologia. Só não se sabe se o mesmo apelou para as runas, o tarô ou para a astrologia a fim de elaborá-lo.

    1. É isto.

      Diogo, te agradeço.  Você não poderia ter sido mais feliz na tua exposição.

      Aqui mesmo no GGN pontuei que a Presidenta não mencionou em momento algum de sua campanha que abdicaria de suas responsabilidades e prerrogativas de escolha de sua equipe para atender a interesses individuais ou coletivos, quaisquer que fossem.  A considerar o que lemos aqui e alhures, não haveria pastas suficientes para atender aos desejos de todos.  Além disso, governar é transacional, circunstancial e muito, muito solitário.  Há que se colocar no lugar do outro.

      Um político respeitado de Brasília esclareceu: Programa de Governo não é Programa Partidário.  Há injunções, parcerias, acordos, apoios mútuos e interesses – legítimos, da política, da convivência democrática – em jogo. Além disso não foram somente os partidários que votaram em Dilma, foram os cidadãos que acreditam que ela representa a melhor opção.

      Cabe-nos criticar, apontar eventuais fraquezas e ameaças, alertar para armadilhas, mas querer escolher e fazer ilações sobre as escolhas me parece descabido, além de totalmente inócuo.

      Também me incomodam algumas escolhas, às vezes me parece que estamos cedendo demais, e nas últimas semanas passamos por muitos momentos tensos.  Mas entendo que estarmos inteiros em nosso trabalho, em nossas relações e em nossas posições é a melhor forma de contribuirmos, uma vez que esta é a forma de exercício da cidadania, diuturna, que nos cabe passada a eleição.

      Temos visto muitas posições progressistas em franca depreciação e menosprezo às ações e opções da Presidenta.  Não é crítica, é reclamação, é muxoxo, mimimi… Às vezes tenho a impressão de que é um movimento análogo ao da oposição em relação às escolhas ministeriais de Levy, Katia, etc… Algo como: “Dilma foi eleita e nem me agradeceu todas as postagens que fiz em seu favor, todas as defesas que fiz de seu governo, todo o meu empenho ..”  Ora, nós fizemos a nossa parte.  Dilma tem agora que matar 300 leões por dia e ainda tem que se preocupar de dar o pirulito de agrado aos meninos que se comportaram bem e foram obedientes, escovando os dentes todos os dias ?   Nós a apoiamos porque acreditamos, em nossas consciências, ser a melhor escolha.  Ou estávamos em busca de afagos e reconhecimento?

      Infelizmente, em junho de 2013, foi aberta uma porteira desastrosa:  foram alimentados, ganharam visibilidade e voz, grupelhos insípidos, vazios em busca de uma vida fácil que os mantivesse em atividade.  Muita gente que não contribui para a elevação da nação nem sua prosperidade; mas que ao receber atenção indevida fez ressurgir o que temos de mais nefasto em nossa cultura e que nos acompanha desde o descobrimento.

      Deixemos Dilma governar.  Foi árdua a sua luta não somente para chegar até aqui, mas para sobreviver a tudo isto.  Não deve ter sido fácil.  Façamos nós a nossa parte, construindo um país melhor e mais fraterno, para todos.

    2. Posso não concordar com o

      Posso não concordar com o artigo, agora que na hora que a coisa ficou feia para o PT na eleição, em que havia a possibilidade de perder no segundo turno, o ‘progressismo’ e a ‘nanoesquerda’ foram muito bem vindos pelos fundamentalistas do PT para votar na Dilma. Não estou falando só das redes, eu mesmo presenciei e vive vários casos de carinhos, agrados, conversas amigáveis de Petistas que passaram os  4 anos anteriores jogando pedra na ‘microesquerda’. Agora viraram sem sentido, microisso, micro aquilo, passada a eleição se tornaram irrelevantes. Posso estar errado, mais essa atitude só reforça a impressão veiculada pela outra direita: para ficar no Poder vale tudo para o PT,. até apredejar com uma mão, depois de afagar na hora da eleição. Então meus caros, em 2018 acho muito pouca gente da ‘microesquerda’ vai votar no PT, e afinal, não vai fazer diferença né? são irrelvantes, não é mesmo?

  8. Ai, ai, ai Sr.Ricardo…

    Prefiro repetir aqui as palavras sábias de uma mineira que não conheço, mas admiro:

    “Fiz campanha e votei no projeto que a Dilma representa e defende. Os caboclinhos que ela escolher para levá-lo adiante, têm meu voto de confiaça.”      Quem ama confia e eu assino embaiixo!

     

  9. Recado entendido sim senhor

    “a presidente Dilma Roussef não entendeu muita coisa dos movimentos simbólicos que ocorreram na última campanha eleitoral.”

    “Ela já não tinha entendido nada do que se passara em junho de 2013”

    Ambos os recados foram os mais claros possíveis:  “Quem manda aqui somos nós, e quem não está conosco está contra nós”.

     

     

  10. “Sua representatividade pode,
    “Sua representatividade pode, a partir de agora, ”
    Tanto faz. Acabou a eleição…
    Isso agora é problema para o próximo.

  11. gostei fos comentários sobre

    gostei fos comentários sobre o artigo.

    iria dizer ao autor para pegar em armas e sair por aí

    atirando pra todo lado.mas me contive.

    cpnfesso que só me irritei mesmo acima de tudo com essa

    mania de caracterizar a dilma como a geni

    da vez, como se ela não fosse responsável pela continuidade do sucesso dos governos lula

    e o país estivesse à beira do abismo.

    para resumir, prefiro ficar com a opinião do diogo e da anna, excelentes.

     

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