Assassinos da SS com doutorado

Sugestão de Ricardo Cavalcanti-Schiel

O trabalho de Christian Ingrao é um bom ponto de partida para questionar o mito iluminista de que educação e informação produzem “esclarecimento” (Aufklärung) e que isso responderia naturalmente a valores “humanistas”. Independentemente do grau de instrução, as pessoas agem porque abraçam causas e valores. É através das lógicas simbólicas da cultura — ou lógicas discursivas — que se podem encontram as razões para as escolhas políticas — quaisquer que sejam — e não em alguma pretensa racionalidade universal.

do El País

Assassinos da SS com doutorado

Em estudo monumental, historiador francês Christian Ingrao ressalta o papel decisivo dos intelectuais na elite da Ordem Negra de Himmler

por Jacinto Antón

A imagem que se tem popularmente de um oficial da SS é a de um indivíduo cruel, chegando ao sadismo, corrupto, cínico, arrogante, oportunista e não muito culto. Alguém que inspira (além de medo) uma repugnância instantânea e uma tranquilizadora sensação de que é uma criatura muito diferente, um verdadeiro monstro. O historiador francês especializado em nazismo Christian Ingrao (Clermont-Ferrand, 1970) oferece-nos um perfil muito diverso, e inquietante. A ponto de identificar uma alta porcentagem dos comandantes da SS e de seu serviço de segurança, o temido SD, como verdadeiros “intelectuais comprometidos”.

O termo, que escandalizou o mundo intelectual francês, é arrepiante quando se pensa que esses eram os homens que lideravam as unidades de extermínio. Em seu livro Crer e Destruir: Os intelectuais na máquina de guerra da SS nazista, Ingrao analisa minuciosamente a trajetória e as experiências de oitenta desses indivíduos que eram acadêmicos – juristas, economistas, filólogos, filósofos e historiadores – e ao mesmo tempo criminosos –, derrubando o senso comum de que quanto maior o grau de instrução mais uma pessoa estará imune a ideologias extremistas.

Há um forte contraste entre esses personagens e o clichê do oficial da SS: assassinos em massa fardados e com um doutorado no bolso, como descreve o próprio autor. O que fizeram os “intelectuais comprometidos”, teóricos e homens de ação, da SS foi terrível. Ingrao cita o caso do jurista e oficial do SD Bruno Müller, à frente de uma das seções do Einsatzgruppe D, uma das unidades móveis de assassinato no Leste, que na noite de 6 de agosto de 1941 ao transmitir a seus homens a nova ordem de exterminar todos os judeus da cidade de Tighina, na Ucrânia, mandou trazer uma mulher e seu bebê e os matou ele mesmo com sua arma para dar o exemplo de qual seria a tarefa.

“É curioso que Müller e outros como ele, com alto grau de instrução, pudessem se envolver assim na prática genocida”, diz Ingrao. “Mas o nazismo é um sistema de crenças que gera muito fervor, que cristaliza esperanças e que funciona como uma droga cultural na psique dos intelectuais.”

O historiador ressalta que o fato é menos excepcional do que parece. “Na verdade, se examinarmos os massacres da história recente, veremos que há intelectuais envolvidos. Em Ruanda, por exemplo, os teóricos da supremacia hutu, os ideólogos do Hutu Power, eram dez geógrafos da Universidade de Louvain (Bélgica). Quase sempre há intelectuais por trás dos assassinatos em massa”. Mas, não se espera isso dos intelectuais alemães. Ingrao ri amargamente. “De fato eram os grandes representantes da intelectualidade europeia, mas a geração de intelectuais de que tratamos experimentou em sua juventude a radicalização política para a extrema direita com forte ênfase no imaginário biológico e racial que se produziu maciçamente nas universidades alemãs depois da Primeira Guerra Mundial. E aderiram de maneira generalizada ao nazismo a partir de 1925”. A SS, explica, diferentemente das ruidosas SA, oferecia aos intelectuais um destino muito mais elitista.

