Dos fins e dos meios do “consulado Temer”, segundo Frias Filho

Otávio Frias Filho justifica Michel Temer: nem virtù, nem fortuna, apenas o meio disponível.

O golpe que vivenciamos no Brasil em 2016 tem raízes e motivações mais profundas que o inconformismo de Aécio Neves com a derrota ou o gangsterismo instalado por Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados e Romero Jucá no Senado. Esse pode até ser responsável por Michel Temer ter chegado à presidência, mas não é responsável pelo golpe, apenas percebeu a oportunidade de apoia-lo.

O golpe tem raízes nos interesses americanos contrariados pela política externa independente e nacionalista mantida pelos governos de Lula e Dilma; as oportunidades surgidas a partir da descoberta do pré-sal, entre eles. E pelo poder de contraposição geopolítica representado pelos BRICS, sem dúvida.

Seus instrumentos são a Operação Lava Jato, que não teria avançado tanto sem os acordos de cooperação com o Departamento de Justiça americano e sua máquina de espionagem em escala planetária, uma elite sem noção de nacionalismo, prisioneira da Teoria da Dependência, elementos do Judiciário, inclusos e uma mídia que sabe como ninguém ganhar dinheiro e poder com as crises. Os paneleiros formam apenas a massa de coadjuvantes necessária para dar um subterfúgio popular ao golpe.

Mas mesmo interesses e instrumentos tão poderosos não são os responsáveis pelo que aconteceu em junho de 2013. Nele não houve protestos dominicais. O “Monstro” estava solto e nas ruas por motivos que o próprio “Monstro” não saberia explicar.

Não houvera o “Junho de 2013”, haveria o “Agosto de 2016”?

“O fortuna velut luna statu variabilis. Ludo mentis aciem, egestatem, potestatem dissolvit ut glaciem. Semper dissolubilis, obumbrata et velata”.

Que importa? O pós- junho de 2013 foi instrumentalizado para chegar-se a agosto de 2016.

O conceito de “fortuna” foi me trazido pelo artigo de Otavio Frias Filho na Folha de 29 de janeiro 2017. Nele, Otávio tenta tratar do acaso como indutor da política e apoia-se em Maquiavel.

Acaba involuntariamente tratando é da “virtù”. Pelo menos da “virtù” de nossas classes dominantes, das quais Frias Filho é um representante. Do pouco apreço que essas têm pela democracia.

Vejamos o que o artigo nos traz:

“A economia capitalista se desenvolve alternando fases de expansão e de contração que a maioria dos países cavalga à sua maneira, mas submetendo-se às mesmas oscilações”.

Sim, as crises são o motor do capitalismo. Mas o que interessa, no artigo, é como Frias Filho vê as consequências políticas, para o Brasil, das crises cíclicas do capitalismo:

“Basta passar os olhos pela tabela que mostra a série histórica da evolução do PIB brasileiro ao longo das décadas, por exemplo, para constatar que rupturas de governo (e de regime), assim como presidentes impopulares, quase sempre se justapõem a desastres de dois ou três anos de crescimento zero ou negativo”.

A naturalização do golpe como ferramenta de gestão econômica da burguesia.

Segundo Frias Filho, o golpe que derrubou Dilma é apenas mais um de uma série histórica. Nenhum respeito pela vontade popular, nenhuma noção de algo parecido com a submissão devida às regras estabelecidas pela constituição. Apenas resultados financeiros como fator de estabilidade política. O lucro é o melhor e o único eleitor.

Nada mais esclarecedor quanto a isso do que a missão que Frias Filho vê para o governo Temer:

“Agora, um governo sem outra legitimidade além da formal sente-se livre das urnas o bastante para implantar toda uma camada de reformas aptas a liberar forças produtivas no próximo ciclo de crescimento que, depois de três anos consecutivos de recessão, não há de tardar”.

E de sua descartabilidade:

“Se a trepidação que não cessa desde 2013 não o inviabilizar pelo caminho, o consulado Temer terá sido acidente a expressar algo mais estrutural na periódica atualização capitalista”.

Arrogância, prepotência? Antes, uma noção claríssima do valor de Michel Temer.

Mas não de que Temer seja um acidente. Acidente o é porque poderia ser qualquer outro. O oportunismo de rapina de Eduardo Cunha e de Romero Jucá e seus contatos com “ministros do Supremo” o fizeram.

Mas não a “fortuna”. Este golpe é “virtù” dos poderosos de sempre.

Apenas mais um detalhe, o texto de Frias Filho usava como mote a “fortuna” que vitimou Teori Zavascki.

 

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia: para os que se valem de meios sujos, os fins sempre são nobres. Por que iriam alegar o contrário? A Oficina está no twitter.

Redação

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