A Fundação Dorina Nowill para Cegos não nos representa!

 
Enviado por Lucia Maria

Do Movimento Cidade para Todos

O Movimento Cidade para Todos, formado por pessoas cegas e com baixa visão em todo o país, vem a público manifestar seu total repúdio à campanha intitulada “Ilumine o futuro de milhares de pessoas com deficiência visual”.

Com um choroso e lamentável vídeo apresentado pela atriz Nicette Bruno, a Fundação Dorina Nowill para Cegos pede doações no valor de 1 real para “ajudar as milhares de pessoas cegas por todo o país que vivem uma vida triste e solitária”, mais uma vez estigmatizando as pessoas com deficiência visual como incapazes e dignas de pena, de maneira cruel e absolutamente inadmissível. 

Em um país em que a Convenção Internacional da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência tem força constitucional; em um país cuja árdua e diária luta destas pessoas vem apresentando cada vez mais resultados, ainda que vagarosamente, entidades assistencialistas como a Fundação Dorina representam cada vez mais o retrocesso e o entrave à inclusão (e inclusão, para quem ainda não sabe, nada tem a ver com caridade, já que refere-se única e exclusivamente à garantia de direitos). 

Infelizmente, a força desta Fundação vem da estereotipada e preconceituosa imagem social que se tem das pessoas cegas somada ao histórico poder dado a ela pelos governos que, assim, lavam as mãos de sua obrigação de implementar políticas públicas de inclusão, garantindo a elas igualdade no acesso à educação, ao trabalho, à saúde e ao lazer.

Isso significaria, neste caso e entre outras medidas, a regulamentação da lei que obriga as editoras a produzirem seus livros em formatos digitais acessíveis, a implementação de impressoras braile por todo o país e a disponibilização dos serviços de reabilitação e mobilidade para cegos em hospitais públicos, acabando de vez com os monopólios exercidos por esta e outras instituições que recebem gordas verbas governamentais e doações de empresas para atuarem como verdadeiros “gatos”, únicos intermediários entre as pessoas cegas e os produtos e serviços de que necessitam.

Vale ressaltar que Dorina Nowill foi uma extraordinária mulher de seu tempo, um tempo em que não existiam direitos nem tecnologia e a caridade era a única alternativa possível às pessoas com deficiência visual. Seu nome, infelizmente, continua sendo usado hipócrita e descaradamente na tentativa de promover objetivos e valores que já não existem há muito tempo.

Lembramos ainda que, coincidentemente, esta revoltante campanha pedindo doações de 1 real para os pobres e desvalidos ceguinhos brasileiros vem no momento em que esta Fundação alega atravessar mais uma de suas graves e inexplicáveis crises financeiras. Quem sabe o Ministério Público não possa explicá-la?

Já que jamais irão retirar-se e, com isso, dar aos cegos o mínimo da dignidade que merecem, ao menos retirem de circulação esta desrespeitosa e absolutamente vergonhosa campanha, senhores. Nem ela, nem nada do que fazem em nosso nome nesta Fundação nos representa. 

 

Redação

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  1. Ressaltando do

    Ressaltando do texto:

    “Lembramos ainda que, coincidentemente, esta revoltante campanha pedindo doações de 1 real para os pobres e desvalidos ceguinhos brasileiros vem no momento em que esta Fundação alega atravessar mais uma de suas graves e inexplicáveis crises financeiras. Quem sabe o Ministério Público não possa explicá-la?”

  2. Nunca confiei nessas campanhas
    Essa atividade torna socialites detentoras dos direitos aos quais o Estado tem o dever.
    Toda essa filantropia, que acaba caindo na midia, uma hora vira pura hipocrisia.
    Acredito que fora da caridade não há salvação. Mas isso é da pessoa, pelo voluntarismo, cooperação, solidariedade e não deve, ou não deveria ser administra como empresas. Trocaria facilmente todas essas caridades comi$$ionadas e por consequência, fraude, por execução das leis e garantias dos direitos pelo Estado

  3. Exposição de caso a imprensa

    Sou Paulo Tadeu, 54 anos com deficiencia visual do tipo subnormal e estou relatando o meu caso a imprensa, devido ao esgotamento de qualquer opção.

     

    Prezados colegas

    Não vejo  mais perspectivas de futuro, e, chegou a tal ponto que na universidade fala que eu devo ir para a pesquisa, e, algumas empresas mais acessíveis também, mas só que essa posição no Brasil não existe. O que fazer? Não sei mais…

