Exame Nacional para Docentes: Um Bom Começo de Conversa…

Lançado ontem, dia 25, o documento para consulta pública sobre o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente, é bem elaborado, se pensarmos nele como uma declaração de princípios.

 

Contudo, não é este o caso e ele apresenta alguns problemas, sobretudo se considerarmos que ele abandona justamente uma virtude fundamental da avaliação: a objetividade e a precisão técnica.

 

Um destes problemas se refere à imprecisão dos termos. Diz,que, inicialmente, a prova será destinada somente aos candidatos à docência no ensino infantil e anos iniciais do ensino fundamental (pois, para um segundo momento há a previsão de desenvolvimento das provas para os professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio regular). Depois afirma que esta proposta é destinada a quem tenha concluído ou estejam concluindo cursos de formação inicial para a docência.

 

Minha questão: quem são, realmente, os destinatários deste exame? Para licenciados em geral ou para licenciados em cursos de pedagogia, já que é dirigido apenas à docência no Ensino Infantil e séries iniciais do EF? Estariam as vagas deste nível de ensino abertas a profissionais das áreas de licenciatura em geral?

 

A outra questão é de natureza mais teórica e, sem entrar no mérito sobre as razões que explicam o desprestígio da função docente (muitos dos quais são subestimados no próprio texto), entendo que o documento cai num velho paradoxo, comum em trabalhos acadêmicos: as premissas teóricas não se articulam com as consequências.

 

 E explico: após listar 20 características do perfil do que seria um bom professor, a formulação dos Referenciais para a Elaboração da Matriz de Referência do Exame, enumera uma infinidade absurda de temas gerais e específicos cujo domínio, sobretudo no que se refere aos temas específicos, exigiria que um pedagogo, por exemplo, fosse, além de um excepcional especialista em educação, um exímio especialista em letras, em matemática, em ciências naturais e sociais.

 

Quer dizer,o documento-base, não apresenta nenhuma forma de avaliação que contemple os elementos listados no perfil, até porque a detectação destes elementos exigiria atenta observação da prática docente, etapa não prevista na avaliação. E o resultado é uma ista genérica e infindável de competências em diversas áreas, perdendo a essência daquilo que um educador, para este nível de ensino, deve efetivamente dominar. Daí que esta imprecisão e o arroubo discursivo chegam a ser desalentadores.

 

Afinal, o que quer dizer, por exemplo “reconhecer as concepções com ênfase na linguagem oral e sua relação com a linguagem escrita” ? E o que está querendo que se saiba quando é dito:”compreender metodologicamente os motivos que levam aos erros dos alunos; ou “reconhecer intervenções viáveis para ajudar os alunos a superar os erros, considerando as habilidades alcançadas e a alcançar.”?

 

E isto, para ficar naquilo que é da área da pedagogia. Resumindo, por que não definir, com precisão, os conteúdos relevantes e sair deste pedagogismo genérico, confuso e absolutamente imprudente, se estamos pretendendo fazer uma avaliação?

 

Admiro o esforço do MEC e do INEP, mas, por favor, sejamos objetivos, claros e, sobretudo, que se saiba quem está sendo avaliado: se é um excepcional especialista de tudo (e aí não se é especialista de nada!) ou um especialista nas áreas iniciais do ensino, tal como declarado no início do documento.

 

E não salva dizer que essa “lista de temas centrais – e seus tópicos – foi elaborada com base em critérios do que seria um bom professor, apontados pela experiência internacional. Os critérios são comuns a diversos sistemas educacionais com bons resultados e que definiram nacionalmente parâmetros para a docência, tais como: Austrália, Canadá, Cingapura, Chile, Cuba, Estados Unidos e Inglaterra.” Nestes países a objetividade é uma marca que precisamos também importar, seja de onde for! E se importaram os critérios, esqueceram de importar a precisão para a definição dos referenciais.

E não pensem que acho ruim esta iniciativa do MEC/INEP. É exatamente porque a louvo que me dispus a fazer estes comentários.

 

OBS.

a consulta pública se estende até o dia 3 de julho próximo e a participação é aberta a todos.

acesso ao documento de consulta pública: aqui

Redação

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