Delações na Lava Jato e Odebrecht: verdade(s) que só crentes veem, por Romulus

“Delações” na Lava a jato, Odebrecht e a teoria que “consuma” o “fato”: “verdade(s)” que só “crentes” veem

(com todas as aspas)

Por Romulus

Dias atrás o Nassif resgatou no “Xadrez…” aquela antiga dica dada pelo Eugenio Aragão no Brasilianas, acerca da disseminação, torta, da tal “teoria do fato” nas investigações do MPF (aqui).

Pois agora vemos mais uma demonstração cabal nos vazamentos de delações dos executivos da Odebrecht.

Na perversão da “teoria do fato” (consumado?), o investigador adota o mesmo modus operandi do estatístico manipulador dos números:

– Ali, como diz o Delfim Netto, “batendo o suficiente os números dizem o que se quer que eles digam”.

(nada a ver com as técnicas de interrogatório do regime a que serviu, nem com as modernas técnicas de negociação de “cooperação” premiada em Curitiba, certamente).

– Aqui, no caso específico da Lava a jato, foi descoberta a seguinte equação (“redentora”):

Caixa 2 + lobby = corrupção

Ressalvas:

  1. a “identidade” acima é igual à das estatísticas para o Delfim: surgem na base da porrada.
  2. a corrupção é aquela que “vem ao caso”. E tão somente ela!
  3. o “lobby” – ou mesmo o reles interesse na pauta! – pode existir ou ser inventado a posteriori, como vemos no “belíssimo” exemplo a seguir. Que nem original é: a ideia de pegar uma pauta legislativa de consenso no empresariado, aprovada por consenso no Congresso, e pendurar no pescoço de um governo – “corrupto”! – e de um “corruptor” – já pego para Cristo, já fora testada com sucesso pela Operação Zelotes, pendurando na CAOA e “na corrupção do PT (“e do filho do Lula!”) a extensão de incentivos a montadoras.

No novo exemplo, o MPF encaixa – de novo a golpes de cinzel e marreta – a realidade, inconvenientemente complexa e colorida, no roteiro simples e em preto e branco da “teoria do fato” (consumado?).

Diz O Globo (transcrito pelo comentarista “KNeto”):

Neste domingo, O GLOBO noticiou que executivos da Odebrecht relataram no processo de delação premiada que a empreiteira pagou pelo menos R$ 100 milhões em propina para o PT. As negociações teriam sido intermediadas pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Os valores teriam sido pagos pela empresa a partir do setor que cuidava das operações de caixa dois, chamado de Setor de Operações Estruturadas da holding. Esse setor chegou a ter as informações apagadas nos provedores da Odebrecht, mas, no processo de acordo para delação, executivos se comprometeram a recuperar as informações. De acordo com o relato dos executivos, a maior parte dos pagamentos teria sido feita em troca de benefícios obtidos junto ao governo. Segundo noticiou O GLOBO, entre esses benefícios estariam a desoneração da folha de pagamentos e a redução de imposto de renda sobre o lucro de empresas brasileiras no exterior.

Ou seja:

Será que os grupos de mídia – Globo inclusa! – que martirizaram o governo Dilma 2 diante da perspectiva do fim da desoneração da folha, devem ser eternamente gratos à Odebrecht e ao PT pela “corrupção” de ambos?

Assim como no passado houve a chamada “MP do bem”, será essa uma modalidade de “corrupção do bem”?

E outra:

Será que a Vale do Rio Doce, maior interessada na questão da tributação do lucro de subsidiárias no exterior (dentre diversas outras empresas brasileiras internacionalizadas), deve também ser eternamente grata à Odebrecht e ao PT pela sua “corrupção”?

*

Aliás, penso que gratidão não basta! Sugiro que a Globo e a Vale entrem na caixinha para pagar a multa bilionária que o MPF achaca da Odebrecht para deixar o herdeiro ir para casa.

“Achaca”?

Sim, ora.

Em linguagem para missionário habitué de púlpitos e testemunhos entender:

– Oh, fariseu dizimista:

(afinal “dízimo” vem de 10 por $ento, não é mesmo… ¬¬)

Por que vês o [cisco] no olho de teu irmão, porém não reparas [no tronco de castanheira da Amazônia] que está no teu? Como poderás dizer a teu irmão: Deixa, irmão, que eu tire o [sítio, digo, cisco…] do teu olho, não vendo tu mesmo [o troncão] que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a [a tora] do teu olho, e então verás claramente para tirar o [cisco…] que está no olho de teu irmão.

Ao final é de se perguntar: qual a terminologia mais adequada?

– “Teoria do fato”?

– “Teoria do fato consumado”?

– “Teoria consumada do fato”?

ou

– “Teoria consumada do fato não consumado”?

*   *   *

No início da faculdade de Direito nos ensinam um “absurdo”:

– “A coisa julgada tem o poder de fazer do quadrado um círculo”.

Ou seja, o Direito e o Judiciário são capazes de resolver – sem muitas vênias – o antigo problema proposto pelos geômetras gregos, acerca da “quadratura do círculo”.

– É porque é e ponto final.

Tivemos prova recente disso no julgamento do “Mensalão” com a mentira do “desvio dos 75 milhões da Visanet”.

“Mentira”?

Diga isso para os apenados…

E para o Daniel Dantas!

Ali, vimos que de fato a coisa julgada fez da mentira uma verdade.

Coisa pouca…

Afinal “a verdade é uma quimera”…

Um mito!

Talvez, “como uma deusa”, a verdade só seja vista por quem nela acredita…

O Direito – brasileiro – escandaliza a geometria:

Lá no “Mensalão” e cá na Lava a jato a coisa julgada faz mesmo do quadrado um círculo.

Barbosa e colegas de STF lá, Moro cá.

Mas não sem antes, nas mãos dos procuradores, a teoria consumar o “fato” (entre aspas mesmo).

Antônio Fernando de Souza/Gurgel lá e Janot/Força Tarefa cá.

Quem precisa de Anaxágoras quando se tem Fux – e Janot! – como (reis) filósofos?

Redação

1 Comentário

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  1. Radiografia do Golpe

    Jessé de Souza e a radiografia do golpe guiado pelos donos do dinheiro

    O livro se chama Radiografia do Golpe. É de autoria de Jessé de Souza, um sociólogo.

    Na internet o livro custa R$ 29,90: acesse 
     http://livraria.folha.com.br/livros/sociologia/radiografia-golpe-entenda-voc-foi-enganado-jesse-souza-1344799.html

    Mas antes leia o prefácio do livro que se encontrta aqui: http://www.viomundo.com.br/denuncias/jesse-de-souza-e-a-radiografia-do-golpe-guiado-pelos-donos-do-dinheiro.html

    Muito bom.

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