Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Forte de Copacabana, parte 1, por Rui Daher ou ninguém

Forte

Por Rui Daher

Este samba vai para a linda Ângela, seu filho Ilan; meu primo Galileu e seu filho João Gabriel e nora Maria Souto, os melhores instrumentistas cariocas de choro e samba; Anna Dutra, uma das primeiras admiradoras cariocas de meus textos, que me suprrendeu com um presente floral. Aos surpreendentes amigos Jocélio e Marilisa. Viviane, minha irmã, que segura nossa empresa e a sobrevivência de um escritor alucinado e fracassado. Vê aí, Fernando Juncal. Merecerão muitos sambas enquanto eu não partir. Amo à rodos e todos.    

Em Andança Capital de longo tiro, entre Piedade e São Sebastião da Grama, no estado de São Paulo, vários pensamentos foram aflorando ao caderninho de notas para posterior escrita. Não uso o iPhone para isso. Fiel a Ivan Lessa, a letra sai tremida pelo trepidar do carro num bloquinho. Por óbvio, não sou eu quem dirige. Já lhes contei a história da oftalmologista do Poupatempo que me proibiu de trabalhar na minha profissão, sem provas ou ouvir os argumentos científicos de minha banca de médicos defensores. Acredita-se que a doce senhora percebeu em meus olhos um desejo carnal psicopata pelos seus lábios carnudos e bateu o martelo. Espelhou-se no Supremo Tribunal Federal ou tem sobrenome Neves.

Nesta manhã de domingo, resolvo vir sozinho à Redação. Desde o fim de semana passado, quando estivemos no Rio para lançamento do “Dominó de Botequim”, estou sem notícias de Nestor e Pestana. Em momento de lazer, fôramos com uns amigos cariocas tomar chope na Confeitaria Colombo do Forte de Copacabana e se maravilhar com a paisagem da Baía de Guanabara.

Ríamos. Nestor, repórter solerte, depois do oitavo chope, confundia o Pão de Açúcar com o Dois Irmãos e bradava: “canalhas, onde os bondinhos”? Inspirado na arquitetura das construções e nos soldados que passavam fardados à nossa frente, sugeriu-nos entrevistar a mais alta patente do Exército lá presente. Havia tempo que eu não entrava num quartel para evento pacífico.

Tentara dissuadi-lo várias vezes, ele com o cigarrinho na boca, estilo Noel Rosa, evitar sentar-se na mureta, onde placas a cada dois metros sugeriam proibição.

– Rui, aqui não há nenhuma indicação, baseada em Lei, de qual seria a punição. Ademais, qual maior do que aguentarmos Temer?

– Nestor, vê aquelas vigias no alto lá do forte? Os velhos canhões por aí espalhados? Pois é, não precisa lei, abatimento sumário.

O ousado se levanta, dirige um sorriso delicado para uma daquelas senhoras que moram no Posto 6 e o observava com ar de reprovação. Volta à mesa, e pra mostrar doçura pede ao garçom quindim e licor de menta. Truque, sem dúvida. Escolado, eu previa riscos pela frente.

Vejo Pestana, sumido por uns minutos, se aproximar sorridente:

– Nestor, deu certo! O Coronel da Artilharia, que comanda o Forte, não está no momento, mas mostrei nossas credenciais de jornalistas ao encarregado e ele se propôs a nos ajudar.

– Gostaríamos de entrevistar o comandante sobre a história e as missões do Forte. Haveria alguém que pudesse substituí-lo?

– Quem do BRD, Blog-Boteco Rui Daher, os autorizou?

– Primeiro, a excelente presença dos cariocas no lançamento do “Dominó”, ontem no Botafogo. Esqueceu? As passagens de volta foram compradas em 10 parcelas no cartão.

– Sei, mais um prejuízo. Poucos se interessam. Mas e as surpresas de amizades de quem nem imaginávamos?

– Verdade, mas para o militar nos identificamos como do GGN. Menti. Mas, afinal, teremos a entrevista. Poderemos vendê-la ao “Estadão”: “O Exército se manifesta sobre a suruba política, econômica e judicial do País”.

– Esquece, principalmente a manchete. Ainda se fosse na extinta “Última Hora”, do Samuel Wainer.

