Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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De cartas, capitais e todos os Brasis não utópicos, por Rui Daher

Guaranésia, MG

De cartas, capitais e todos os Brasis não utópicos

por Rui Daher

(Para o GGN)

Leio o artigo de Luís Nassif “Xadrez de como os músicos vieram salvar a utopia Brasil”. Peça literária brilhante, multidimensional, que une passado, presente e futuro, e apenas se engana quando o autor menciona utopia no título que, de prima, me fez pensar frequentaria boa parte dos comentários.

Claro que para fazer uma linda canção, que é disso que o texto trata, algumas passagens precisariam ser idílicas, mesmo utópicas. Mas se estivéssemos no País que vigorou entre 2003 e 2015, estaríamos convivendo com utopias ou caminhando para torna-la real?

Aliás, recorto uma fatia do queijo que trouxe na semana passada das Montanhas Cafeeiras de Minas Gerais, e acompanho com um copinho trágico de uma cachaça tirada de um alambique do Povoado de Moçambo, para lembrar minha fúria quando nas batalhas do impeachment ladrei para que os músicos saíssem de suas tocas e nos apoiassem. Fui vaiado pela esquerda da sisudez.

Não há nada de utopia no texto de Nassif. Nem mesmo ao se referir de um recomeço pela música. O que ele narrou foi o caminho para a civilização, que abandonamos, espero, por uns instantes.

“Renasceram as vilas agrícolas”. Amigo, estão todas lá. Quer ver? Jeitão delas, de caipiras, caboclos, campesinos, sertanejos, como narrou Antônio Cândido. Vamos?

Na parte que me toca, “A nova economia agrícola”, fica calmo. Nas várias regiões em que você e eu, por motivos diferentes, convivemos, a coisa tá como deve ser. Autônoma. Reconheço que uma ajudinha da antiga agricultura familiar ajudaria muito. Cantei essa bola. Sabia que o MDA seria enterrado, mas os caras trabalham e quem trabalha se dá bem.     

(Para CartaCapital)

Embora não levem muito a sério o que aqui escrevo, agrada-me ver os produtores brasileiros de grãos felizes com, finalmente, as loas que são dedicadas à agropecuária brasileira, especialmente aos produtores de soja e milho, que aumentam produção, produtividade e continuam expandindo as novas fronteiras da produção, protegidos por bilhões de dólares, fiadores dos desastres com os biomas, riqueza real.

Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia, Guianas, Caribe, quem sabe mar adentro. Afinal, somos espetaculares, conforme o saber de Ronaldo Caiado, bancada ruralista e Michel Temer que hoje lhes entrega tudo o que pedirem.

Até que chega um bebê suíno, pronto para o abate, e pergunta: “Um minuto aí para o sacrifício. E no rabicó não vai nada”?

Não vai. Gente sem jeito esperando a autodestruição. Pergunto-lhes: estão contentes com a competitividade de sua infraestrutura; com a cartelização na indústria de fertilizantes e agrotóxicos e os preços que praticam; com o crescimento das barreiras internacionais; com o fiofó que o Brasil oferece a Donald Trump e União Europeia; com os acordos bilaterais EUA-China; com a falência provocada pelo governo ao Mercosul; com o nosso afastamento da exportação para a África?

Conto-lhes uma historinha, sobretudo aos “campeões nacionais”, que progrediram, a partir de 2005, quando um demônio governou, por oito anos o País. Até lá vocês foram apenas devedores do Tesouro Nacional e dos fornecedores de insumos, para quem davam o cano ou pediam repactuações nem todas cumpridas. Sofri muito com isso.

O que mudou de lá para cá? Seu insano trabalho, as mãos calejadas? A boa vontade dos compradores do planeta? Ou a dos fabricantes multinacionais de agroquímicos dos quais o Brasil depende 80% de importações?

Mas a economia capitalista não parará aqui a dar-lhes merecida folga. Diante de todos os seus obstáculos, os demais concorrentes internacionais, a cada ano, caminham cinco à nossa frente. Celeiro do mundo, somente se vendermos muitas terras para que eles possam modernizar e racionalizar a nossa produção, dependente de suas tecnologias. Para o Brasil obter algum grau razoável de tecnologia, capaz de compensar nossas falhas de infraestrutura e competividade.

Dou exemplo de para aonde os EUA caminham:

https://www.youtube.com/watch?v=jEh5-zZ9jUg)

 

Vão encarar sem reverem seus potenciais competitivos, à reboque do que eles determinam?

Então tá, mas pensem se essas tecnologias de ponta serão aplicadas aos arroz, feijão, trigo (que pouco temos), hortaliças, frutas, legumes, mandioca, costelinha de porco, cachaça, pimentão, tomates, cebolas, dendê, batatas, alho, lácteos, o cafezinho das Montanhas Cafeeiras, o chuchu, o mamão, o cacau, o pequenino e branco figo rio-grandense, o tabaco alagoano de Arapiraca, a castanha-de-caju do Pará. Tudo alimento produzido sem grande tecnologia, tudo medicinal como as folhosas.

Por que não irmos com um pé em cada barco, pois o dos campeões nacionais logo será ultrapassado. Vamos repetir o Mid-West dos EUA, se a nossa competitividade está na diversidade e em novos mercados compradores? Muita burrice. É o que temos de melhor para agregar valor. Apoiem a agricultura familiar e os produtos lá plantados. De lá virão nossas comidas e exportações.

Volto ao assunto de forma mais mortífera. Se a AK-47 não me levar a outros alvos.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

1 Comentário

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  1. de….

    Caro sr., então, porque cultivar bipolaridade ao invés de tratá-la? Mercados consumidores nos sustentam? Nós que os sustentamos. São eles, e não nós, os dependentes. Eles que passarão fome e privações sem nossa agropecuária. Importadores de Agroquímicos? Por que nossa bipolaridade associada a nossa esquerdopatia tupiniquim é tão arcaica e medíocre que sabotou a industrialização nacional a partir de Petrobrás/Vale, por que “somos anticapítalistas e não daremos apoio ao Agronegócio e seus tentáculos !!!” Destruição de Biomas? O maior crime ambiental deste país é realizado contra os “invisíveis” brasileiros com a poluição industrial e urbana. Esta sim destruiu os biomas nacionais.Visitem Pirapora do Bom Jesus, ao lado de São Paulo, a meia hora das Marginais. E constatem o que fazem com as águas e o Rio Tiête. Hipocrisia e Canalhice que Ong’s e Ambientalistas omitem. Cubatão, que multincionais estrangeiras de Petroquímica destruiu em meio à tanta poluição, sumiu dos noticiários, se como tudo tivesse sido resolvido. A Agropecuária muito se desenvolveu em governos progressistas? Então, porque a falta de apoio explicito? Nosso problemas são muito simples e de fácil solução. O Poder nas mãos do Povo. Alguém fez isto até agora? O Povo Brasileiro que se defenda. Não existem Salvadores da Pátria. abs. 

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