    Saudações,

                 Paulo Tadeu Oliveirqa

    Caros editores
    Sou Paulo Tadeu Oliveira, 53 anos, pessoa com deficiência visual do tipo baixo visão proveniente de toxoplasmose congênita desde o nascimento. Possuo bacharelado em Estatística (1990-1997), mestrado em Estatística (1998-2001) e doutorado em Estatística (2002-2008), obtidos no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, com pós-doutorado no uso da Estatística em Aplicações de Tecnologia Nuclear, pelo IPEN-CNEN/SP (2008-2011).
    Para um melhor conhecimento da minha situação, atualmente executo por minha conta, sem remuneração, a investigação das diferentes deficiências em função de conjuntos de variáveis, como as relacionadas a educação, trabalho e condições de moradia, entre outras. Comecei a trabalhar nesse tema a partir de julho de 2012. Os resultados têm sido por mim apresentados em congressos internacionais: 59WSC, realizado em Hong Kong (China), em 2013; XXVII IBC, realizado em Florence (Itália), em 2014; e ICOTS,realizado em Flagstaff (EUA), em 2014. E Também em congressos nacionais: XIII EMR, realizado em Maresias (SP); I SIED realizado em São Paulo (SP); 58 RBRAS/15 SEAGRO, realizado em Campina Grande (PB); e IV ESAMP, realizado em Brasília (DF) – todos esses em 2013. No ano de 2014 participei do 59 RBRAS,realizado em Ouro Preto, e XX SINAPE, realizado em Natal (RN). Minha participação em congressos internacionais tem sido possível graças ao financiamento de ongs ligadas ao terceiro setor, IBC e CAPES. Nos congressos internacionais tenho participado com financiamento através da FAPESP.
    Em 2015 tenho um trabalho aceito para o congresso XIV EMR, a ser realizado em Campinas (SP), em que participarei com financiamento FAPESP.
    Como resultado desse trabalho sobre as diferentes deficiências, tenho três publicações, uma internacional e duas nacionais, conforme pode ser observado no link do meu currículo Lattes que pode ser acessado emhttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4708818U5, onde constam também todas as outras publicações que possuo.
     Mesmo com as qualificações apresentadas acima, venho por meio desta relatar problemas que andam ocorrendo quando tento ser contratado para trabalho na área de Estatística, a saber:
    i) Empresas: o meu currículo vitae é considerado com experiências muito específica, idade elevada (acima de 50 anos) e sem qualquer experiência na área privada ou corporativa. Nos poucos casos em que fui entrevistado, me aconselharam procurar um trabalho como pesquisador.
    ii) Concursos: considerando os grandes concursos como IBGE, Fiscal do Ministério da Fazenda, entre outros, ocorrem vários problemas, a começar pelas interpretações da lei de cotas para pessoas com deficiência. Isto prejudica, e muito, os deficientes que alcançaram um nível maior de instrução. Essas interpretações oferecem condições para que as autarquias públicas organizadoras desses certames tenham autonomia para decidir se determinado cargo pode ou não ser preenchido por pessoa com deficiência, a exemplo do que ocorre na Petrobrás, em que um deficiente com bacharelado em Estatística não é aceito. E se puder ser aceito, como no IBGE,o gasto com autenticação de documento por documento, de todo o currículo, acaba resultando em uma fortuna para fazer a inscrição, tornando praticamente impossível a participação no concurso, como tem sido o meu caso. E assim, por diante.
    Outro problema diz respeito a concursos para docentes em universidades, em que a grande maioria das bancas alegam que, no meu caso, eu deveria ser pesquisador, cargo esse que não existe no Brasil.
    iii) Negócio próprio: para mim também parece inviável, por estar afastado da área corporativa por mais de 17 anos.
    iv) pós-doutoramento (posdoc): no meu modo de ver seria o ideal, muito embora existam pessoas (alguns professores) que são contra, por considerarem que posdoc não é emprego. Dizem que eu deveria procurar uma empresa, o que no meu caso tornou-se impossível, pois o meu perfil, por mais que trabalhe nele não o torna receptivo a qualquer empresa existente no mercado.
    Resumindo, existe um pequeno grupo de pessoas (alguns professores e executivos de empresas) que acreditam que eu deveria continuar procurando empresa, mas isto é impossível porque perfil como o meu não é interessante às empresas. Por outro lado, bancas de concurso para docente, empresas em que fui entrevistado e alguns professores acham que eu deveria procurar um cargo de pesquisador. Embora esta, no meu modo de ver, seja a melhor solução,  esse cargo não existe no Brasil.
    O que relatei acima é um testemunho da impossibilidade de trabalho e subsistência da pessoa deficiente que consegue maior qualificação, visto que não existe vaga como pesquisador no Brasil e que pelas empresas sou automaticamente recusado.
    Saudações,
                 Paulo Tadeu Meira e Silva de Oliveira

  4. Falar menos, entender mais

    Gostaria de dizer que, antes de se escrever tais assuntos, seria de grande valia procurar saber mais sobre os fatos. O primordial é que a Fundação Dorina Nowill não recebe absolutamente nada de entidades governamentais, ou seja, todos os serviços de REABILITAÇÃO que são oferecidos pela Fundação são mantidos através de doações de empresas e pessoas. Também ao contrário do que se diz, a Fundação Dorina Nowill não faz assistencialismo e sim reabilitação (em caso de dúvidas, consulte um dicionário!). Portanto, procure entender um pouco mais e conhecer melhor antes de falar sobre determinados assuntos.

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