Mas o nazismo não lhes inspirava repugnância moral? “Infelizmente, a moral é uma construção social e política para esses intelectuais. Já haviam sido marcados pela Primeira Guerra Mundial: embora a maioria fosse muito jovem para o front, o luto pela morte generalizada de familiares e a sensação de que se travava um combate defensivo pela sobrevivência da Alemanha, da civilização contra a barbárie, arraigaram-se neles. A invasão da União Soviética em 1941 significou o retorno a uma guerra total ainda mais radicalizada pelo determinismo racial. O que até então havia sido uma guerra de vingança a partir de 1941 se transformou em uma grande guerra racial, e uma cruzada. Era o embate decisivo contra um inimigo eterno que tinha duas faces: a do judeu bolchevique e a do judeu plutocrata da Bolsa de Londres e Wall Street. Para os intelectuais da SS, não havia diferença entre a população civil judia que exterminavam à frente dos Einsatzgruppen e os tripulantes dos bombardeiros que lançavam suas bombas sobre a Alemanha. Em sua lógica, parar os bombardeiros implicava em matar os judeus da Ucrânia. Se não o fizessem, seria o fim da Alemanha. Esse imperativo construiu a legitimidade do genocídio. Era ou eles ou nós”.

Assim se explicam casos como o de Müller. “Antes de matar a mulher e a criança falou a seus homens do perigo mortal que a Alemanha enfrentava. Era um teórico da germanização que trabalhava para criar uma nova sociedade, o assassinato era uma de suas responsabilidades para criar a utopia. Curiosamente era preciso matar os judeus para realizar os sonhos nazistas”.

Ingrao diz que os intelectuais da SS não eram oportunistas, mas pessoas ideologicamente muito comprometidas, ativistas com uma visão de mundo que aliava entusiasmo, angústia e pânico e que, paradoxalmente, abominavam a crueldade. “A SS era um assunto de militantes. Pessoas muito convictas do que diziam e faziam, e muito preparadas”. O que é ainda mais preocupante. “É claro. É preciso aceitar a ideia de que o nazismo era atraente e que atraiu como moscas as elites intelectuais do país”.

Redação

23 Comentários

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  1. O uniforme da foto não parece

    O uniforme da foto não parece ser da SS. Faltam as insignias SS na lapela. Na manga uma insignia de força aerea.

    1. O Totenkopf não era exclusividade da SS.

      Aparentemente um tenente ( ou Untersturmführer) da SD (Serviço  de segurança).

      O Totenkopf não era exclusividade da SS.

       

  2. O nazismo surgiu num país

    O nazismo surgiu num país extremamente religioso.

    Logo, os genocídios praticados em nome da Ciência (ou de uma distorção dela) podem ter se inspirado nos genocídios cometidos em nome de Deus.

    Quem quiser consultar o livro “Antiguidades Judaicas”, de Flávio Josefo, verá que sob o comando de Josué os hebreus cometeram dezenas de genocídios ao derrotar e invadir as cidades dos cananeus. Após conquistá-las os hebreus passaram todos (homens, mulheres e crianças) no fio da espada.  

    Nazismo e o judaísmo da antiguidade compartilham ainda a idéia de um líder inquestionável enviado para conduzir o povo até a terra prometida: Moisés, levou os hebreus do Egito para recolonizar a Judéia; Hitler tentou fazer o mesmo ao iniciar a guerra no leste para recolonizar com alemães vastas porções da URSS).

     

    1. Ponderações

      Concordo que a lógica messiânica possa orientar de forma decisiva algumas formações sociais históricas, mas para isso é preciso definir com precisão histórica essas formações.

      Também concordo que a narratividade mítica bíblica oferece uma referência canônica para aqueles que a abraçam para reconhecer e dar sentido ao mundo. É assim com toda a discursividade mítica, dos índios da Amazônia aos redneck pentecostais dos cafundós da Luisiana. Mas “fatos” bíblicos dificilmente podem ser evocados como dados objetivos.

