Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Kátia Abreu e Patrus se complementam no agronegócio, de Rui Daher

Coluna publicada na Carta Capital

Em 24/11/2014, nesta CartaCapital, a coluna teve como título “Kátia Abreu pode ser uma escolha acertada”. Referia-me à sua nomeação como ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Recebeu mais de 11 mil indicações no Facebook. Desconfio que a maioria recomendava o apedrejamento do colunista, o que foi confirmado por 128 comentários inconformados, para não dizer o pior.

No mesmo texto alertei da importância do ministério do Desenvolvimento Agrário e a correta indicação de Patrus Ananias. Ao reconhecer a combatividade e o potencial reformador de Kátia Abreu, necessários em períodos menos prósperos para a agricultura e a precária estrutura organizacional do ministério e, por outro lado, o viés social do pensamento de Ananias em relação à agricultura familiar, apontei ser essencial tal complementaridade para o desenvolvimento da agropecuária brasileira.

Ainda mais quando já estava claro um longo período de ajuste fiscal de perfil ortodoxo, assim como os anteriores, de igual receituário e final inócuo. Hoje em dia, percebo que se não errei com os aspectos macroeconômicos, também não o fiz em seus desdobramentos no agronegócio, que sofre o que era esperado sofrer, mas com inquirições do mercado ainda amenas e respostas suficientemente positivas.

Mesmo que isso agrida o voluntarismo das folhas e telas cotidianas, que por motivos exclusivamente políticos exacerbam a crise, e ampliam as dificuldades das classes menos favorecidas. Também no campo fala-se muito da crise. Plantadores mostram-se preocupados, acusam uns e outros, mas investem e, segundo se prevê, devem repetir uma boa safra.

Nas redações, essa calma traz o arfar pesado à espera de qualquer nota: “a soja tem a maior queda em Chicago dos últimos 15 anos … a China proibiu a ingestão de galináceos brasileiros … EUA, Europa e Japão fazem acordo para só importarem café da Colômbia, Vietnã e África … o petróleo cai 50% e aniquila a produção de etanol”.

Só que não. No plano externo, as turbulências são contrabalançadas e amenizadas por produtividade, preços ainda sustentados, câmbio e fretes marítimos mais concorridos.

No plano interno, a queda de renda e o aumento do desemprego diminui o consumo de bens com maior valor adicionado, mas não o dos itens básicos da alimentação

E o vaticínio da coluna de uma boa dobradinha no agro ministerial parece se confirmar.

Kátia Abreu repensa a estrutura interna do MAPA, implanta processos menos burocráticos, ensaia elementos para uma política agrícola plurianual e, segundo o Valor Econômico (24/07), reduziu despesas de sua Pasta em R$ 69,4 milhões. Como previsto, tem atuação proativa no plano externo, estabelecendo, em pouco tempo, pontes importantes com Rússia, China e Argentina, além de novos acordos com Arábia Saudita, Coreia do Sul e Japão.

Patrus Ananias, por sua vez, além de garantir recursos recordes (26 bilhões de reais) para os programas voltados à agricultura familiar, promete estimular a formação de cooperativas de pequenos e médios produtores, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.

No sentido dessa junção de interesses dos dois ministérios, que atendem proposição governamental de ampliar a classe média rural, reporto texto do jornalista Luís Nassif, no GGN, confirmando o que noto em minhas Andanças Capitais:

“Dias atrás foi resolvida uma questão que se arrastava há décadas: uma legislação sanitária diferenciada para pequenos produtores rurais, sem submetê-los às mesmas exigências das grandes indústrias. Esse avanço foi possível graças à confluência de interesses dos Ministros Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, e Katia Abreu, da Agricultura, ambos empenhados em criar uma classe média agrária”.

Diante desses fatos, creio que o aqui escrito há oito meses não merecia tantas afrontas.

Cabotino demais

Em Andanças paranaenses, no começo deste ano, contradisse muitos agricultores que se mostravam desanimados em plantar milho safrinha. Reduziriam a área, a aplicação de insumos, nem para o curau daria.

Mais tarde, verifiquei que o exagero não foi tanto.

Hoje leio (Valor): “Disparam as vendas da safrinha de milho. Dólar forte, alta em Chicago e boa demanda abrem uma ‘janela’ que poucos acreditavam que haveria”.

Pamonhas, vê-se que não são.

