Campos e Marina tentam esconder divergências

Eduardo Campos e Marina abusam do “gerundismo” para escapar de divergências

Alan Sampaio / iG Brasília

Campos e Marina oficializam aliança para as eleições presidenciais

Por Luciana Lima , iG Brasília

PSB e Rede, que divergem em pontos políticos e de programa de governo, recorreram ao gerundismo assumido para tratar a construção da aliança com o objetivo de eleger Eduardo Campos

A longa cerimônia de anúncio da chapa Eduardo Campos (PSB-PE) e Marina (PSB-AC) à presidência da República teve tons tão ecléticos quanto o repertório do pianista Artur Moreira Lima que tocou para entreter os convidados antes do início do evento. Moreira Lima variou de Luiz Gonzaga a Mozart, passando por Ernesto Nazareth e Villa Lobos. Campos e Marina se esforçaram para fazer críticas ao que chamaram de “velha política” e para responder sobre as divergências ainda existentes na chamada “aliança programática”, firmada entre o PSB e a Rede com vista às eleições presidenciais deste ano.

As divergências ocorrem tanto no campo político, na formação de alianças nos estados, quanto na elaboração do programa de governo. Durante todo evento, Campos e Marina defenderam a ideia de que há um esforço mútuo para que os conflitos não impeçam PSB e Rede, que ainda não é formalizada como partido, de caminharem juntos.

Para se esquivar da cobrança por definições, Campos e Marina usaram e abusaram do “gerundismo”. “O ser humano está condenado ao gerúndio, Graças a Deus”, assumiu Marina. “Nesses seis meses, fomos nos conhecendo, fomos nos encontrando”, disse Marina ao ser anunciada como vice na chapa encabeçada por Campos.

Eduardo Campos evitou falar sobre as divergências no campo político, principalmente em estados como Minas e São Paulo, onde Marina exige que o partido tenha candidatura própria, mas integrantes do PSB desses estados preferem segui no apoio a outros candidatos para os governos locais.

Há duas semanas, o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), principal liderança do partido em Minas Gerais, desistiu de ser candidato ao governo local. Já em São Paulo, o impasse está entre a defesa da candidatura própria e a vontade de parte do PSB local de seguir no apoio à candidatura reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

“Vamos seguir discutindo a questão dos estados”, disse Campos também assumindo o “gerundismo” proposto por Marina. “Temos aliança fechada em torno de uns 15 estados, onde estas questões foram resolvidas. Temos até junho para resolver outras. Algumas questões vão ter caminho comum com PSB, Rede, PPS e PPL. Outros não terão. Nós vamos respeitar a posição de cada um dos partidos. Nós temos muita sinergia”, disse Campos.

“Em outros partidos nunca houve isso. Não sei por que ficam cobrando que a gente possa conseguir”, reclamou.

O deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ) também não fez segredo da falta de unidade entre PSB e Rede tanto na questão política, quanto nas propostas. Mas disse não temer o conflito. “Tenho menos medo da aliança programática que da aliança pragmática”, enfatizou. “Acho que a dinâmica da campanha vai contribuir para que haja alguma unidade até as eleições”, ponderou o deputado.

Além da questão política, as divergências permanecem no programa de governo. A questão energética é um ponto de antagonismo. Tanto é que, no fim de semana que antecedeu o encontro, lideranças do PSB e da Rede decidiram que farão ainda neste mês um seminário para decidir essa questão. “Nós decidimos ontem, o seminário vai ser até o final deste mês. Estamos mobilizando gente que está preocupada com esta situação.”, disse Campos.

“A rede e o PSB fizeram um esforço para fazer um programa que vai orientar a nossa campanha e o futuro governo”, disse Marina. “Essa foi a mediação e consenso progressivo entre Rede e o PSB, além do PPS e, agora, o PPL”, destacou Marina.

A responsável pela construção do programa de governo, Neka Setúbal, também foi na mesma linha. “É uma questão central. Vamos conversar sobre isso neste seminário”, disse Neka, que, como Marina, restringe as opções de matrizes de “energia limpa”, como eólica, solar e a partir de biomassa.

Já no PSB, a questão da energia nuclear sempre foi vista com entusiasmo, inclusive por Eduardo Campos, que abriu mão da defesa deste ponto para compor com Marina.

O anúncio da chapa ocorreu seis meses após a decisão de PSB e Rede de formarem a chapa.

 

 

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