por Roberto Bitencourt da Silva
Experimentamos as agruras de um cenário nacional em que prevalecem absoluta descrença política, amplo e preocupante apassivamento popular, assim como o delineamento de um horizonte civilizatório nefasto para o povo brasileiro. A nossa própria existência enquanto estado nacional, dotado de instrumentos de exercício de soberania, bastante ameaçada.
Em meio às trevas é sempre difícil enxergar saídas e soluções. Se o ambiente é desolador para isso, mais necessárias se tornam as propostas e a capacidade imaginativa e projetiva de futuro.
É a própria condição da vida que impele os sujeitos a seguir em frente, pensando e agindo, principalmente em se tratando de uma sociedade como a brasileira, riquíssima, mas submetida a uma espúria degradação política e a um nefasto neocolonialismo econômico.
Nesse sentido, são propostas fecundas e visões mais generosas de país que o livro “Uma nova utopia para o Brasil”, de Ruben Bauer Naveira, aborda. O autor é funcionário de carreira da Petrobras, doutor em Engenharia de Produção e colaborador da plataforma Brasil Debate.
Recentemente lançado, o trabalho de Ruben toma especialmente a política brasileira como objeto de reflexão. Explora aspectos e princípios inovadores para os padrões nacionais, descendo a pormenores práticos muito ricos, instigantes mesmo.
São três as utopias mobilizadas pelo autor: a democracia direta (por meio de um partido “cavalo de Tróia” a atuar dentro do sistema em vigor); a constituinte dos cidadãos e os grupos de diálogo.
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Saiba mais sobre o livro:
Ruben Bauer Naveira. “Uma nova utopia para o Brasil: três guias para sairmos do caos”. Brasília, edição do autor, 2016, 144 páginas.
Para informações sobre a versão impressa e acesso à versão online consultar: http://www.brasilutopia.com.br/
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O eixo da argumentação de Ruben pode ser identificado naquilo que alguns chamam de empoderamento da cidadania, em face do império antidemocrático das oligarquias políticas e do grande capital.
Na avaliação do autor, a Constituição de 1988 esgotou-se. Entendendo-a como uma solução de compromisso entre, de um lado, a realidade e a prática da “dominação” dos grandes e, de outro, os apelos e as mobilizações populares em torno da “cidadania”, a Constituição em vigor foi escanteada por conta da volúpia da “dominação”.
O naufrágio da era de governos do PT, em arguta reflexão alinhavada pelo livro, corresponde à ruptura golpista daquele compromisso, mesmo entre partes e ganhos extremamente desiguais. As classes dominantes domésticas e externas no Brasil manifestaram abertamente a sua oposição a qualquer pacto, reitero, mesmo flagrantemente desigual.
O recente fim das vinculações orçamentárias para a saúde e a educação foi a pá de cal na Constituição, conforme a perspectiva de Ruben. Desse modo, a ilegitimidade impera e, fundamentalmente, qualquer solução que transcenda tal cenário inóspito demanda dilatado e politizado envolvimento do povo brasileiro.
Revelando acentuada sintonia com a matriz teórica da democracia deliberativa, nos termos político-filosóficos explorados pelo pensador alemão Jurgen Habermas, o autor vê na intensificação da participação e do debate coletivo um especial ingrediente para a superação do caos prevalecente no país.
Em seu diagnóstico do tempo presente, as Jornadas de Junho de 2013 demonstraram a insatisfação de vastas faixas da cidadania com o sistema político e a degradação dos serviços públicos. Contudo, não expressaram uma causa minimamente comum, que pudesse viabilizar transformações sociais, políticas e econômicas consequentes. Em todo caso, para o autor, foram demonstrações da vitalidade potencial da cidadania brasileira.
Inspirando-se na experiência da Islândia, que há poucos anos abriu as portas para uma ampla contestação do poder dos banqueiros e para um processo cidadão constituinte, Ruben propõe a bandeira de uma constituinte no Brasil, que se apoie exclusivamente na participação dos cidadãos, sem vínculos com cargos, clãs políticos e grupos empresariais.
Essa constituinte, assim como demais “utopias” do autor, estaria entrelaçada operacionalmente com as possibilidades democráticas de comunicação e participação oferecidas pelos múltiplos recursos da internet.
Ademais, o mandato imperativo – a que Ruben vez e outra denomina como status de “procuração” cidadã –, antigo pressuposto político socialista, é ressaltado e compreendido como instrumento de controle dos representados sobre os representantes, de sorte a inibir o enclausuramento burocrático e parlamentar. A tomada de decisões do representante (ou procurador) deveria ser assentada no posicionamento dos eleitores e filiados do partido.
Não mais me estendo, por haver inúmeras e outras complexas questões, muito bem argumentadas pelo autor.