      A propósito do extermínio dos cananeus, isso realmente é uma figura discursiva (como tudo na Bíblia, antes de mais nada), mas dificilmente é um fato histórico: 90% dos marcadores genéticos dos atuais libaneses são oriundos dessa população (Ver o artigo recente no American Journal of Human Genetics — para quem se interessar, há um digest desse artigo na National Geoghaphic). Ou seja, temos um descendente genético de cananeus, em carne e osso, aqui perto: o Luis Nassif. O que prova que não foram necessariamente exterminados.

      1. Tenho que concordar.

        Citar a biblia como uma fonte histórica é de um primarismo que não é aceito por nenhum historiador ou arqueólogo da atualidade.

        1. Curioso.
          Você diz que eu

          Curioso.

          Você diz que eu citei a Bíblia.

          No entanto eu citei apenas o livro As Antiguidades Judaicas de Flávio Josefo.

          1. Mito não tem autor

            Estamos falando do mesmo corpus mítico. Não importa por qual pajé ele foi recitado.

    2. Era teista

      Hitler , era teista, porém segundo manuscritos de Martin Bormann, intitulados Tischgespräche, além do testemunho de pessoas próximas ao Führer,  afirmavam que ele tinha visões negativas do cristianismo.

      Criado em uma familia católica. Com o decorrer dos anos ele vai se aproximando do Deutsche Christen (DC), movimento protestante permeado pelo neopaganismo e pelo cristianismo positivo ( cristianismo devidamente nazificado). Mas ao final da sua vida nem esta versão dismorfica o satisfazia!

      Quanto ao fato da existencia de intelectuais que davam suporte ao nazismo, não é de se estranhar:em tudo , o Mal tem condição de se infiltrar.

  3. Consciência não é atitude, diz um muro da cidade onde vivo

    “Ainda que eu falasse
    A língua dos homens
    E falasse a língua dos anjos
    Sem amor eu nada seria

    É só o amor! É só o amor
    Que conhece o que é verdade
    O amor é bom, não quer o mal
    Não sente inveja ou se envaidece

    O amor é o fogo que arde sem se ver
    É ferida que dói e não se sente
    É um contentamento descontente
    É dor que desatina sem doer”

    Legião Urbana, Monte Castelo

     

    “Inclino-me diante da autoridade dos homens especiais porque ela me é imposta por minha própria razão. Tenho consciência de só poder abraçar, em todos os seus detalhes e seus desenvolvimentos positivos, uma parte muito pequena da ciência humana. A maior inteligência não bastaria para abraçar tudo. Daí resulta, tanto para a ciência quanto para a indústria, a necessidade da divisão e da associação do trabalho. Recebo e dou, tal é a vida humana. Cada um é dirigente e cada um é dirigido por sua vez. Assim, não há nenhuma autoridade fixa e constante, mas uma troca contínua de autoridade e de subordinação mútuas, passageiras e sobretudo voluntárias.

    Esta mesma razão me proíbe, pois, de reconhecer uma autoridade fixa, constante e universal, porque não há homem universal, homem que seja capaz de aplicar sua inteligência, nesta riqueza de detalhes sem a qual a aplicação da ciência a vida não é absolutamente possível, a todas as ciências, a todos os ramos da atividade social. E, se uma tal universalidade pudesse ser realizada em um único homem, e se ele quisesse se aproveitar disso para nos impor sua autoridade, seria preciso expulsar esse homem da sociedade, visto que sua autoridade reduziria inevitavelmente todos os outros à escravidão e à imbecilidade. Não penso que a sociedade deva maltratar os gênios como ela o fez até o presente momento; mas também não acho que os deva adular demais, nem lhes conceder quaisquer privilégios ou direitos exclusivos; e isto por três razões; inicialmente porque aconteceria com freqüência de ela tomar um charlatão por um gênio; em seguida porque, graças a este sistema de privilégios, ela poderia transformar um verdadeiro gênio num charlatão, desmoralizá-lo, animalizá-lo; e, enfim, porque ela daria a si um senhor.

    Resumindo. Reconhecemos, pois, a autoridade absoluta da ciência porque ela tem como objeto único a reprodução mental, refletida e tão sistemática quanto possível, das leis naturais inerentes à vida material, intelectual e moral, tanto do mundo físico quanto do mundo social, sendo estes dois mundos, na realidade, um único e mesmo mundo natural. Fora desta autoridade exclusivamente legítima, pois que ela é racional e conforme à liberdade humana, declaramos todas as outras autoridades mentirosas, arbitrárias e funestas”

    Bakunin

    1. Ainda que eu falasse a língua dos anjos

      Prezado Rui Ribeiro, 

      este texto, não é do Legião Urbana, mas sim  da Bíblia Sagrada,  está do Primeiro livro dos Corintias, no capitulo 13, nada a ver com o treze do PT também, mas seria um bom mote para o PT e para todos nós.

      “Ainda que eu falasse
      A língua dos homens
      E falasse a língua dos anjos
      Sem amor eu nada seria

      É só o amor! É só o amor
      Que conhece o que é verdade
      O amor é bom, não quer o mal
      Não sente inveja ou se envaidece

      O amor é o fogo que arde sem se ver
      É ferida que dói e não se sente
      É um contentamento descontente
      É dor que desatina sem doer”

      II CORINTIOS capítulo 13.

      1. A falta que faz uma busca no Google…

        Rodrigo, a terceira estrofe citada não faz parte da Carta aos Coríntios, mas de um soneto de Luís de Camões. Renato Russo mesclou trechos dos dois poemas e adicionou melodia, para criar (ou transformar?) a bela “Monte Castelo”.

  4. Esclarecedor
    Conheço muitos imbecis com doutorado…

    Só duas observações:

    1. Antes do mapeamento do genoma humano (1999), não se tinha noção do grau de proximidade genética entre as diversas etnias. Por isso nada impedia ninguém, por mais culto que fosse, de pensar que outros grupos humanos fossem quase que espécies diferentes, como cachorros ou ratos.
    2. A partir de 1933, a qualidade do sistema educacional alemão decaiu muito, com a priorização de atividades de treinamento e doutrinação dos alunos para a guerra e o expurgo dos professores mais competentes. Mesmo as faculdades especiais de elite criadas para formar oficiais da SS eram pouco mais do que casernas de luxo. O segundo tomo da trilogia de Ricard Evans sobre o Terceiro Reich documenta muito bem esse fenômeno.

  5. Muito pertinente, obrigado pela dica

    Obrigado pela dica do autor francês.

    Recomendo fortemente, a quem possa se interessar, a leitura do primeiro capítulo do último livro de Noam Chomsky publicado no Brasil, Quem manda no mundo?

    O artigo é “A responsabilidade dos intelectuais, Redux”

    Vale a pena ler e qualquer semelhança com a república das bananas não é gratuita.

     

  6. Hum, começando a entender os

    Hum, começando a entender os 4% mais escolarizados, preferirem Bolsonaro. Espero que tenham o mesmo fim!

  7. Não sei a quem surpreende que intelectuais possam ser monstros?

    Não sei a quem surpreende que intelectuais possam ser monstros?

    Um indivíduo para executar com primor os assassinatos frios de mulheres, crianças e bebes tem que necessariamente ter alguma distorção mental, distorção esta que não está característica de classes ou grupos sociais, logo a obra como tal não me surpreende em nada, como não surpreendeu a intelectualidade francesa em 2010 quando ela foi lançada naquele país, entretanto o que deve surpreender mais é que vários intelectuais famosos abraçados na mística do völkisch deram suporte teórico a todas as noções de supremacia das raças nórdicas e arianas.

