A última gota da violência do Estado

Oito policiais espancam um jovem que cobria uma manifestação. Um promotor público pede a policiais para matar manifestantes, concluindo seu discurso ao dizer que arquivaria o processo. Diversas pessoas são detidas por portarem vinagre, e tintas em spray: total, mais de 200 pessoas detidas. Policiais desferem golpes em pessoas que estavam em um bar e mandam fechar o estabelecimento. Imagens mostram outros policiais desferindo golpes contra sua própria viatura. Não é cena de nenhuma guerra ou revolução em curso, mas era apenas uma manifestação pacifica contra o aumento de passagens dos transportes públicos.

 

O que tem ocorrido nos últimos dias é apenas um retrato da repressão do Estado frente a qualquer ato contrário a seus mandatos. A imprensa, que se mostrava apática e contra os atos, pouco a pouco muda seu discurso e começa a despertar para uma realidade há muito tempo evidente.

 

A repressão praticada por forças policiais perdura desde a ditadura militar, que militarizou a instituição e lecionou para que ela se tornasse cada vez mais truculenta e respondesse com violência qualquer pessoa ou movimento que se opusesse à alta cúpula. O uso indiscriminado das supostas “armas não letais” em manifestações pacificas mostra que a polícia age de forma emotiva e pouco racional, disparando contra o rosto e a pouca distância, mostrando sua intenção de matar e causar danos.

 

O que nos últimos dias era um movimento para evitar o aumento do valor das passagens de ônibus, amanhã será uma luta contra a violência praticada pelo estado, não porque foi planejada, mas pela reação desmedida do Estado por fechar vias públicas e destruir patrimônios públicos.

 

Desde a redemocratização do Brasil, nunca houve uma discussão real para a desmilitarização da policia e um maior controle do Estado na ação de qualquer força de segurança pública, ou, até mesmo, dos membros do judiciário. E hoje, isso fica mais evidente perante a onda de violência física praticada pela policia e pela violência verbal por membros do judiciário.

 

Não importa se é o partido da esquerda ou da direita que está no poder, mas a violência gratuita que sempre foi evidente na periferia agora toma forma nas ruas do centro da cidade. O palco é a mesma Rua Maria Antonia que abrigou lutas travadas por estudantes da USP, que estavam contra o golpe de 1964, e os Mackenzistas, que o apoiavam.

 

Agora, entre os feridos estão os “defensores da liberdade de expressão”; os jornalistas que raramente vão para as ruas cobrir os fatos, mas que os recebem através de suas caixas de email. Estes amanhã estarão desempregados, pois a máquina de notícias está cada vez mais mecanizada. Hoje, boa parte da cobertura é feita por não jornalistas, tornando, cada vez mais, a comunicação menos parcial, sem nenhum tipo de censura prévia.

Os fotógrafos independentes, que recebem por empreitadas, perdem a visão e não receberam nem um centavo, pois são freelancers.  Isso tudo é apenas reflexo de nosso silêncio frente a todas as mudanças e recrudescimentos praticados pelo Estado para minimizar nossa possibilidade de expressão frente a todos os abusos por eles praticados. 13 anos se passaram quando o então governador Mario Covas enviou a tropa de choque para conter uma manifestação de professores que fechava um dos lados da Avenida Paulista.

 

E se você espera que a justiça seja feita, pode desistir, afinal, justiça feita por uma audiência que ocorre 20 anos após um fato, não é justiça, mas é apenas um paliativo. Hoje a manifestação que fica evidente não é pelo aumento da passagem e sim pela dignidade. Ontem, o sociólogo Manuel Castells, em palestra no evento “Fronteiras do Pensamento”, falou em sua conferência: “São movimentos emocionais e que se unem pela recuperação de uma dignidade que se perdeu. Às vezes eles começam pequenos e parecem que se mobilizam por pouca coisa, mas que funcionam como apenas uma gota a mais em uma indignação que existe em todos os setores sociais, que as pessoas não aguentam mais… A palavra ‘dignidade’ aparece em todos os países, em todos estes movimentos, em diferentes países e culturas. Eles não têm uma reivindicação concreta, mas querem o reconhecimento da própria dignidade, pois as pessoas não se vêem reconhecidas como pessoas ou cidadãos”.

 

Fotógrafo corre o risco de perder a visão após ser atingido por bala de borracha:http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1294952-fotografo-corre-o-risco-de-perder-a-visao-apos-ser-atingido-por-bala-de-borracha-em-protesto.shtml

 

Jornalista da Carta Capital sendo preso por portar vinagre: http://www.youtube.com/watch?v=5w1fxiXxdbw

Cobertura do Bom Dia Brasil sobre a manifestação mostra que armas não letais sendo usadas a menos de 2 metros: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/videos/t/edicoes/v/novo-protesto-deixa-200-detidos-em-sao-paulo/2633903/

 

Cobertura do jornal El País sobre a manifestação:http://internacional.elpais.com/internacional/2013/06/12/actualidad/1371000636_370579.html

Cinegrafista é atingido por spray de pimenta: https://fbcdn-sphotos-e-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash3/532502_429500460497935_344798374_n.jpg

 

Policial destrói a viatura policial: http://www.youtube.com/watch?v=kxPNQDFcR0U

 

Promotor defende o assassinato a manifestantes: http://noticias.terra.com.br/brasil/cidades/universidade-demite-promotor-que-desejou-morte-de-manifestantes-em-sp,9236c17d30e3f310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html

 

Imagens mostram que a história não mudou
Redação

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