Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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“Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho”, por Rui Daher

Eric Hobsbawn

Por Rui Daher

Enquanto “Dominó de Botequim”, o livro, não sai e nos permita voltar à saga dominical entre pedras multiplicadoras de neurônios, mesinhas de lata ou granito, cervejas, cachaças, pastéis, pão na chapa, café com leite, e ovos cozidos em rosa (preferem pink?), vamos conversando de coisas chatas.

Ah, um aviso: se o amigo Marco Santo anunciar “Dominó de Botequim”, o filme, não confirmo Otávio Frias Filho no papel do Serafim.

Já escrevi, neste GGN, afetado por índole folhetinesca herdada talvez de “O Pasquim”, sobre minhas preocupações com um planeta que pode estar se afundando sem conseguir entender o porquê.

Para isso, não contem com nossas folhas e telas cotidianas. Especializaram-se em vazamentos, assassinatos de reputação, ecos judiciários, como se todas mazelas acumuladas em séculos estivessem na hesitação discursiva de uma senhora ou no corpo mole de um molusco tríplex.

Vários estudiosos, ao longo do tempo, registraram e analisaram o correr da história. Sociólogos, historiadores, antropólogos, filósofos, romancistas, poetas, mesmo políticos, barbeiros e o ex-presidente do Corinthians, Vicente Matheus, fizeram-nos juntar peças e entender os ciclos em seus finais e inícios.

Vejo muitos sinais apontando nesse sentido.

Devem ter notado que deixei de lado os economistas, embora respeite a muitos deles. Mas, de uns tempos para cá, fico confuso em saber, da maioria, a quais interesses servem suas análises. Na minha humilde preferência, como ponto de partida, sempre tenho escolhido Eric Hobsbawn (1917-2012).

Tenho para mim, de forma rasa, confesso, que as três últimas décadas trouxeram menos benefícios do que prejuízos a quem interessa, a massa que habita este planeta.

Direto e reto, curto e grosso, os caros leitores não desconfiam de que, nos anos recentes (vocês sabem o período a que me refiro) a economia mundial cresceu na medida em que vários países, através de políticas distributivas, trouxeram ao consumo enormes contingentes populacionais antes marginais, justificando aumento de produção, emprego, renda e uso de capacidade ociosa produtiva, mercantil e de serviços?

Vocês têm alguma dúvida de que os ciclos positivos do capitalismo tiveram essa característica, intrínseca ao sistema? Não é o que mostram os períodos pós-Guerras Mundiais?

O que melhor para o sistema? Consumo e poupança ampliados ao maior número possível de pessoas ou patrimonialismo concentrado em cada vez menos privilegiados?

Escolham e comecem a pensar em amenizar as desigualdades.

Dani Rodrik, professor de economia política e internacional, em Harvard, lamenta a queda nos números do comércio exterior. O que é isso se não a falta de demanda dos países emergentes, pobres, e mesmo das crescentes desigualdades nos países desenvolvidos?

Estudos e pesquisas se repetem mostrando o afunilamento da pirâmide social causada por ganhos patrimoniais e financeiros de alguns poucos.

Vejam vocês aí o que fazer, pois eu já estou indo borandá.    

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

12 Comentários

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  1. pode borandá  muito feliz

    pode borandá  muito feliz porque esse texto esta primoroso…

    pegoui na veia…essencias…

    sem secas e rezas, só razões que convencem ue o modelo

    de inclusão social foi e é  a saída para melhorar tb o sistema produtivo…

    1. Caro Altamiro,

      Você traduz exatamente a essência do meu pensamento. Não tenho esperanças de mudança de sistema. Já as tive. Hoje, sei impossíveis. Falo de transformações dentro do próprio sistema econômico capitalista. Abraço.

  2. Viés

    A opinião publica é o vetor de todo conservadorismo e de toda revolução.

    É baseado nela que os oportunistas se locupletam e os revolucionários impõem as mudanças. Para malgrado dos interessados a opinião publica é volátil  como as nuvens no céu, ela não se estabelece de um momento para outro nem pela vontade de um só ou de um grupo, a opinião publica amadurece como conseqüência das sementes plantadas, daí surgirem as doutrinas e filosofias de manipulação e convencimento das massas. Isto animou os ditadores, imperadores e reacionários de todas as espécies e de todos os tempos. Acontece que a vida em seu sentido transcendental, escapa do controle e do domínio dos interesses humanos e invariavelmente fortunas, idéias, teorias e nações têm vida curta, qdo. por qualquer motivo, não é estabelecida em cima de estruturas coerentes com esta transcendência das leis da natureza, que imperam e mantém a harmonia e o equilíbrio que sustenta a vida no planeta.