    Mais me surpreende todos os conceitos eugênicos que são claramente relatados por Edwin Black, no livro “A guerra contra os fracos”, como na contribuição de Carl Gustav Jung, que baseado nas concepções românticas germânicas de Goethe e Schiller que centram sua “recuperação das origens pangermânicas”, passando pelos conceitos de Nietzsche que fecha no fim com as teorias de Jung.

    Um intelectual deve ser julgado sobre dois aspectos, o humano, do qual gerei a denominação de monstro para os SS criminosos, e o fruto do seu trabalho intelectual, pois estes movidos por interesses nada nobres, como, por exemplo, a inveja de Jung contra Freud. Este trabalho intelectual, mesmo que não sejam diretamente algozes dão sustentação a teorias racistas como a nazista. A crítica que deve ser feita é principalmente na distorção da teoria a partir de imensas mentiras histórica e um desejo de se colocar em planos superiores aos outros.

    Logo, nada estranho que uma pessoa com formação primorosa em termos de cultura formal escondam em si as características mais abjetas da natureza humana.

    Conclusão, intelectuais podem ser monstros, nada que escape das distorções da natureza humana, mas o mais surpreendente que pessoas por vaidade, por oportunismo e carreirismo se ponham em posições e locais errados em horas convenientes.

    1. Apenas recapitulando

      “É através das lógicas simbólicas da cultura — ou lógicas discursivas — que se podem encontram as razões para as escolhas políticas — quaisquer que sejam — e não em alguma pretensa racionalidade universal.”

      Alguma pretensa racionalidade universal: Isso inclui coisas como “dialética materialista histórica” e “luta de classes”.

  8. empatia

    o que faltava aos nazistas que cometiam essas coisas:

     

    A empatia nos torna menos orgulhosos e egoístas, pois faz com que pensemos não só em nossos pontos de vista, em como estamos nos sentindo, mas também na vida alheia, no que se passa no íntimo de alguém.

    Quando nos colocamos no lugar do outro, a compreensão se torna mais fácil de ser alcançada, e nossos corações se sentem mais aptos a perdoar.

    Quando nos colocamos no lugar do outro, temos a oportunidade de acalmar a raiva e de evitar a vingança.

    Quando nos colocamos no lugar do outro, desenvolvemos a compaixão, e procuramos fazer algo para amenizar o sofrimento do próximo.

    Quando nos colocamos no lugar do outro, expandimos nossa capacidade de amar e de entender que precisamos viver em família para realizar nosso crescimento.

    Quando nos colocamos no lugar do outro, preparamos nossa intimidade para receber as sementes da humildade, descobrindo a verdade de que somos todos irmãos, e que precisamos uns dos outros para colher os bons frutos da felicidade futura.

    A empatia nos torna mais humanos, mais próximos da realidade do outro, de suas dificuldades e de seu caminho.

  9. O apoio daqueles que têm

    O apoio daqueles que têm ensino superior a Bolsonaro vai a favor do que é mostrado nesse artigo (ele tem entre as pessoas de ensino superior sua maior aceitação em termos de escolaridade). Formação n significa capacidade crítica. 

    1. Discordo. Formação, no

      Discordo. Formação, no sentido intelectual, aumenta, sim, o senso ou capacidade crítica. Agora esse elevação pode ser para o que avaliamos como Bem e Mal. 

      Também não acho justo as generalizações. Nem todo apoiador do Bolsonaro é um nazista ou fascista. Há outras motivações envolvidas que não só as que fizeram a fama desse político. 

  10. Com os ossos metidos no
    Com os ossos metidos no ofício, tenho escrito alguns pitacos sobre o tema deste artigo, aplicado ao caso dxs médicxs.

