Panelaço frustrado.

Entediado com o vermelho, resolvi aderir. “Saco cheio de ser situação”, pensei. “Vou mudar de lado, e bater um pouco”. Bater em quem? Bater o quê? “Panelas, ora.” Vesti minha camisa verde e amarela com a estampa do Bob Marley (não tenho nenhuma da CBF), e lá fui eu, rumo à cozinha, pegar meu instrumento de indignação e partir para o protesto. De cara, já peguei a Tramontina, de aço inox, fundo triplo, presente de casório. “Vou botar banca de burguês”, pensei.
Mas pensei novamente: “Vai que amassa melhor escolher outra”. Peguei uma mais modesta, mas ainda decente. Não queria passar vergonha perante meus novos companheiros de protesto (Epa, companheiros?, melhor dizer “colegas”). Mesmo assim, era uma panela de mais de 80 Dilmas, novinha ainda. Fiquei com dó.
Então pensei “Quer saber, vou pegar esta bagaceira aqui mesmo, sem tampa, amassada, cabo pela metade”. Assim fiz, e fui para o abrigo panelar. “Quando se trata de bater, quem apanha é sempre a panela que fica mais embaixo do armário mesmo”.
Mas então me lembrei que, mesmo sem ser uma Tramontina, aquela panelinha pobrezinha sempre foi a minha preferida para cozinhar. Sei lá, mais prática, a comida fica mais apetitosa, mesmo um humilde mexidinho de arroz com feijão…
Assim, desisti. E, por absoluta falta de instrumento de indignação, voltei para dentro de casa, não sem antes gritar para um vizinho chato que estava batucando sua Tramontina: “Vai dormir idiota!”.

Redação

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