    Paradigmas se estabelecem e evaporam de um momento para outro, antes porem de se maturarem no tempo. Somente o discurso não tem poder de mudar com idéias estabelecidas na opinião publica, da mesma forma que esta não se formou a custa de discurso e sim através dos fatos e dos acontecimentos.

    O PT o Lula e a Dilma estão sujeitos hoje a um novo paradigma de imagem do governo na opinião publica. E apenas os discursos não mudarão a imagem do governo atual, que contorna as idéias das pessoas.

    Alguma coisa mudou no mundo, o pós-guerra mundial, trouxe a guerra fria e o confronto épico de duas vertentes de pensamento sobre governança, a revolução socialista da forma como foi feita se exauriu, o paradigma socialista diluiu-se como nuvem nos ventos espaciais. Necessário enfrentar o presente, olhando para o futuro.

    O Lula representa uma possibilidade de governança interessante para os interesses do Brasil. Levado pela inexperiência e pela ingenuidade sofreu um reves que atingiu sua imagem publica, de difícil solução. Porem nada é impossível, mesmo se levar em consideração que as forças políticas conservadora sofrem de uma inanição maior do que acomete o governo de plantão.

    A ideologia  de luta de classes é um ranço do passado, coisa da época romântica de Che Guevara, e seu amigão que tomou conta da ilha no caribe e a mantém até hoje impedida de exercitar alguma coisa parecida com democracia, como acontece com o Brasil, lá nem isto o povo possui. Aqui o arremedo de democracia faz perpetuar no poder os velhos coronelões de sempre. As lutas sindicais os políticos oportunistas que fizeram de tudo para favorecer uma pequena parcela da população em detrimento da Nação. Tudo isto é coisa do passado se quisermos realmente que este Pais se torne algum dia uma grande Nação que dispute com o primeiro mundo um lugar ao sol. 

    1. Conde,

      Na levada de seu texto é que pressinto, saído de nosso “mundinho midiático” paroquial. Nossas discussões têm sido rasas. O que pressinto é um momento de declínio na conformação atual do capitalismo, que fatalmente trarão rupturas muito próximas. O planeta beira contabilidade próxima da falência. Precisa de recuperação. E não é juducial, não. Abraço.

  3. O germe que alimenta o capitalismo é o mesmo que o destrói

     

    Rui Daher,

    Foi coincidência você ter terminado seu texto com o final de “Vapor Barato” ou não era essa a intenção, ou você está apenas  nos convidando a perambular pelos caminhos  menos ínvios da vida? Pensei em coincidência talvez um pouco induzido pelo fato de o post “A República dos Hipócritas, por Sérgio Saraiva” de sexta-feira, 12/02/2016 às 18:44, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria de Ségio Saraiva, começar com os versos iniciais de “Vapor Barato”.

    Um link para “Vapor Barato” de Jards Macalé e Waly Salomão é o que se segue:

    http://www.vagalume.com.br/o-rappa/vapor-barato.html

    E o post “A República dos Hipócritas, por Sérgio Saraiva” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/sergio-saraiva/a-republica-dos-hipocritas-por-sergio-saraiva

    Não creio, entretanto, que o capitalismo esteja nos seus estertores, a menos que se dilate bem o tempo em que os estertores ocorre. E acredito mais em processo de superação do que no de morte terminal. E a superação só pode acontecer em um ambiente de maior igualdade. Em outras palavras, o capitalismo tem de se desenvolver bastante antes de entrar em processo de superação. Se for assim, acredito que deve haver mais uns 50 anos de estertores.

    Desse modo, a preocupação se deve centrar no desenvolvimento que só ocorre com crescimento econômico e que deve ir em direção a maior igualdade. E para que o mundo cresça com maior igualdade há que se fazer um esforço tremendo de desenvolvimento para erradicar a pobreza na América Central e do Sul, na África, no Oriente Médio e outras regiões pobres da Ásia como Paquistão, Índia, Camboja, etc.

