A Formalidade dum Absurdo

Às vezes, como está a acontecer agora, sinto-me perdida com as palavras, com a escritura, com os modos da escrita que não a detenho, senão ela retém-me a mim. Fico aturdida por não saber como será, como virão as palavras de amanhã, tendo que aceitar a forma como saem e o modo como são repassadas ao claro-estar. Aparecendo como são! Mas queria poder fazer um pedido: dá-me a mim a minha vida, porque justo é quando somos donos do nosso pleno viver. Não posso ser pessoa dependente daquilo que não sei como administrar exatamente e acertadamente, sendo pega de surpresa constantemente. Quando as pessoas escolhem do que depender, e dependem alegremente daquilo que querem. Eu fui caindo na escritura sem saber onde estava indo, e continuo sem saber, e já é tarde para o abandono. Isso é uma constatação: estou no ponto em que não se larga mais as mãos da escrita, ela foi apoderando-se dos dedos dos ossos e virou segunda pele. E não se mata aquilo que é vida. Porque o escrever é um desenvolver de processo tão antigo e alargado no tempo, um estado sem trégua nem remanso.

Tenho uma novela, tenho um romance, tenho um manifesto da veia poética que não a quero deixar pulsar, escrevo e a esmago, porque não quero ser poetisa e não mais escreverei poesia, estou cansada da poesia estacionada em meu olho comendo uma vida que poderia ser vista com jeito normal-social. Mas não posso ter uma vida normalizada nos parâmetros do comum, porque nunca fui pessoa comum e todos os esforços e tentativas caíram em uma sociabilidade mal feita e torpe.

Afinal, também recuada não estarei jamais. Apenas nesse beco sem saída, com a escrita e sua companhia, essa que exclusivamente trata-me com o afeto de querer ver-me em tudo que sou. Ela está disposta a sustentar-me naquilo que é meu ser, quando não preciso fingir. Tenho essa relação com a escrita e não poderia negá-lo, senão até mesmo devo pensar ser isso um presente: a escrita quer conhecer-me a mim. Talvez, prestando mútuas condolências, devo dizer-te: um prazer.  

Redação

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