Caiando o equilíbrio

Para disfarçar neutralidade inexistente, o jornal Folha de São Paulo, argumenta pôr nos pratos de sua balança editorial colunistas ditos de esquerda e direita, progressistas e conservadores. Pesa-os em rótulos, no entanto, e não em intensidade intelectual.

É o caso do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que passou a escrever coluna quinzenal sobre agronegócios.

Como? Agronegócios? Abaixo os parágrafos finais de suas duas primeiras colunas para o jornal:

“Para isso, defendo a realização de uma nova eleição para a Presidência da República”.

“Por esses e mais 1 milhão de outros motivos é que o brasileiro NÃO CONFIA no PT, em Lula e muito menos em Dilma”.

Não duvido ler na próxima: “Não disse? Eles comem criancinhas”.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

9 Comentários

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  1. Pré- lúdio, Rui ?!

    Não sei que exemplo dar para pré-lúdio.

    Brincar antes?

    Jogar antes?

    Regozijar-se antes?

     

    Fico com Baden e Vinicius, antes, durante e depois, ok.

    1. Eu também Odonir,

      o que eu queria mesmo era encontrar um “ao vivo” com o Vandré e a maravilhosa Ana Lúcia, mas não consegui. Então, fui de Esperanza, sabendo que você não perdoaria.

  2. Até o fim da era moderna –

    Até o fim da era moderna – 1453/1789 -, mais de 90% dos humanos eram camponeses que se levantavam todas as manhãs para trabalhar a terra com o suor da fronte. Os excedentes que produziam alimentavam a infima minoria das elites – reis, oficiais do governo, soldados, padres, artistas e pensadores -, que enchem os livros de história. A história é o que algumas poucas pessoas fizeram enquanto todas as outras estavam arando campos e carregando baldes de água.

    Fonte: Sapiens  /  Yuval Harari

  3. Não entendi aonde o artigo

    Não entendi aonde o artigo quer chegar mas sei que a fazenda de minha neta está invadida há 4 anos, nada mais se produz, os invasores são gente da periferia da cidade que nunca foram agricultores, sumiram com  tudo que puderam, mataram gado e lá estão causando imenso prejuizo, ja se tentou de tudo junto ao INCRA e nada se resolve.

    E pensar que existe um Ministerio carissimo para tratr de reforma agraria.

    1. Uma coisa é certa,

      não foi na fazenda da sua neta que o artigo quis chegar.

      Não defendo invasões e assentamentos improdutivos. Sejam por erros cartoriais do passado, maracutaias do presente, ou coletivizações ideológicas e imbecis.

      Mas viajo e vejo projetos de reforma agrária com apoio de programas da agricultura familiar muito bem sucedidos, produzindo e gerando renda. Esta uma das funçoes do MDA e do MAPA.

      Da mesma forma, visito fazendas de 5.000 hectares – agora no MAPITOBA – com 20 bois, compradas a preço de banana, apenas aguardando valorização para se tornar negócio imobiliário.

      Também não acredito que “gente da periferia da cidade” tenha tomado aulas com black-blocs. Procure saber o ethos desse espírito destruidor.

  4. A pessoa certa no lugar certo

    Quando dona Kátia, aquela que tomou posse vestida de Rainha da Festa da Pamonha, começou a ser cogitada ministra, veja só, da Agricultura, escrevi aqui: “A pessoa certa no lugar certo”. Breno Altman quase pariu colorido. Saiu Facebook afora praguejando e chegou a ousadia de, uma semana antes da confirmação definitiva, assegurar que “fontes haviam garantido que ela não seria ministra”. Assisti de camarote, sabendo que se tratava de escolha personal[issima da Dilma,pelo simples fato de serem amigas, muito amigas. O PMDB não a reconhece como integrante do partido, a escolha foi da cota pessoal da presidenta. Breno Altman talvez esperasse o Stédile no MAPA e o João Felício no MDA, vai ver. 

    Ora, o produtor rural tem de olhar para o Ministério da Agricultura e se sentir representado, assim como o industrial no MICT, etc. , saber que minimamente há interlocução para seus interesses. O grande problema da escolha da Rainha da Pamonha foi o enorme custo político. Entendi perfeitamente a escolha, achei acertada desde o princípio, agora vai explicar isso para a ala hidrófoba do partido, ou a garotada que sonha com um mundo sem usinas hidrelétricas e que se reúne debaixo do vão do MASP.

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