Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Os meus leoninos, por Rui Daher

Leoninos queridos, durante anos estivemos juntos, em algum dia do mês de agosto, em minha casa, para festejar nossos aniversários. A primeira amiga, Ticha Godoy, é do dia12. É, pois, a primeira a ser homenageada. Depois, viriam o Dino (15), churrasqueiro, chapeiro e leitor inveterado; Eduardo (também, 15), o mais lúcido agrônomo do Brasil; eu (16); e o Betinho (18), o mais antigo amigo que, aristocrata de Higienópolis, não fosse um lorde, hoje, cortaria várias cabeças que por lá habitam. Quando estamos a sós, o confessa com ferozes grunhidos e murros gestuais na direita medíocre.

Com eles, vinham cônjuges, agregados e amigos eventualmente convidados, ou mesmo não, que assim é este “turco” festeiro. Entravam nas nossas diversões, folias, risadas, e o parabéns-toada coletivo que terminava no assopro de alguma vela – a do Klink, talvez, quando minha resistência alcoólica ainda não havia atingido o zero. No dia seguinte, nunca lembrei se alguém havia ficado para o café-da- manhã.

Este ano, pessoinhas assim-assim resolveram blindar manifestações de alegria efusiva. Sem rumo, apreensivos, perguntamos uns aos outros sobre o que irá acontecer. Como nenhum de nós sabemos, recolhemo-nos, meio murchos às individualidades familiares. Desesperançados, talvez, ao olharmos nossos filhos e netos. Firmes. Não morremos. Uma graça.

Mas eu, não sei por quê, sozinho na sala escrevendo, exatamente aos oito minutos deste dia 12, fiquei com vontade de dançar. Passar 15 dias dançando, ouvindo música, sem trabalhar, escrever, viajar pelos campos agrícolas, apenas ouvindo causos de brasileiros que poucos conhecem. Não no sentido econômico, é claro, que isto já fiz e faço em inoportuno perrengue financeiro, mas sim na crença da revolução brasileira pelas artes, as forças de nossos elementos etéreos, a música, a literatura, o cinema, a pintura, tantos Brasis.

Olho no rosto dos jovens burgueses e os vejo confusos. De olho em nós, que no máximo acreditamos tê-los dado educação e vida boa. Ora, mas isso nos trouxe uma herança secular de posicionamento social. Fácil, pois, embora pesquisa Datafolha indique que nove entre dez brasileiros, achem que Deus nos fez merecer isso. Terá sido assim conosco, aniversariantes de agosto? Não era meio assim? Vamos tratar de nós, mas também ajudar os outros? Ou não? Pelo menos, assim os beneditinos insistiam comigo. Creio que os cônegos do Santa Cruz também. E o que fizemos pelos pobres? Já sei. Conseguimos fazê-los esperar.

Mas, como disse, durante esses nossos dias de eterna amizade, quero dançar. A tecnologia nos permite. Por isso, sugiro o mexicano Carlos Santana. Ele aglutina toda a América. Do norte, central e sul. Reconheço, por motivos comerciais ruma mais ao Norte, mas na essência, desde o final dos anos 1960, em Woodstock, Carlos deixa sobras latino-americanas, mexicanas e caribenhas para fazer que nossos requebros expressem também Mercedes, Violeta, Gardel, Pixinguinha, Gonzaga, Melodia,cumbia, salsa, mariachi e os blues do Mississippi e de Chicago.

I wish you all a merry and dancing August, my babies!

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

5 Comentários

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    1. Bárbaro, Carioca

      além do mais, passei a conhecer esse artista. Um só problema: com a minha idade e da patroa, no escuro, nossos joelhos bateriam em todos os móveis da sala. Deixei a luz acesa. Abraços

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