Como a epidemia do novo coronavírus se espalhou pelo Brasil

Existe agora uma necessidade urgente de prevenir a transmissão, expandindo os testes, rastreamento de contatos, quarentena de novos casos e medidas de distanciamento social

Do Imperial College

Uma nova análise genética revela como o coronavírus se espalhou pelo Brasil, que vive uma das epidemias de crescimento mais rápido do mundo.

Os resultados de um projeto multinacional liderado pela Equipe de Resposta do Imperial College COVID-19 com 15 instituições brasileiras, e a Universidade de Oxford, trouxe novos insights sobre as origens do vírus no Brasil e como a transmissão do vírus está se desenvolvendo no país.

O Brasil tem atualmente uma das epidemias de coronavírus que mais crescem no mundo. Em 22 de julho de 2020, o Brasil havia notificado mais de 2.118.000 casos, o segundo maior número do mundo, e mais de 80.000 mortes.

Maior conjunto de dados genômicos da América Latina

Escrevendo na revista Science , os pesquisadores geraram um conjunto de dados representativo de 427 novos genomas amostrados em todo o Brasil.

Este é o maior conjunto de dados genômicos da América Latina e um dos maiores do mundo.

Eles combinaram dados genômicos, de mobilidade e epidemiológicos para entender melhor a transmissão do vírus em diferentes escalas e para investigar o impacto das intervenções não farmacêuticas (INP) na transmissão e disseminação do vírus no país.

Os pesquisadores descobriram que NPIs, como o fechamento de escolas e lojas no final de março, ajudaram a reduzir o número de reproduções (R) de mais de 3 em São Paulo e no Rio de Janeiro para perto de 1 nos dois estados.

No entanto, desde que as restrições foram suspensas, o número de R em ambos os estados permanece acima de 1 – o que significa que a epidemia está crescendo.

Introdução do vírus ao Brasil

A análise molecular das cepas do vírus no Brasil revela que houve mais de 100 introduções internacionais do vírus no país. A maioria dessas introduções foi em estados bem conectados, como São Paulo (36% de todas as importações), Minas Gerais (24%), Ceará (10%) e Rio de Janeiro (8%).

Apenas um punhado dessas introduções resultou em transmissão contínua em todo o país. A maior parte da transmissão contínua de vírus origina-se de três subtipos principais de vírus introduzidos na Europa antes da redução dos voos internacionais.

As cepas do vírus no Brasil podem principalmente (76%) ser agrupadas em três subtipos (grupos), e foram introduzidas no país por volta do final de fevereiro e início de março, sugerindo que as restrições a viagens internacionais iniciadas após este período teriam impacto limitado. 

Propagação local durante a primeira fase epidêmica

A análise genética estimou a transmissão comunitária na grande metrópole urbana do Brasil, como a cidade de São Paulo, no final de fevereiro, na época do primeiro caso relatado no país.

A detecção precoce atesta a melhor preparação para surtos no país e a rápida implementação precoce da vigilância molecular em todo o Brasil.

Os pesquisadores do Centro Colaborador da  OMS para Modelagem de Doenças Infecciosas  dentro do Centro MRC para Análise de Doenças Infecciosas Globais, o  Instituto Abdul Latif Jameel para Análise de Doenças e Emergências (J-IDEA), em colaboração com o Departamento de Matemática do Imperial, na Universidade de Oxford, e 15 instituições brasileiras, incluindo a Universidade de São Paulo, também estimam que durante a primeira fase epidêmica, o vírus se espalhou principalmente localmente e dentro das fronteiras do estado.

Em contrapartida, a segunda fase caracterizou-se pela movimentação de longa distância e o início da epidemia fora da região sudeste do Brasil.

Os pesquisadores afirmam que existe agora uma necessidade urgente de prevenir a transmissão futura do vírus, expandindo a triagem diagnóstica rápida e acessível, rastreamento de contatos, quarentena de novos casos e medidas coordenadas de distanciamento físico e social em todo o país.

‘Maior conjunto de dados genômicos da América Latina’

O professor Nuno Faria , investigador principal do Projeto CADDE no Reino Unido, leitor do Imperial College e da Universidade de Oxford, e co-autor do estudo, disse que “o sequenciamento do genoma está cada vez mais se tornando parte do kit de ferramentas para a resposta a epidemias infecciosas e pode ter um impacto direto na saúde pública. Geramos 427 novos genomas SARS-CoV-2 em todo o Brasil e os analisamos juntamente com dados de mobilidade e epidemiológicos para investigar como a propagação e transmissão do SARS-CoV-2 mudou em resposta às medidas de controle implementadas no país. ”

A professora Ester Sabino, investigadora principal do Projeto CADDE e co-autor do estudo no Brasil, disse: “Geramos o maior conjunto de dados genômicos da América Latina ao construir uma rede inovadora e colaborativa no Brasil e no Reino Unido. Isso tem implicações importantes para a detecção precoce de ressurgimentos de vírus e nossa capacidade de responder a novas ameaças virais ”.

A pesquisa foi apoiada pela Parceria CADDE Brasil-Reino Unido, financiada pelo Conselho de Pesquisa Médica (MRC) – Fundação de Pesquisa de São Paulo (FAPESP), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e Wellcome Trust.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador