Ode aos medíocres

Por Sergio Saraiva

Ou, jingle bells, jingle bells, meu Papai Noel é cruel.

Malditos sejam os medíocres.

Permito-me, por vezes, a fantasia. Da mesma sorte de um mundo em paz, a ilusão de um mundo sem medíocres. Fora dos devaneios, abomino o medíocre ainda que o creia tão inevitável quanto as bactérias que povoam o meu redor.

Apenas que nenhuma bactéria é medíocre, mas os medíocres são bacterianos – patológicos oportunistas.

Medito, no entanto, sobre tal condição humana – a mediocridade. Medito sobre os medíocres que, por humano, sou um deles.

Medito, então, não sobre o que temos de pequenos, pois que há pequenos grandes, mas sobre o que temos de apequenados. Não sobre como são comuns os medíocres, cotidianos, mas sobre como somos vulgares, quando não grosseiros.

Não ególatras, já que mesmo para tanto faz se necessária a noção de grandeza. Egoístas. Os medíocres não desejam, não anseiam, se recolhem no seu conformismo invejoso. Nem humildes, nem orgulhosos, nem iguais – subalternos mesquinhos.

Sem a grandeza nobre dos mendigos, sem a grandeza trágica dos ensandecidos, sem a grandeza torpe dos escroques e traidores. E, ainda assim, perigosos e traiçoeiros.

Dissimulados na sua desimportância, no seu não se fazer por que notar, estão sempre atentos às migalhas que possam alcançar.

Sendo-lhes impossível qualquer solidariedade, reconhecem-se, no entanto, pelo olhar esquivo, e rejeitam-se. Seu enorme espírito de corpo, sua figadal solidão.

Malditos, por quanto carreguem nos alforjes, suas vidas serão sempre maiores que se seus sonhos.

Redação

8 Comentários

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  1. A aparência da aparição

    Quem é Deus?

    Como será Ele?

    Será o meu Deus igual ao seu?

    Será igual ao dele?

    Será igual ao daquele miserável que está ali pedindo?

    Terá cabelos lisos e bonitos?

    Terá olhos azuis ou verdes?

    Será alto, elegante, bonito?

    Meu Deus!

    Quantas dúvidas me afligem.

    * Vídeo editado do “Especial do Natal – O Velho Testamento”, do Porta dos Fundos.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=N0G3tUpvRX0&feature=youtube_gdata ]

  2. A origem do termo medíocre é mediano que é condição humana

    Sergio Saraiva,

    É preciso primeiro saber a que medíocre você se refere. Há muito eu contraponho o termo quando preciso rebater o Luis Nassif na ânsia dele pela a grandiosidade. Para o meu conceito de medíocre, somos todos medíocres e esta é a condição humana. E às vezes ainda divago mencionando um ou outro gênio que eu digo que não poderia ser outro se não o que foi e como tal ele foi medíocre. Em geral trato da mediocridade de todos nós, mencionando gênios das ciências. E às vezes menciono o Maradona e me refiro aos dois gols dele contra os ingleses. E então para mostrar a mediocridade de Maradona eu dizia que ele só poderia ter feito aquele gol em que dribla todos os ingleses e por estar presso à condição humana e, portanto, por fazer um gol que para ele não havia nada de especial, aquele gol não foi nenhum gol de um super homem, mas um gol mediano, medíocre porque era a única forma de ele fazer o gol. Há um filme, parece que é mais recente, em que de certo modo Maradona explica o gol mais ou menos com o meu argumento da mediocridade. Segundo eles os ingleses foram aparecendo e ele não teve alternativa que não os driblar.

    E o gol de mão talvez não tenha sido um gol medíocre porque como ele diz a mão foi de Deus.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 26/12/2014

  3. O Clever está certo. Medíocre

    O Clever está certo. Medíocre significa médio, mediano, comum, simples. De um tempo pra cá, virou um termo praticamente ofensivo! Essa mudança de sentido é muito reveladora sobre os nossos tempos: as pessoas querem mais é ser superiores, acima da média… 

    Desde Horácio até há pouco, o que deveria ser valorizado era a mediocridade, condição de simplicidade, tranquilidade, naturalidade, ausência de ostentação. Tanto que em uma de suas Odes, o poeta latino cunhou a expressão paradoxal “aurea mediocritas”, ou seja, “mediocridade áurea”, ou seja, a condição mais valorizável é a média, não a baixa ou a alta.

    1. Sempre considerei que áureo é o meu termo e já há quem concorde

       

      Jair Fonseca (sexta-feira, 26/12/2014 às 16:08),

      Valeu. Posso até estar errado, mas com o seu comentário, fico com a sensação de que a minha mediocridade ganhou ares de grandiosidade.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 26/12/2014

  4. Minha medida do medíocre.

    Uma vez, preso em um dos costumeiros congestionamentos de Sampa, eu, da janela do carro, olhava para o nada enquanto o trânsito não se resolvia.

    Na calçada, um mendigo comia uma marmita. Sentado ao lado dele, um cachorro. Após comer metade da marmita, o homem colocou-a no chão para que o cachorro também comesse.

    Um homem sem mais nada no mundo que um único prato de comida e sem a garantia de que terá um outro no dia seguinte, ainda assim, divide-o com seu cão.

    Não serei eu quem vai chamá-lo de medíocre.

  5. Sonhadores

    Parabéns, Sergio Saraiva, pelo reflexivo texto. Chamo atenção aos menos atentos para a circunstância de que o Sergio se colocou na condição de mediocridade, ressaltando a sua condição de humano, aliás como a grande maioria de nós. Também para o fato de que o texto não abomina os medíocres em geral, mas os que se apequenam em sua condição de mediocridade. Sergio, a propósito, transcrevo um do meu blog, minúsculo, pois acho que tem pertinência. Abraços.

    Sonhadores

    por Marcio Valley

    A resistência dos conservadores àquilo que é fora do comum é apenas o lado visível de seu medo de agir. Essa resistência é a origem do desdém, repressão e preconceito em relação ao diferente. No final, porém, o destino da humanidade sempre será traçado pelos sonhadores.

    Porque quem sonha torna real para si aquilo que quer e que, ironicamente, acaba por ser também o enrustido e inconsciente desejo de mudança dos conservadores. E juntos, paulatinamente, os sonhadores nos presenteiam com um novo mundo.

    Há, contudo, um pré-requisito indispensável para ser sonhador: não temer a exposição e o ridículo. Em geral, uma pessoa define outra como ridícula quando a vê realizando aquilo que ela própria gostaria de fazer, mas cuja coragem para a ação lhe falta. Obrigado aos sonhadores pela audácia transformadora.

    http://marciovalley.blogspot.com.br/2012/12/sonhadores.html

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