    * PITACO 1*

    Hora de visitar/revisitar Benno Müller-Hill.
    Idealizar a figura dx médicx como missionárix
    intrinsecamente “do bem” é ingenuidade total. O mainstream médico é voltado para si mesmo, tendo na medicina sobretudo um business e uma busca de prestígio social individual. A maior parte dxs colegas de profissão tende a se alinhar com a ordem conservadora e seus valores, mesmo quando ela assume formas extremistas. Posições fanáticas, flexibilidade moral, dualidade ética alcançam significativas parcelas da categoria médica. Medicina e nazifascismo não se
    excluem e podem mesmo possuir
    complementaridade lesa-humanidade.

    * PITACO 2*

    VOLTO ao “Ciência Assassina” de Benno Müller-Hill, geneticista alemão, para desconstruir qualquer
    endeusamento da figura dx médicx. Na prática, em termos concretos, a ética delxs não difere nada dos demais humanos. Ela é permeada pelos mesmos valores ideológicos (visão de mundo) de respeito/desrespeito à diversidade, tolerância e dignidade humana. Benno documentou a afinidade avassaladoramente majoritária dxs médicxs germânicos com a visão de mundo e práticas nazis de extermínio em escala industrial de judeus, povos eslavos, ciganos, homossexuais, comunistas, social-democratas resistentes e doentes mentais.
    No caso da pediatra no RS em 2016, cabe guardar um sentido de proporção e reconhecer que o fato tem dimensão finitamente menor. Em todo caso,
    recorrer ao Código de Ética para justificar sua recusa é manobra diversionista, que visa mascarar sua atitude intolerante e absolutamente
    aética. Para não falar da criança punida –pequeno ser obviamente à parte de choques
    ideológicos –, a mãe também foi vítima de conduta anti-humanitária: nas alegações da colega médica sobressai apenas e tão somente a acusação de discrepante opinião política e nenhuma condenação a práticas eticamente
    condenáveis por parte da cliente. Assim, me somo àqueles que repudiam a atitude de discriminação havida no caso, bem como a defesa sofismática e novilinguística que representantes da categoria fazem do indefensável!

    * PITACO 3*

    Penso que é oportuno, mais uma vez, reportar-se ao “Ciência Assassina” de Benno Müller-Hill, o geneticista alemão, que desconstruiu qualquer tentação de mitificar a figura dx médicx. Benno documentou a extrema identificação
    da imensa maioria dxs médicxs germânicos da época com a visão de mundo e práticas
    nazis de extermínio. Para xs doutorxs não poderia haver excitação maior do que atuarem como (pretensos) semi-deuses com (real) poder de vida ou morte sobre os milhões de seres amontoados nos campos.. A boçalidade dos seus colegas brasileiros na atualidade –destaque para o neuroaçougueiro Richam Faissal, que recomendou “romper no procedimento” na Dona Marisa –, não é genuína nem chega perto das atrocidades praticadas de verdade por seus ancestrais nazis, mas guarda com elas sem dúvida uma grande afinidade ideológica em matéria de brutalidade e ódio em estado puro.

  11. a bem da verdade

    A bem da verdade não foram somente os nazistas ou, para o nosso tema, intelectuais nazistas que cometeram atrocidades. No livro ” despachos no front”. que serviu de base para o filme Apocalipse Now, o autor narra em mais de uma oportunidade, as consequências da guerra do Vietnã, absurdamente defendida por quase toda a imprensa dita conservadora, através de seus “honestos” e intelectuais  jornalistas,o autor do livro referido narra que as operações. “procurar, encontrar e destruir”, simplesmente se destinavam a matar a tudo e a todos nas aldeias que encontravam. No museu da guerra, no Vietnã, há um mural com uma frase de um oficial americano: ” quando terminarmos com tudo aqui, vocês voltarão à idade da pedra”. E tudo isso apoiado por “grandes” intelectuais modernos e defensores do assim chamado mundo livre. Se isso importa, muitos deles judeus, a exemplo de Henry Kissinger.

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