    E aqui vale mencionar um post interessante de autoria do economista Paul Romer intitulado “Let them come and they will build it” de quinta-feira, 17/09/2015, publicado no blog dele que me parece oferecer uma direção importante para se obter o crescimento econômico. O post “Let them come and they will build it” pode ser visto no seguinte endereço:

    http://paulromer.net/let-them-come-and-they-will-build-it/

    É hora de os Estados Unidos e a Europa financiarem a fundo perdido a construção de grandes cidades nessas regiões mais pobres do mundo. Cidades com toda a infraestrutura de grandes cidades: escolas, universidades, rede sanitária, energia elétrica, e aglomerados industriais. Deixar por conta dos países pobres a recuperação econômica do mundo seria de uma injustiça sem tamanho. Apenas iria criar déficits no Balanço de Pagamentos e que seriam apropriados pela grande indústria financeira mundial.

    Se o capitalismo não for aperfeiçoado sem dúvida que se cumprirá o ditado: “o germe que o alimenta é o mesmo que o destrói”. O aumento da desigualdade inerente ao sistema capitalismo levará a destruição do sistema sem que haja a superação.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 14/02/2016

    1. Cléver, meu caro,

      Embora conheça e adore “Vapor Barato”, antológico depois que Gal Costa a interpretou no show e disco “Fatal”, o meu “Borandá” foi referência a Edu Lobo, como coloco no vídeo junto ao post e ao pensamento constante de minha finitude. Estou indo. Não são estertores, espero, assim como não creio que o capitalismo o esteja.

      Falo de ciclos. E o atual, subordinado ao mercado financeiro internacional, tem causado extremos prejuízos aos setores básicos do sistema, que sempre fizeram-no incorporar desenvollvimento, mesmo que parcial.

      Suas referências, muitas que eu não conhecia, e o seu parágrafo final, reforçam o que escrevi. Que não se espere isso de um só governo, partido ou líder messiânico.

      Abraço. 

       

  4. O que fica dos ciclos

    Sim, os ciclos vão e vem, mas o importante é que mesmo após os ciclos passarem, algo deles fique.

    Por exemplo, o Brasil imperial se foi, mas a Lei Áurea permanecerá por todoa a eternidade como testemunho desta época.

    Getúlio Vargas foi uma época que passou, mas a carteira de trabalho, o voto universal, o décimo terceiro, são legados seus, que permanecerão mesmo após ele ter ido.

    Espero que o PT também pense em deixar algum legado que possa resistir ao tempo.

    1. Guimarães,

      a determinação de ciclos históricos não é tarefa de um só partido político. As heranças por você apontadas tiveram ampla participação das forças sociais. 

  5. Tudo a seu tempo
    “Dominó” ansiosamente aguardado Rui. Sinto falta de sua crônica dominical; acompanhava com gosto aquela turma unida pela amizade e cantada tão doce e alegremente por você.
    Não nos prive de um belo lançamento por aqui!
    Já a curva desenhada pela inexorabilidade: criação, destruição, conservação. Brahma, Shiva e Vishnu. Resta-nos aprender e prosseguir, aplicando o que temos de melhor.
    Tenha uma boa semana, Rui.

    1. Anna, querida,

      A coisa do livro está se encaminhando bem. Como ilustre desconhecido conto com a boa vontade de amigos. Não deixarei a cidade de minha paixão de fora em qualquer situação. Nem que seja para entregar-lhe em mãos um exemplar. Abraço.

  6. O Ying e Yang da civilização, pelo Armstrong

    Segundo ele não devemos temer as mudanças, é assim que o mundo anda.

    Punch

    QUESTION: Martin. …Thank you for getting back to me. I have one quick question though. What does it mean when you say “It is in the staging period”? Thank you for your insights. I don’t want to live in fear, but don’t know what to do.

    ANSWER: There is no need to live in fear. If I tell you I am going to punch you in the face, and say see, her it comes! Do you stand there and just watch it? Or do you move or defend yourself? If you understand what is unfolding then you can move with confidence and not get sucker-punched. Do not live in fear. Just accept this is our fate. We cannot stop it for this is the way things advance. They require events to promote change.

    yin_yangIt appears that 2016 is “the staging period” and by that I mean everything is preparing to align and when it does, we will see that alignment if you simply open your eyes to the world around you. As long as we understand what is coming, no worries; we can handle it. It is the reshaping of the future that we have to fight for. What kind of world will we leave our children? We can see the authoritarian posture of government as they hunt money everywhere. This has got to stop. They have become the enemy of civilization. People come together to conduct a more efficient economy. When government abuses the power and sees us as cattle, then we retreat back in the direction of smaller tribes that offer freedom from central oppression. The Ying and Yang of Civilization.

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