– Teremos! Essa a minha alegria. O soldado, afável, baixinho, se tiver que guerrear será um bom rastejador, disse: “Pode deixar, vou ali pertinho, no Clube dos Marimbás, onde o Comandante se reúne com os amigos para pescar, e peço autorização”.

– Obrigado, mas não vá incomodá-lo, por favor.

– Não. Ele gosta quando alguém da imprensa se interessa pelo Exército. Reclama de que temos sido esquecidos. Em um minuto, senhor Pestana!

Bateu calcanhares, fez continência, e saiu. Voltou com um senhor alto, bronzeado, coturno, calça militar, camiseta branca, e um quepe que parecia esconder início de calvície.

– Bom dia, senhor Pestana. Sou o Comandante de Artilharia no Forte, e o cabo Martins me disse que os senhores jornalistas gostariam de conhecer mais sobre a história e a missão do Forte. Estou à sua disposição. Espero-os em meia hora na sala do comando. O Martins os conduzirá.

– Não gostaríamos de incomodá-lo.

– Faz parte de minha missão. Aguardo-os. Por favor, não atrasem.

https://www.youtube.com/watch?v=QIRwRd6pzBk

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

4 Comentários

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  1. forte….

    Caro sr. Rui, não é um comentário é uma intromissão, mas a respeito das suas idas a Piedade/SP. Como eu já citei, a Rodovia Raposo Tavares SP 270, a nova/velha rodovia da morte, privatizada há quase 2 décadas, com pedagios a cada 30 Km, que tiveram aumento de tarifas ontem, esperando por duplicação este tempo todo. Segundo a CCR que já foi ViaOeste, a melhor concessionária de SP. Imagina a pior? E ainda faz espetáculo sobre MAIO AMARELO. Surreal !!  Pois então, passando ontem pelo Km 88, pista simples, apesar de área urbana sem iluminação, um tal desvio provisório na cidade de Sorocaba, uma estrondosa porrada de frente, pessoas presas, jogadas no acostamento, posteriormente pista fechada por 5 horas. E hoje na Imprensa? O que? Quando? Como? Mortes? Vitimas? Talvez tenha sido apenas alucinação minha. Onde a tragédia? Imprensa da região, o sr. conhece como funciona. Mas no restante da mídia? Duplicação? Pra que duplicação, se temos MAIO AMARELO. Como eu escrevi, apenas intromissão. abs.     

    1. Zé Sérgio,

      é inacreditável a forma como acontecem os acidentes nas até boas estradas paulistas. Piora, quando vou para Minas ou Paraná, pois lá se unem precariedade com imprudência.

      Mas voltando a São Paulo, o que tenho visto nas estradas são absurdos de velocidades, cortadas, fechadas. É, por exemplo, impossível andar na velocidade máxima permitida em cada trecho que algum desses carrões de ricos colam na sua traseira, com faróis de xenon, e o fazem afastar-se ainda que para baixo de uma carreta. Fico furioso. Os “acostumados” já conhecem ou são avisados dos radares pelo Waze, e nos desastres agem como psicopatas sociais. Os caminhões se sentem desafiados e revidam. 

      Tanto nas Raposo, Castelo, Castelinho, como na que sai de Sorocaba para Piedade, tenho passado por acidentes horríveis, choques frontais, atropelamentos nos acostamentos. 

      Nada nos leva a acreditar em um bom futuro para este país.

      Abraços

      1. zé….

        Como escrevi, uma intromissão não um comentário, mas obrigado pela postagem. Quanto aos lunáticos é tudo isto que o sr, escreveu. Mas isto, um polical na rodovia ao invés de 50 radares, resolveria. Mas nós sabemos que radar não é para diminuir os acidentes nem a velocidade. Só gostaria de lembrar, que as excelentes rodovias paulistas (grande parte) é a cara da politica nacional. 40 anos que medíocres e incompetentes aproveitando das obras cruciais realizadas por outros. Castelo, Bandeirantes, Ayrton Senna, Imigrantes… sempre foram excelentes quando projetadas há décadas para 20% do trânsito atual e com 1% dos pedágios. abs.     

  2. Rio
    Nana e Dick cantando a Princesinha…

    Ah Rui, que presente!!!

    Saiba que o Rio recepciona a todos, mas abraça somente os que o sabem apreciar!!!

    Boa semana e sempre um bouquet!

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