Chamo, adicionalmente, apenas a atenção para o fato de que duas aspirações indicadas pelo autor, em meio à crise instaurada, uma “proposta para evitar derramamento de sangue” e “repaginar o velho binômio esquerda/direita”, tendencialmente poderiam se ver frustradas.
Em um país de legado colonial, assentado no poder do rentismo, dos bancos, dos fazendeirões e das multinacionais, cujo horror à participação política popular no processo de tomada de decisões na sociedade e no Estado, na construção da opinião e da agenda públicas, é atávico, com mil e uma demonstrações históricas, recentes ou remotas, parece-me difícil ventilar tão nobres aspirações minimizando a força dessa obscura realidade.
Dado o reacionarismo predominante na cultura política brasileira, não são poucas as ideias e as propostas de sentido prático oferecidas pelo livro que poderiam ser submetidas ao chavão do “perigo do bolivarianismo”, pelos teleboboguiados, costumeiramente manipulados pela estrutura de poder no Brasil. O viés teórico habermasiano da busca pelo consenso é o mote para a limitação que identificamos nas aspirações de Ruben.
Posto isso, as ideias e os pressupostos políticos preconizados e tão engenhosamente formulados por Ruben, seguramente, demandam circulação, serem submetidos à reflexão e à apreciação dos brasileiros que não querem desistir do Brasil, não querem ser meras testemunhas de sua degradação e de seu desmonte completo.
Se o eixo do pensamento de Ruben é a democracia (“sem adjetivos”, bem diz o autor, “democracia só mesmo sendo participativa”), o princípio que move o seu livro, suas propostas e visão de país é a velha e boa virtude republicana: o amor à Pátria.
No Brasil, uma virtude tão amesquinhada e subjugada pela força da grana, da venalidade capitalista, imperialista e neoliberal. Nadar contra essa corrente é preciso e o livro de Ruben é uma importante contribuição.
Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.
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MÃOS À OBRA!
Há muito tempo não tenho participação política partidária (desde 1978), mas lendo a proposta das tres utopias, fiquei com vontade de participar novamente Atualmente esta participação está submetida, infelizmente, à subordinação a hierarquias partidárias, palavras-de-ordem, ideologias. Quanto às Ideologias, o problema começa quando elas, em vez de guia para compreender a realidade e a conjuntura política, tornam-se obstáculo É o que está acontecendo atualmente com os partidos de oposição ao regime golpista. Acho a organização deste partido extremamente oportuna, para que tenhamos uma organização viva, plural e democrática para, quem sabe, lutar conta o fim do Brasil.
Utopias políticas para o Brasil,
Desculpe o “fora do texto”. Talvez tenha a ver com utopias…????
Por que nenhum partido, inclusive o PT, nenhum político, se preocupa em alterar o uso dessas URNAS fajutas e fraudulentas. Por que não criam o sistema de comprovação de voto, emitido na hora da votação e puxado pelo próprio eleitor? Afinal temos comprovante de qualquer compra, na mesma hora, por que não do voto. JÁ PAGAMOS POR ISSO…
Não é possível que alguém acredite que o margarina, palhaço de SP, tenha sido eleito decentemente. A turma do alkmin estava lá para garantir a irregularidade…
é porque as coisas no Brasil devem ficar assim
Nunca teremos um sistema 100% honesto.
É a eterna sindrome do vira latas.
Figura de linguagem
Belísima dica do autor do artigo.
Já estou procurado o livro para ler.
A parte mais preciosa do artigo é quando Roberto cita as três utopias propostas pelo autor.
Na primeira delas “a democracia direta (por meio de um partido “cavalo de Tróia” a atuar dentro do sistema em vigor), ele consegue resumir usando uma figura de linguagem felicíssima.
Eu tenho, ao longo de todo esse processo que culminou com o golpe, dito, que nada será possível se os políticos progressistas não dominarem os postos chaves das instituições, que foram tomadas e criminosamente se aliaram a direita para chegar aonde chegaram. Os moros, os dallagnois, os PF aecistas, o PGR Janot e o depravado STF, são testemunhas desses tempos obscuros.
Cavalo de Tróia é senha perfeita.
Constituinte Exclusiva comandada pela Dilma
Nesse momento a única utopia que interessa é a defesa da anulação do golpimchement e o retorno da Dilma para comandar uma Constituinte Exclusiva como descreve o autor do livro mencionado. Eleições nesse momento não serve, é aceitar o golpe. Todos os atores progressistas devem defender a ideia de uma constituinte exclusiva com a Dilma terminando o mandato.
Uma nova utopia para o Brasil
Pela primeira vez temos, nas mãos, um livro que pode colocar o Brasil nas nossas mãos. Ou seja, nas mãos dos brasileiros comuns. Parabéns ao Ruben e muito obrigado pelo imenso trabalho que realizou, pela enorme janela que acaba de nos abrir.